James Gray volta à infância com “Armageddon Time”, seu filme mais singelo até aqui

Do you think that’s smart?

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Direção: James Gray

Roteiro: James Gray

Elenco: Banks Repeta, Anne Hathaway, Jeremy Strong, Anthony Hopkins, Jaylin Webb, Andrew Polk, Ryan Sell, Tovah Feldshuh, Marcia Haufrecht, Teddy Coluca, Jessica Chastain, Richard Bekins, Dane West, John Diehl, Domenick Lombardozzi

EUA/Brasil, 2022, Drama, 114 minutos

Sinopse: Na Nova York dos anos 1980, antes de Ronald Reagan ser eleito presidente dos Estados Unidos, uma família vive no Queens e precisa passar por um processo profundamente pessoal. Traçando uma trajetória de amadurecimento, o longa aborda a força da família e a busca que atravessa gerações pelo “sonho americano”. (Adoro Cinema)

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Não é nenhuma novidade a meditação de cineastas norte-americanos sobre as suas infâncias em formato de filme autobiográfico. O próprio Steven Spielberg, após décadas de carreira, lançará em breve The Fabelmans, mostrando que esse é um tipo de projeto atemporal, sem hora ou momento exato para ser tirado do papel. Outro nome que se junta à estatística é o de James Gray, que chega agora aos cinemas com o seu Armageddon Time, antes visto na competição oficial do Festival de Cannes deste ano, e que tem como pano de fundo a Nova York dos anos 1980 e a clássica busca pelo chamado “sonho americano”.

James Gray sempre foi um diretor fora da curva, e é exatamente por isso que podemos dizer que Armageddon Time é o seu trabalho mais singelo e linear até aqui. Se levarmos em consideração filmes como Amantes, Era Uma Vez em Nova York e o próprio Ad Astra: Rumo às Estrelas, seu projeto anterior, falta nessa proclamada autobiografia algo mais pungente, ainda que o resultado tenha seu charme em função da melancolia e da nostalgia com que ele revisita as suas memórias, amparado por um ótimo elenco, que traz de Jeremy Strong a Anthony Hopkins, passando por Anne Hathaway e uma ligeira participação de Jessica Chastain.

Um dos componentes centrais da retrospectiva pessoal do cineasta é a relação estabelecida por Paul Graff (Banks Repetta, muito seguro ao não se estremecer frente a tantos atores bons) com a família, principalmente com o seu avô Aaron (Anthony Hopkins), a única pessoa que o jovem parece dar ouvidos de verdade. Entretanto, Gray dá atenção especial à jornada do garoto no ambiente escolar, onde conhecer o colega Johnny (Jaylin Webb), jovem negro que, a partir de um convívio muito próximo, revelará a Paul, entre outras coisas, os significados das palavras injustiça e privilégio.

Como esperado de um diretor como James Gray, a abordagem racial não segue cartilhas, e o fato de ser vista a partir da perspectiva de uma criança dá interessantes contornos aos conflitos. Para Paul, menino branco, judeu e que tem como plano B a possibilidade de ingressar em uma escola particular caso não se adeque ao ensino público, toda e qualquer desventura com o novo amigo não chega a oferecer perigo real devido a sua cor e posição social, algo que ele logo ressignifica quando compreende que Johnny não recebe o mesmo tratamento apenas por ser quem é. Se Paul fará algo ou não com isso é outra história e envolve descobertas de vida que acabarão por moldar o caráter do garoto.

Para olhares menos atentos a observações como essas, Armageddon Time pode parecer um filme qualquer de traços autobiográficos. O tom ameno e contido talvez contribua para essa conclusão, mesmo que o elenco estrelado eleve a encenação das dinâmicas familiares, com destaque para a delicada relação entre Paul e seu avô, interpretado com a sabedoria tão característica de um ator do calibre de Anthony Hopkins. E a verdade é que realmente estamos diante de um longa mais brando, como se Gray estivesse preocupado em zelar pelas suas lembranças, sem a vontade de revisitá-las com outro olhar apenas para fazer um espetáculo cinematográfico ou algo parecido.

Aliás, esperar isso do diretor é quase uma heresia, pois ele nunca foi afeito ao espetáculo pelo espetáculo. Seu olhar para os relacionamentos amorosos em Amantes, por exemplo, não poderia ser mais interiorizado e atmosférico, assim como a técnica foi para fins além da grandiosidade em Ad Astra, ficção-científica de orçamento considerável ambientado em diferentes pontos do sistema solar. Ou seja, a pegada não seria diferente em sua obra mais pessoal, constatação que não chega a compensar 100% o fato de que, mesmo para o padrão James Gray, Armageddon Time tinha potencial, sim, para alçar voos maiores.

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