Segunda colaboração do francês Alexandre Desplat com o diretor Wes Anderson, O Grande Hotel Budapeste também marca uma das mais interessantes trilhas do compositor em anos. Prolífero, Desplat vem realizando uma infinidade de trabalhos nos últimos anos, mas nem todos chegam a ser excepcionais como esse. Capturando perfeitamente o estilo do diretor e, principalmente, toda a inventividade deste filme que reúne o melhor de Anderson sem parecer reciclagem, a trilha de O Grande Hotel Budapeste é uma das melhores do ano – e, nas premiações, deve ser preterida em função de outro trabalho de Desplat: O Jogo da Imitação, que tem muito mais gás na corrida aos prêmios do que Budapeste. Não deixe de ouvir: Mr. Moustafa, Traditional Arrangement Moonshine e Third Class Carriage.
O filme de Christopher Nolan é, sem dúvida, o mais pretensioso e irregular que ele já realizou em toda a sua carreira, mas é bom ver que a parceria com o grande Hans Zimmer não foi abalada. Pelo contrário. É até um salto esta trilha de Interestelar se comparada a de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Conseguindo criar um tema marcante para o longa de Nolan, Zimmer foi certeiro na escolha de basear praticamente todas as suas composições em tradicionais órgãos sem tornar o filme fúnebre ou parecido com algo religioso. O resultado casa perfeitamente com o clima espacial e de viagens em diferentes tempos mostrado em Interestelar, que tem, na trilha sonora, um dos seus pontos mais interessantes. Não deixe de ouvir: Where We’re Going, S.T.A.Y. e Dreaming of the Crash.
Quem espera uma trilha sonora animada e com canções repletas de refrões animados já pode mudar de ideia: Caminhos da Floresta faz um exerício musical completamente oposto a essa ideia. O álbum é um legítimo Stephen Sondheim (cujo último musical levado ao cinema foi Sweeney Todd), ou seja, tudo se resume a muitas canções dialogadas e sem refrão que servem exclusivamente ao propósito de conduzir a trama do filme. Esta lógica é certeira e, pensando assim, Caminhos da Floresta tem um ótimo resultado quando ouvida separadamente. A parte instrumental de Sondheim traz excelentes momentos e os atores dão conta do recado quando soltam a voz (em especial as mulheres). Meryl Streep, que começou sua carreira artística com aulas de ópera, mais uma vez é o destaque. Não deixe de ouvir: Last Midnight, Stay With Me e Moments in the Woods.
É notável como o compositor David Buckley foi se aperfeiçoando ao longo das temporadas do premiado seriado The Good Wife. Especialmente a partir da quinta temporada, Buckley, que, no cinema, já trabalhou com Ben Affleck em Atração Perigosa, conseguia se reinventar a cada episódio – e o resultado foi abraçado pela própria emissora, que resolveu lançar a trilha comercialmente (algo que, infelizmente, segue não sendo uma prática muito comum na TV, em especial a aberta). Foi um grande acerto, pois a trilha de The Good Wife (neste álbum resumida apenas ao quinto ano) é uma das mais inspiradas para qualquer tipo de seriado da atualidade. Impressiona particularmente o constante uso de violinos no álbum, criando uma atmosfera muito clássica para uma série que já marca época na TV aberta. Não deixe de ouvir: Hitting the Fan, The Good Wife (Theme) e Plaintiff’s Partita.
Famoso compositor em terras islandesas, Jóhann Jóhannsson já vem fazendo trabalhos no cinema – especialmente no seu país – desde 2000, mas em 2013 começou a ganhar o mundo com o excelente trabalho que realizou para Os Suspeitos. Agora, já até concorre em premiações com A Teoria de Tudo. É certo que Jóhansson se beneficia por estar em uma biografia que parece ter a fórmula infalível para prêmios, mas seu trabalho não deve ser diminuído em função disso. Nem bem três canções são executadas e já dá para perceber que a trilha de A Teoria de Tudo é encantadora, inventiva e, principalmente, longe de repetir negativamente características de seu compositor. Um belo álbum. Não deixe de ouvir: Cambridge, 1963, Rowing e Domestic Pressures.
O intercâmbio entre cinema e TV está cada vez mais intenso não só no que se refere a atores e diretores, mas também a outros setores técnicos. Um exemplo é a trilha sonora. No caso de Penny Dreadful, ninguém menos que Abel Korzeniowski assina o álbum do programa. O polonês, responsável pela épica trilha do longa Direito de Amar, traz todas as características que lhe revelaram no cinema agora para a TV. Isso mesmo, o álbum de Penny Dreadful, transitando entre o drama e o terror, é um legítimo Korzeniowski, com uma sonoridade clássica claramente escrita para uma orquestra sinfônica. As “grandiosidades” são plenamente controlados pelo polonês que, mais uma vez, entrega uma trilha coesa com tudo que já realizou sem cair na repetição. Não deixe de ouvir: Modern Age, Welcome to the Grand Guignol e Street, Horse, Smell, Candle.
A dupla Trent Rezznor e Atticus Ross já é marca registrada dos mais recentes longas do diretor David Fincher. A parceria, inclusive, já rendeu um Oscar de melhor trilha sonora para A Rede Social, mas a melhor colaboração de Rezznor, Ross e Fincher está mesmo no recente Garota Exemplar. Esta é uma trilha completa, que acompanha com perfeição todos os estágios da envolvente história, dos momentos românticos envolvendo os primeiros momentos do casal protagonista ao suspense dos dias em que Amy (Rosamund Pike) passa a estar desaparecida. Não existe, atualmente, parceria que melhor use elementos musicais contemporâneos para, além de fugir das sonoridades mais clássicas, criar obras realmente imersivas e envolventes. Não deixe de ouvir: Sugar Storm, Like Home e Technically, Missing.
Kamila, acho que, por ser de Hans Zimmer, a trilha será lembrada no Oscar. E acho super merecido!
Bruno, desde o último “Batman” eu já me incomodava com as pretensões do Nolan em querer complicar histórias essencialmente simples. O auge, no entanto, foi realmente “Interestelar”!
belas trilhas, matheus! quanto ao comentário sobre o nolan, considero o filme mais irregular dele o último Batman!
Abraço.
Vou falar sobre a trilha do único filme que eu assisti: “Interestelar”. Pra mim, um dos pontos altos desse longa é a trilha sonora. Uma pena que não deverá ser lembrada no próximo Oscar, uma vez que esse filme vem sendo, por enquanto, solenemente ignorado na atual temporada de premiações.