Cinema e Argumento

O som das trilhas

É APENAS O FIM DO MUNDO, por Gabriel Yared: Conhecido pela compilação de músicas  para seus filmes (Mommy era irresistível com uma coletânea que ia de Beck a Lana Del Rey, passando por Vivaldi, Andrea Bocelli e Simple Plan), o diretor Xavier Dolan preferiu seguir um caminho diferente em É Apenas o Fim do Mundo: dessa vez, a atmosfera musical fica muito mais a cargo de uma trilha instrumental do que de canções selecionadas especialmente para o filme. Quem recebe a missão é o experiente compositor libanês Gabriel Yared (O Talentoso RipleyA Vida dos OutrosCold Mountain), que entrega, como de costume, um trabalho elegante e funcional. Por outro lado, curiosamente, Yared procura o minimalismo musical em uma história quase sempre contada de forma hiperbólica pela direção e pelas atuações. Não deixe de ouvirAprès Toutes Ces Années-làLouis et Catherine e Louis et Antoine.
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ELLE, por Anne Dudley: Reflexo de uma deficiência que atinge o cinema como um todo, a ausência de mulheres na assinatura de trilhas sonoras é realmente lamentável. Entretanto, se dermos um pulinho na Europa, de vez em quando encontramos talentos como Anne Dudley, que já acumula mais de 20 trilhas no currículo e que recentemente apresentou um de seus momentos mais marcantes no excelente Elle. Com 17 faixas que exploram basicamente diferentes variações de instrumentos de corda, Dudley cria uma perfeita atmosfera de thriller, transitando entre a discrição e o alto som do suspense. É um resultado envolvente para um gênero que não costuma ser muito criativo nesse quesito e que aqui ganha excelente roupagem em mãos femininas. Não deixe de ouvirMain TitlesPrimal ScreamIt Was Necessary.
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FEUD: BETTE AND JOAN, por Mac Quayle: Frequente colaborador de Ryan Murphy em programas como American Horror Story e The People v. O.J. Simpson: American Crime Story, Mac Quayle volta a unir forças com o realizador na antologia Feud: Bette and Joan. Em 2016, Quayle levou o Emmy pela inventiva trilha da primeira temporada de Mr. Robot e é uma pena que não tenha levado este ano uma segunda estatueta por Feud. De melodias marcantes que contemplam tanto a era de ouro de Hollywood como o próprio drama pessoal de duas atrizes do calibre Bette Davis e Joan Crawford, a trilha de Feud é uma pérola por homenagear um período marcante da indústria hollywoodiana sem cair no comodismo da mera reprodução de estilo. Não deixem de ouvirThis Awful Silence, Feud: Bette and Joan (Main Titles) e Feud: Bette and Joan (Epilogue).
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FRAGMENTADO, por West Dylan Thordson: O desafio parecia impossível – não sentir falta de James Newton Howard, compositor que permaneceu firme e forte com o cineasta indiano M. Night Shyamalan mesmo nos tempos difíceis de A Dama na ÁguaO Último Mestre do ArDepois da Terra -, mas West Dylan Thordson, em seu primeiro grande momento no cinema, compensou a ausência. Elemento fundamental para a inegável tensão de Fragmentado, longa que pontua a recuperação de Shyamalan após uma sucessão de desastres, a trilha sonora idealizada por Thordson tem um ritmo invejável, além de uma personalidade marcante, alcançando o feito de nos remontar aos primeiros filmes do diretor, onde a música exercia pleno destaque na construção do suspense. Não deixe de ouvirA Way OutI Know You Want to Tell Me SomethingRejoice.
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JACKIE, por Mica Levi: Pode até ser que minha relação com Jackie seja extremamente problemática, mas não reconhecer a excelência da parte técnica é realmente coisa de maluco. E a trilha sonora de Mica Levi – ou simplesmente Micachu – imediatamente se destaca como um dos elementos que mais contribuem para a narrativa proposta pelo chileno Pablo Larraín em parceria  com o roteirista Noah Oppenheim. Anteriormente festejada pela crítica por seu trabalho em Sob a Pele, Mica ignora caminhos fáceis para criar uma trilha sonora devidamente atípica e incômoda, o que vai diretamente ao encontro da complicada situação vivida pela protagonista. É um álbum relativamente curto, mas que carrega uma qualidade rara: a de ser sempre imprevisível. Não deixe de ouvir: ChildrenVanityBurial.
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LION: UMA JORNADA PARA CASA, por Dustin O’Halloran & Hauschka: Se Lion frequentemente escorrega no melodrama, o mesmo não pode ser dito sobre a trilha sonora. Na verdade, é até tocante e admirável como a dupla Dustin O’Halloran e Hauschka traduz e complementa todo o drama verídico em que o longa é baseado. Segura, a trilha acerta mesmo no constante uso do piano, escolha que costuma simplificar as emoções de histórias motivacionais como a contada no filme de Garth Davis. Nada no conjunto musical de Lion resulta genérico ou enjoativo, muito pelo contrário: você não estará sozinho se perceber que a trilha terminou em um piscar de olhos e que, aqui ou ali, a emoção bateu. De quebra, ainda tem Sia com a ótima Never Give Up, escrita especialmente para o longa. Não deixe de ouvirLion Theme, TrainLayers Expanding Time.
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MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR, por Nicholas Britell: Moonlight é um filme incompleto em função de um terceiro ato altamente frustrante, mas o mesmo não pode ser dito da trilha sonora de Nicholas Britell, que exerce um efeito hipnotizante do início ao fim. Isso acontece porque Britell compreende perfeitamente o poder dos instrumentos tanto para faixas inegavelmente ambiciosas quanto para melodias que surgem cortantes não pela imponência, mas pela extrema delicadeza. Existe uma unidade muito sólida aqui, onde muitas das faixas se parecem, mas jamais soam redundantes ou repetitivas. É trilha de gente grande porque se dedica a construir um arco também através da música, como se ela tivesse o seu próprio ciclo. Não deixe de ouvir: Little’s ThemeThe Middle of the World The Culmination.
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THE LEFTOVERS (SEASONS 2 & 3), por Max Richter: Mais do que um grande drama, The Leftovers entra para a história como uma das séries mais transgressoras e afiadas, o que certamente se estende ao trabalho técnico. E Max Richter, que sempre foi grande compositor (é dele a dolorosa composição On the Nature of Daylight, que abre e encerra A Chegada), embarcou no alto nível do programa criado por Damon Lindelof e Tom Perrotta. Enquanto a primeira temporada serviu como terreno para a criação de temas que pontuariam personagens e situações, os dois anos seguintes exploraram, com criatividade, emoção e sensibilidade, as variações dos temas criados lá no início da série. É o caso raríssimo de uma trilha que esmiúça, em cada composição, o poder potente dessa ferramenta em uma narrativa seriada. Simplesmente inesquecível. Não deixe de ouvirThe Quality of MercyAnd Know the Place for the First TimeThat Solitary Moment Together.
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THE YOUNG POPE, por Lele Marchitelli: É inacreditável como todas as premiações conseguiram ignorar The Young Pope, facilmente uma das melhores séries exibidas nos últimos anos. Era obrigação do Emmy deveria ter dado, ao menos, uma enxurrada de indicações para a embasbacante parte técnica, que, sem dúvida, inclui a excelente trilha sonora assinada por Lele Marchitelli. Fugindo do óbvio ao ignorar as esperadas melodias religiosas, as criações musicais de The Young Pope marcam pela sutileza e pela total atenção aos personagens, apostando muito mais em traduzir universos particulares do que na grandiosidade de uma história passada no imponente mundo católico do Vaticano. Fora isso, o álbum traz ainda uma empolgante coletânea com músicas mundialmente famosas mas que aqui ganham novos tons ou sentidos, como I’m Sexy and I Know It, do grupo LMFAO, e Halo, da Beyoncé. Não deixe de ouvirCardinalsDussolierSister Mary.

10 razões para amar o World Soundtrack Awards (ou a lucidez admirável de um prêmio)

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Desbancando um blockbuster da dimensão de Star Wars: O Despertar da Força, Carol foi a melhor trilha sonora pelo voto popular no World Soundtrack Awards. Carter Burwell ainda foi eleito o compositor do ano.

Não é segredo para ninguém que o BAFTA sempre foi a minha premiação favorita por uma série de razões que inclusive elenquei na parte 1 e na parte 2 dos posts que fiz aqui no blog sobre o prêmio outorgado pelos britânicos. Não escondo, por outro lado, a minha frustração de vê-los tão sem autenticidade de uns anos para cá em suas escolhas dos melhores do cinema. Claro que premiações têm seus altos e baixos, mas é bem provável que hoje, depois de investigar um pouco a história do World Soundtrack Awards, o BAFTA venha a perder o seu lugar prioritário no meu coração. Fora o histórico, o que impulsionou minha paixão à primeira vista por esse prêmio dedicado à celebração de trilhas sonoras para o cinema foi ele ter reparado, na cerimônia realizada na última quarta-feira (19), uma das maiores injustiças da temporada de premiações desse ano: a infinidade de prêmios para Ennio Morricone por Os Oito Odiados.

Digo e repito: óbvio que tenho o maior respeito e admiração por Morricone, mas os troféus que ele levou para casa pelo filme de Quentin Tarantino foram por sua carreira e não pelo trabalho específico na obra. Sempre me chateio com prêmios assim, especialmente quando outros concorrentes são significativamente superiores. E, na varredura de vitórias feita pelo compositor italiano, o grande injustiçado foi Carter Burwell por seu trabalho espetacular em Carol. Entretanto, o World Soundtrack Awards fez justiça ao excelente momento da carreira de Burwell ao lhe conceder o prêmio de compositor do ano pelo júri oficial e pelo voto popular, desbancando nomes como Thomas Newman (outro eterno injustiçado), Daniel Pemberton (que faz um trabalho revelador e subestimado em Steve Jobs), John Williams e o próprio Morricone. Burwell ainda faturou a categoria de composição do ano (“None of Them Are You”, para Anomalisa), o que também corrige outro grande equívoco desse ano: os prêmios de canção recebidos por Sam Smith, por “Writing’s on the Wall”, para 007 Contra Spectre. Não deixe de conferir no site oficial da premiação a lista completa de vencedores.

A consagração tripla para o compositor vem no momento certo, já que Carol é o auge de sua carreira cada vez mais prolífera (lembrando que prêmio de compositor do ano também é por filmes como Ave, César! Anomalisa). No filme de Todd Haynes, Burwell dá uma verdadeira aula sobre como uma trilha sonora deve ser narrativa para uma história, entregando ainda um tema inesquecível para o romance de Carol Aird (Cate Blanchett) e Therese Belivet (Rooney Mara). Em um mundo coerente, não haveria nem discussão sobre Carol ter a melhor trilha da temporada – e talvez até do ano (abaixo compartilho um vídeo sobre a criação de Burwell para a parte musical do filme). Mas não é de hoje que o compositor já dá sinais de excelência: vale bisbilhotar o que ele realizou para a minissérie Mildred Pierce, estrelada por Kate Winslet em 2011, cujo resultado é muito semelhante com o de Carol. Contudo, a excelência de Burwell não se restringe aos dramas de época, uma vez que também vale a busca por algumas de suas trilhas mais ecléticas e desafiadoras, como para Adaptação, de Spike Jonze, ou Queime Depois de Ler, dos irmãos Coen. Isso mesmo, faz horas que Carter Burwell está entre nós. Pena que só agora ele está recebendo a devida (e merecida) atenção.

Tudo isso nos leva ao início do post, quando confessei que é bem provável que o World Soundtrack Awards venha a se tornar minha premiação favorita envolvendo cinema. Bem como fiz com o BAFTA, abaixo cito dez razões para justificar:

  • Enquanto o Oscar só foi reconhecer Alexandre Desplat com O Grande Hotel Budapeste, o World Soundtrack Awards já havia premiado o francês com os prêmios de trilha por O Curioso Caso de Benjamin ButtonO Fantástico Sr. Raposo, além de ter dado cinco vezes o título de compositor do ano para o francês (a primeira delas pelo lindo trabalho para A Rainha).
  • Não é sempre que júri popular acerta em premiações, mas é definitivamente o caso aqui, onde o polonês Abel Korzeniowski foi reconhecido duas vezes pelo público com suas trilhas para Direito de AmarW.E. – O Romance do Século.
  • “Come What May”, de Moulin Rouge! – Amor em Vermelho, foi eleita a melhor canção escrita para o cinema em 2001. Dispensa comentários.
  • Ainda nas canções escritas para o cinema, o World Soundtrack Awards corrigiu outro grande esquecimento: não só indicou como premiou “You Know My Name”, de Chris Cornell, para 007 – Cassino Royale.
  • Sequer indicada ao Oscar, a inesquecível e emblemática trilha de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain foi eleita a melhor do ano de 2001.
  • Indiscutivelmente o maior compositor brasileiro, Antonio Pinto recebeu o prêmio de revelação do ano por Cidade de Deus em 2003.
  • Esse foi o mesmo prêmio recebido por outros compositores de outras trilhas subestimadíssimas, como Nico Muhly (O Leitor, em 2009) e a dupla Dan Romer e Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora, em 2013).
  • É importante reconhecer o cinema comercial e de blockbuster. Por isso o prêmio de compositor do ano para Michael Giacchino (Planeta dos Macacos: O ConfrontoDivertida MenteTomorrowlandO Destino de Júpiter) em 2015 foi tão especial.
  • Nomes renomados e inexplicavelmente sem um mísero Oscar em casa já se consagraram com os prêmios de compositor ou trilha do ano, entre eles Alberto Iglesias, James Newton Howard e Thomas Newman.
  • E até quem já se consagrou no passado com trilhas clássicas mas não no presente mesmo trabalhando a todo vapor foi reconhecido por obras contemporâneas, caso do mestre Hans Zimmer com A Origem e John Williams com Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban.

O som das trilhas

nightcrawlerscoreO ABUTRE, por James Newton Howard: Repetindo parceria com a família Gilroy, James Newton Howard, que anteriormente havia trabalhado com Tony em Conduta de Risco, recentemente se juntou a Dan para fazer O Abutre. É curioso como Howard parece ter criado uma sonoridade bastante característica para os Gilroy, já que seus trabalhos nos dois filmes se assemelham bastante. Ambos, no entanto, são dotados de características próprias, e O Abutre, apesar de ser um álbum de extensa duração (são quase 30 faixas!), consegue ficar na lembrança principalmente por seu tema inventivo e que faz marcantes usos de guitarra para trazer tensão e contemporaneidade à história do problemático protagonista vivido por Jake Gyllenhaal. Não deixe de ouvirNightcrawlerIf it Bleeds, It LeadsMoving the Body.

insideoutscoreDIVERTIDA MENTE, por Michael Giacchino: Vencedor do Oscar por Up – Altas Aventuras, Michael Giacchino deve novamente voltar à corrida pela estatueta com Divertida Mente. A animação, desde já uma das mais geniais e marcantes da Pixar, tem seu embalo devidamente pontuado pelo álbum do compositor, que acompanha com perfeição toda a imaginação, a comédia, a aventura e também o drama da trama incrivelmente criativa. Com delicadeza e bom humor, a trilha de Divertida Mente está à altura do filme e, por mais que não tenha melodias necessariamente inesquecíveis como Stuff We Did, de Up, cumpre com louvour a sua missão de ser um complemento narrativo de inteligência para a animação. Não deixe de ouvirBundle of Joy, Joy Returns to Sadness/A Growing PersonalityFirst Day of School.

imitationscoreO JOGO DA IMITAÇÃO, por Alexandre Desplat: Tenha certeza: se Alexandre Desplat não tivesse faturado o Oscar 2015 por O Grande Hotel Budapeste, é bem provável que, apesar do favoritismo de A Teoria de Tudo, o francês ganhasse a estatueta por O Jogo da Imitação. E não é porque esta é a trilha de um filme que tem a cara da Academia, mas sim porque realmente o compositor está em plena forma. São 21 faixas que trazem a devida sofisticação para o clima de longa de época e a delicadeza necessária para que compreendamos os importantes dilemas internos do protagonista. Da mais recente safra de Desplat, O Jogo da Imitação está entre os melhores álbuns. Não deixe de ouvir: The Imitation Game, CrosswordsAlone With Numbers.   

leftoverscoreTHE LEFTOVERS (SEASON 1), por Max Richter: Não há qualquer exagero em dizer que Max Richter marca época na TV com a sua trilha para The Leftovers. É ambicioso o seu trabalho para este drama complexo de inúmeras passagens inesquecíveis graças à trilha sonora, que encontra o ponto certo entre grandiosidades e delicadezas. Richter, além de criar um inesquecível tema de abertura pontuado por um magnífico uso de violinos, consegue apresentar uma melodia super melancólica dividida em inúmeras variações que são sempre tocantes e nunca repetitivas (Departure é emocionante tanto em LullabyHomeReflection). Assim como a própria série, o trabalho de Richter merecia muito mais reconhecimento. Não deixe de ouvirThe Leftovers (Main Title Theme), Dona Nobis Pacem I & IIShe Remembers.

rickisoundRICKI AND THE FLASH, por Vários Artistas: Já comentei na crítica do filme e vale repetir aqui: é um absurdo que as sessões brasileiras de Ricki and the Flash não tenham legendado as canções. O filme de Jonathan Demme não é apenas uma mera coletânea de sucessos como Bad RomanceGet the Party Started ou I Still Haven’t Found What I’m Looking For. Muitas das canções têm algo a dizer sobre a história de Ricki Rendazzo (Meryl Streep), e o fato da atriz não impressionar tando vocalmente em um álbum ouvido separadamente quanto em outros como Mamma Mia!Into the Woods tem muito a ver com a própria história de sua personagem: uma mulher que tentou ser uma estrela do rock a todo custo mas que, na melhor das hipóteses, consegue animar apenas uma dezena de pessoas em um pub qualquer. Não deixe de ouvirDrift AwayI Still Haven’t Found What I’m Looking ForMy Love Will Never Let You Down.

sensescoreSENTIDOS DO AMOR, por Max Richter: Por puro acaso conferi Sentidos do Amor sem saber que o compositor do filme em questão era Max Richter, que recentemente havia me impressionado na primeira temporada de The Leftovers. E não é que ele me levou às lágrimas de novo? A combinação de violino e piano talvez seja a razão mais óbvia para isso (não existe melhor química que um compositor possa encontrar para me emocionar), mas também existe um diálogo perfeito entre os tipos de melodias criadas por Richter e o clima desesperançoso do filme de David Mackenzie. Nada piegas, mas sim sóbrio e com as elevações exatas de tom para comover o espectador. Luminous, que encerra o filme, merece menção à parte tamanha a sua beleza. Não deixe de ouvirLuminousOn a Turning WorldThings Left Behind.

O som das trilhas

birdmanscoreBIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA), por Antonio Sánchez: Desclassificada para o Oscar 2015 por, segundo a Academia,  usar composições de outros músicos como Tchaikovsky e Rachmaninov, a trilha de Birdman é uma das mais interessantes do ano até aqui. Composto e executado pelo bateirista de jazz mexicano Antonio Sánchez, o álbum utiliza basicamente apenas bateria para construir a atmosfera do filme de Alejandro González Iñárritu. O resultado é imersivo e a trilha, frequentemente surpreendente, torna a já completa experiência de se assistir ao filme ainda mais instigante. Não deixe de ouvirDirty Walk, Internal WarThe Anxious Battle for Sanity

breakingtwoscoreBREAKING BAD (Volume 2), por Dave Porter: A TV faz um magnífico trabalho em trilhas sonoras atualmente, mas nem todas as emissoras parecem dispostas a valorizar este setor devidamente. São poucos os programas que têm suas trilhas lançadas, e Breaking Bad felizmente é um deles. Nada mais justo, já que, neste segundo e último volume, Dave Porter se supera nas criações que embalam o universo do emblemático protagonista Walter White. Assim como a própria série, não espere escolhas fáceis aqui, já que as composições dedicadas aos momentos de suspense se tornam frenéticas ou nervosas não pelo mero básico bem feito, mas pela novidade de combinações e uso de diferentes instrumentos. Não deixe de ouvirFolliclesDead FreightThe Final Hat.

shadesgscoreCINQUENTA TONS DE CINZA, por Vários Artistas: Ainda vai levar um tempo para que este filme errado e tedioso seja superado, mas igualmente difícil vai ser deixar de dar play na ótima coletânea que embala a “história de amor” entre Anastasia (Dakota Johnson) e James Gray (Jamie Dorman). Começando com Annie Lennox dando voz à charmosa I Put a Spell On You, a trilha ainda traz relevantes nomes da música contemporânea para novas canções e releituras, como Beyoncé, que surpreende com uma Crazy in Love inteiramente nova e tão marcante quanto a original. Ellie Goulding e Sia também estão listadas aqui ao lado de Frank Sinatra e Rolling Stones. Um álbum para ninguém colocar defeito e que merecia estar a serviço de um filme infinitamente melhor. Não deixe de ouvirI Put a Spell On YouCrazy in LoveLove Me Like You Do

homesmanscoreDÍVIDA DE HONRA, por Marco Beltrami: É um dos trabalhos mais inspirados do ano até agora para um filme que inclusive pode ser considerado incompreendido. Marco Beltrami, indicado duas vezes ao Oscar (por Guerra ao Terror ao lado do amigo Buck Sanders e Os Indomáveis) nunca foi grande compositor, mas neste álbum apresenta composições tão originais e condizentes com o próprio filme que já pode ser considerado um profissional de nova grandeza. Com algumas gravações realizadas ao ar livre nas paisagens onde o filme se desenvolve para capturar o próprio espírito deste western diferenciado, a trilha de Dívida de Honra entrega desde um tema marcante para o gênero a composições super melancólicas. Todos deveriam descobrir. Não deixe de ouvirMain TitleEntering TownOnto the Ferry.

empirescoreEMPIRE, por Vários Artistas: A música de Empire tem influência direta no sucesso estrondoso de audiência da série. Não se engane, contudo, ao pensar que a trilha estreou em primeiro lugar na Billboard só por preencher a lacuna do hip hop existente na TV estadunidense: o disco pensado e produzido por Timbaland é mesmo cheio de canções interessantes. Fácil ficar com Keep Your Money na cabeça ou então curtir um som mais calmo mas igualmente envolvente como Conqueror. É o hip hop em sua essência (as letras são, por vezes, nada inteligentes, por exemplo), mas você pode muito bem se surpreender e até mesmo se empolgar com o que Empire criou musicalmente. Não deixe de ouvirKeep Your MoneyConquerorDrip Drop.

maxfuryscoreMAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA, por Junkie XL: Não é o tipo de trilha para necessariamente ser apreciada fora do filme. Sim, Junkie XL fez um trabalho espetacular para este filme que é um dos maiores espetáculos cinematográficos do ano, mas o álbum funciona muito mais como uma ferramenta narrativa para impulsionar e imergir o espectador em toda a ação deliciosamente frenética do longa dirigido por George Miller. Por acompanhar basicamente todos os momentos de Mad Max, a trilha ultrapassa duas horas de duração e eventualmente empolga tanto quanto o filme, mas se engrandece somente com ele, onde realmente é fundamental para criar a atmosfera da insana fuga protagonizada por Max (Tom Hardy) e Furiosa (Charlize Theron). Não deixe de ouvirBrothers in ArmsSpikey CarsLet Them Up.

O som das trilhas

soundbudapestSegunda colaboração do francês Alexandre Desplat com o diretor Wes Anderson, O Grande Hotel Budapeste também marca uma das mais interessantes trilhas do compositor em anos. Prolífero, Desplat vem realizando uma infinidade de trabalhos nos últimos anos, mas nem todos chegam a ser excepcionais como esse. Capturando perfeitamente o estilo do diretor e, principalmente, toda a inventividade deste filme que reúne o melhor de Anderson sem parecer reciclagem, a trilha de O Grande Hotel Budapeste é uma das melhores do ano – e, nas premiações, deve ser preterida em função de outro trabalho de Desplat: O Jogo da Imitação, que tem muito mais gás na corrida aos prêmios do que Budapeste. Não deixe de ouvirMr. MoustafaTraditional Arrangement MoonshineThird Class Carriage.

soundinterstellarO filme de Christopher Nolan é, sem dúvida, o mais pretensioso e irregular que ele já realizou em toda a sua carreira, mas é bom ver que a parceria com o grande Hans Zimmer não foi abalada. Pelo contrário. É até um salto esta trilha de Interestelar se comparada a de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Conseguindo criar um tema marcante para o longa de Nolan, Zimmer foi certeiro na escolha de basear praticamente todas as suas composições em tradicionais órgãos sem tornar o filme fúnebre ou parecido com algo religioso. O resultado casa perfeitamente com o clima espacial e de viagens em diferentes tempos mostrado em Interestelar, que tem, na trilha sonora, um dos seus pontos mais interessantes. Não deixe de ouvirWhere We’re GoingS.T.A.Y.Dreaming of the Crash.

soundwoodsQuem espera uma trilha sonora animada e com canções repletas de refrões animados já pode mudar de ideia: Caminhos da Floresta faz um exerício musical completamente oposto a essa ideia. O álbum é um legítimo Stephen Sondheim (cujo último musical levado ao cinema foi Sweeney Todd), ou seja, tudo se resume a muitas canções dialogadas e sem refrão que servem exclusivamente ao propósito de conduzir a trama do filme. Esta lógica é certeira e, pensando assim, Caminhos da Floresta tem um ótimo resultado quando ouvida separadamente. A parte instrumental de Sondheim traz excelentes momentos e os atores dão conta do recado quando soltam a voz (em especial as mulheres). Meryl Streep, que começou sua carreira artística com aulas de ópera, mais uma vez é o destaque. Não deixe de ouvirLast MidnightStay With Me e Moments in the Woods.

soundwifeÉ notável como o compositor David Buckley foi se aperfeiçoando ao longo das temporadas do premiado seriado The Good Wife. Especialmente a partir da quinta temporada, Buckley, que, no cinema, já trabalhou com Ben Affleck em Atração Perigosa, conseguia se reinventar a cada episódio – e o resultado foi abraçado pela própria emissora, que resolveu lançar a trilha comercialmente (algo que, infelizmente, segue não sendo uma prática muito comum na TV, em especial a aberta). Foi um grande acerto, pois a trilha de The Good Wife (neste álbum resumida apenas ao quinto ano) é uma das mais inspiradas para qualquer tipo de seriado da atualidade. Impressiona particularmente o constante uso de violinos no álbum, criando uma atmosfera muito clássica para uma série que já marca época na TV aberta. Não deixe de ouvirHitting the FanThe Good Wife (Theme) e Plaintiff’s Partita.

soundtheoryFamoso compositor em terras islandesas, Jóhann Jóhannsson já vem fazendo trabalhos no cinema – especialmente no seu país – desde 2000, mas em 2013 começou a ganhar o mundo com o excelente trabalho que realizou para Os Suspeitos. Agora, já até concorre em premiações com A Teoria de Tudo. É certo que Jóhansson se beneficia por estar em uma biografia que parece ter a fórmula infalível para prêmios, mas seu trabalho não deve ser diminuído em função disso. Nem bem três canções são executadas e já dá para perceber que a trilha de A Teoria de Tudo é encantadora, inventiva e, principalmente, longe de repetir negativamente características de seu compositor. Um belo álbum. Não deixe de ouvirCambridge, 1963, Rowing Domestic Pressures.

soundpennyO intercâmbio entre cinema e TV está cada vez mais intenso não só no que se refere a atores e diretores, mas também a outros setores técnicos. Um exemplo é a trilha sonora. No caso de Penny Dreadful, ninguém menos que Abel Korzeniowski assina o álbum do programa. O polonês, responsável pela épica trilha do longa Direito de Amar, traz todas as características que lhe revelaram no cinema agora para a TV. Isso mesmo, o álbum de Penny Dreadful, transitando entre o drama e o terror, é um legítimo Korzeniowski, com uma sonoridade clássica claramente escrita para uma orquestra sinfônica. As “grandiosidades” são plenamente controlados pelo polonês que, mais uma vez, entrega uma trilha coesa com tudo que já realizou sem cair na repetição. Não deixe de ouvirModern Age, Welcome to the Grand Guignol e Street, Horse, Smell, Candle.

soundgoneA dupla Trent Rezznor e Atticus Ross já é marca registrada dos mais recentes longas do diretor David Fincher. A parceria, inclusive, já rendeu um Oscar de melhor trilha sonora para A Rede Social, mas a melhor colaboração de Rezznor, Ross e Fincher está mesmo no recente Garota Exemplar. Esta é uma trilha completa, que acompanha com perfeição todos os estágios da envolvente história, dos momentos românticos envolvendo os primeiros momentos do casal protagonista ao suspense dos dias em que Amy (Rosamund Pike) passa a estar desaparecida. Não existe, atualmente, parceria que melhor use elementos musicais contemporâneos para, além de fugir das sonoridades mais clássicas, criar obras realmente imersivas e envolventes. Não deixe de ouvirSugar StormLike HomeTechnically, Missing.

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