Os vencedores do Oscar 2021

Com os prêmios de filme, direção e atriz, Nomadland foi o grande vencedor do Oscar 2021.

Contrariando a opinião geral das redes sociais e da imprensa especializada, tenho para mim que a cerimônia do Oscar 2021 foi uma das melhores desde que comecei a acompanhar a premiação. Logo de cara, o produtor Steven Soderbergh, ao lado de Jesse Collins e Stacey Sher, conseguiu reverter algo que me incomoda profundamente há anos: fazendo jus ao título do seu último filme, Let Them All Talk, ele pensou uma cerimônia onde os infinitos clipes com trechos de filmes e os intermináveis monólogos de incontáveis apresentadores ficaram em segundo plano para dar protagonismo ao discurso dos vencedores, que puderam falar por quanto tempo quiseram, rendendo momentos comoventes, como o de Thomas Vinterberg ao receber o prêmio de melhor filme internacional (bastante comovido, o diretor dinamarquês homenageou a filha adolescente que faleceu durante as filmagens do longa). A majestosa entrada de Regina King percorrendo os corredores do Union Station para chegar até ao palco e apresentar o primeiro prêmio da noite também seguiu a linha de valorizar quem faz o Oscar ser Oscar.

É importante lembrar que a criticada decisão de apresentar as categorias de melhor ator e melhor atriz depois de melhor filme não é invenção do Oscar 2021. Na realidade, essa foi uma tradição da Academia durante muitos anos. O que mais gosto nessa decisão é o fato dos produtores terem entendido que as categorias de melhor atriz e ator se eram as mais aguardadas dessa edição, independentemente do resultado, superando inclusive melhor filme, que, convenhamos, sabíamos que seria entregue com muito mérito a Nomadland, de Chloé Zhao, também vencedora do prêmio de melhor direção (outro prêmio anunciado mais cedo, corroborando a intenção de preservar os melhores suspenses para o final). É bastante provável que, predominantemente verbalizada e sem chamariscos de números musicais, a audiência da cerimônia tenha caído drasticamente assim como a de todas as outras temporadas da premiação, o que nos leva a seguinte pergunta: quem é o público do Oscar e para quem ele deve ser feito? Não creio que seja destinado a quem está zapeando na TV e sintoniza para assistir apenas porque o Eminem está cantando. Dito isso, ter dado espaço absoluto para os vencedores faz mais uma vez sentido.

Mais do que isso, as críticas à decisão de colocar as categorias de melhor ator e atriz para o final é uma plena injustiça com duas das melhores surpresas da cerimônia (e que orgulhosamente já estavam previstas nas minhas apostas). Anthony Hopkins é um colosso em Meu Pai, e sua vitória carrega não apenas o reconhecimento a um dos melhores atores de língua inglesa (e em franca atividade, vale lembrar, depois de outra indicação no ano passado por Dois Papas), mas também a coroação de uma das melhores interpretações masculinas a ganhar o Oscar de melhor ator nas últimas décadas. Chadwick Boseman teve o desempenho de sua carreira em A Voz Suprema do Blues, porém, considerando a competição, seu prêmio seria muito mais uma homenagem do que uma celebração ao desempenho em si. Enquanto isso, apesar da imprevisibilidade da categoria, parecia um tanto quanto inconcebível Frances McDormand perder como melhor atriz. Ela é o coração e a protagonista absoluta de Nomadland, além de trabalhar nuances e delicadezas que não lhe são oferecidas com tanta frequência. Vitória mais do que incontestável depois de uma equivocada celebração por Três Anúncios Para Um Crime.

Para encerrar, minha felicidade foi equivalente entre as categorias técnicas, onde discordei somente das surpresas de melhor fotografia (o preto-e-branco de Mank é muito bonito, mas o trabalho desse segmento é fundamental para a imersão de Nomadland), já que a vitória de Judas e o Messias Negro em canção original foi de bom gosto (era, de fato, a melhor na categoria) e que a consagração de O Som do Silêncio em melhor montagem revela uma Academia muito mais refinada no que diz respeito à categoria depois de vitórias bizarras ou óbvias como a de Bohemian Rhapsody e Ford vs. Ferrari. Claro que faria ajustes aqui e ali (a trilha de Minari me encanta muito mais do que a de Soul), mas, no geral, a cerimônia foi justa e equilibrada, sem parecer que os votantes quiseram optaram por uma distribuição para fazer média. Gostos pela cerimônia à parte, tenho certeza que o Oscar 2021, quando avaliado daqui alguns anos (se não já agora), será lembrado justamente por isso: pela sua coerência e pela coragem ao fazer escolhas pontualmente autênticas, sendo coerente com o que a vitória de Parasita sinalizou ano passado, e não com as lembranças indigestas de Green Book sendo escolhido o melhor filme dois anos após Moonlight: Sob a Luz do Luar.

Confira abaixo a lista de vencedores:

MELHOR FILME: Nomadland
MELHOR DIREÇÃO: Chloé Zhao (Nomadland)
MELHOR ATRIZ: Frances McDormand (Nomadland)
MELHOR ATOR: Anthony Hopkins (Meu Pai)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Yuh-jung Youn (Minari)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Daniel Kaluuya (Judas e o Messias Negro)
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Emerald Fennell (Bela Vingança)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Christopher Hampton e Florian Zeller (Meu Pai)
MELHOR FILME INTERNACIONAL: Druk: Mais Uma Rodada (Dinamarca)
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Professor Polvo
MELHOR ANIMAÇÃO: Soul
MELHOR TRILHA SONORA: Jon Batiste, Trent Reznor e Atticus Ross (Soul)
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL: D’Mile, H.E.R. e Tiara Thomas, por “Fight for You” (Judas e o Messias Negro)
MELHOR MONTAGEM: E.G. Nielsen (O Som do Silêncio)
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Donald Graham Burt (Mank)
MELHOR FOTOGRAFIA: Erik Messerschmidt (Mank)
MELHOR FIGURINO: Ann Roth (A Voz Suprema do Blues)
MELHOR SOM: Carlos Cortés, Jaime Baksht, Michelle Couttolenc, Nicolas Becker e Phillip Bladh (O Som do Silêncio)
MELHOR MAQUIAGEM & PENTEADOS: Jamika Wilson, Mia Neal e Sergio Lopez-Rivera (A Voz Suprema do Blues)
MELHORES EFEITOS VISUAIS: Andrew Jackson, Andrew Lockley, David Lee e Scott R. Fisher (Tenet)
MELHOR CURTA-METRAGEM: Dois Estranhos
MELHOR CURTA-METRAGEM (DOCUMENTÁRIO): Colette
MELHOR CURTA-METRAGEM (ANIMAÇÃO): Se Algo Acontecer… Te Amo

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