Do you feel held by him? Does he feel like home to you?
Direção: Ari Aster
Roteiro: Ari Aster
Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, Vilhelm Blomgren, William Jackson Harper, Will Poulter, Ellora Torchia, Archie Madekwe, Henrik Norlén, Gunnel Fred, Isabelle Grill, Julia Ragnarsson
Midsommar, EUA/Suécia, 2019, Terror/Drama, 137 minutos
Sinopse: Após vivenciar uma tragédia pessoal, Dani (Florence Pugh) vai com o namorado Christian (Jack Reynor) e um grupo de amigos até a Suécia para participar de um festival local de verão. Mas, ao invés das férias tranquilas com a qual todos sonhavam, o grupo vai se deparar com rituais bizarros de uma adoração pagã. (Adoro Cinema)
Se há uma vertente do terror que reagrupou força e relevância nos últimos anos, essa foi a que investiga o ser humano em seus sentimentos mais nebulosos, sofridos e atordoantes. De natureza antropológica e nada comercial, A Bruxa, por exemplo, mostrou as fraquezas morais, religiosas e sociais de uma família que, entre outras coisas, não sabe sequer lidar com o crescimento de uma filha que já começa a amadurecer e a entrar na vida adulta. Já aqui no Brasil, produções maravilhosas como O Animal Cordial, As Boas Maneiras e Mormaço lançaram um olhar muito crítico para as profundas feridas de um país ainda assolado pelo preconceito, pela intolerância e pela desigualdade. E também existe Ari Aster que, nos Estados Unidos, exorcizou os dramas de uma família em profundo luto com o cultuado Hereditário e que agora é mais uma vez aclamado com Midsommar: O Mal Não Espera à Noite, onde encena a deterioração de um relacionamento amoroso marcado pelo individualismo, pela incomunicabilidade e pela falta de empatia.
Individualismo, incomunicabilidade e falta de comunicação são definições até generosas para o que Christian (Jack Reynor) faz com Dani (Florence Pugh). Forçando-se a cuidar da namorada que não ama mais apenas por pena ou por não conseguir terminar com ela, Christian ilude emocionalmente uma garota marcada por uma recente tragédia familiar. Sem saber dispensar a namorada, Christian convida Dani para uma viagem que ele faria com seus amigos homens para a Suécia, o que desperta uma imediata frustração no grupo que já esquematizava a frequência com que fariam sexo em terras estrangeiras. Chegando na Suécia, eles ficam hospedados em uma pequena comunidade que vive um festival de verão muito particular, onde todos são convidados a testemunhar e até mesmo participar de determinados rituais. E isso é tudo o que você precisa saber sobre a tônica de Midsommar, que passa a colocar as suas cartas na mesa a partir daí. Antes disso, Ari Aster claramente bebia da fonte do que Hereditário tinha de melhor: o luto como matéria-prima para o desatino mental e para sentimentos desencontrados que despertam a imprevisibilidade nas ações humanas.
Vale lembrar que Aster despontou como uma verdadeira promessa ao lançar Hereditário. Ainda que irregular (e até um tanto desonesto) ao jogar fora a promessa de um terror psicológico para sucumbir a várias explicações e vícios tão comuns do gênero, o diretor mostrava grande personalidade atrás das câmeras. Tecendo comparações entre um filme e outro, Midsommar tem mais unidade do que Hereditário, sem grandes incompatibilidades narrativas ou estéticas. Por outro lado, Hereditário tinha potência quando acertava, algo que não podemos afirmar sobre Midsommar. Longa demais, a trama carece de de atmosfera. Pessoas e rituais estranhos existem aos montes (e a decisão de tentar criar tensão em um ambiente idílico, ensolarado e florido é interessante), mas fazer personagens sumirem aqui ou ali por motivos misteriosos não é necessariamente sinônimo de tensão. Tampouco instiga os desdobramentos que Aster, também autor do roteiro, faz das peculiaridades daquela comunidade: no máximo, ele desperta estranhamento quando registra um ritual que coloca em xeque os valores pré-concebidos que temos sobre suicídio e o fim da vida (e também sobre como somos intolerantes a culturas diferentes das nossas).
Entre a apatia do terror e a fragilidade das discussões dramáticas diante disso, Midsommar não é superlativo em nenhuma abordagem. Há um ponto digno de nota: o clímax, que mistura orgasmo, destruição e violência como uma recompensa direta da tomada de consciência de uma personagem que, diante do estranho, passa a se (re)conhecer. É nesse momento que o filme encorpa a vitalidade que lhe faltava até ali e que existia de sobra na primeira metade de Hereditário. Contudo, a frustração maior é mesmo a oportunidade perdida de fazer terror com as nossas angústias e com as nossas fraquezas mais íntimas. Outro ponto fraco que contribui para tal percepção é a irregularidade do elenco, que varia entre momentos bons (a maior parte deles entregues a Florence Pugh) e inexpressivos, para não dizer perfeitamente dispensáveis (Will Poulter, como o homem mais desprezível do grupo de amigos, é a perfeita representação do personagem que deveria ter sido eliminado no primeiro tratamento de roteiro). Portanto, quando é impossível se importar com os personagens, não há mesmo escapatória: sem atmosfera, empatia, ritmo ou até mesmo Toni Collette, Midsommar fica à deriva, sem jamais cumprir as expectativas criadas tanto pela ascensão recente Ari Aster quanto por tudo aquilo que o filme, em vão, tenta sinalizar.
Pingback: “Men: Faces do Medo” tem pouco a dizer sobre a estrutura opressora do machismo | Cinema e Argumento
Pingback: Festival de Sundance 2022: “Resurrection”, de Andrew Semans | Cinema e Argumento
Pingback: “Adoráveis Mulheres”, uma refilmagem capaz de reverenciar e oxigenar o material de origem na mesma medida | Cinema e Argumento
Meu….
Nao tem como escrever de outro modo.
Essa é com toda certeza, a critica mais merda que ja li na minha vida.
Não assisti a “Midsommar” e nem pretendo! rsrsrs