Três atores, três filmes… com Patrick Connolly

É difícil saber por onde começar a apresentação deste primeiro convidado internacional da coluna, uma vez que é gigantesca a sua experiência e também a minha honra em tê-lo aqui, mas vamos lá! Especialista e consultor em marketing, Patrick Connolly começou sua carreira na área de programação da Fox, onde serviu como vice-presidente da programação infantil. Entre outras experiências, já teve passagem pela AMC Networks como vice-presidente sênior, respondendo por aquisições, planejamento e estratégia global da programação em VOD da rede, além de ter coordenado as atividades de marketing para as marcas AMC e SundanceTV em escopo internacional junto a empresas e canais locais de mais de 130 países. E não para por aí: também foi consultor de programação da Showtime, trabalhando com análises, estratégias, planejamento e avaliações de novas séries. Atualmente, é vice-diretor de redes sociais do BAFTA New York e membro Academy of Television Arts & Sciences e da International Academy of Television Arts & Sciences, que entregam, respectivamente, o Emmy e o Emmy Internacional. Nossos caminhos se cruzaram em 2016, quando Patrick, atuando como produtor executivo das coberturas de festivais da SundanceTV, esteve no Festival de Cinema de Gramado para exibir dois títulos do prestigiado evento estadunidense — entre eles, o drama Mammal, estrelado por Rachel Griffiths, que também esteve presente na Serra Gaúcha. E, após todo esse grande currículo, não poderia deixar de registrar, claro, o quanto Patrick é uma pessoa generosa e um cinéfilo sensível, o que está traduzido nas escolhas que ele fez para a sua participação aqui no blog (e que alegria saber que eu e ele compartilhávamos a mesma torcida na categoria de melhor atriz do Oscar 2005!). Sem dúvida, tê-lo aqui é um marco para a coluna. Thank you so much, dear Patrick!

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Assim como tantos outros que receberam esta tarefa (honra!) do Matheus, inicialmente tive dificuldade ao pensar em três grandes atuações notáveis. A pressão parecia muito grande. Depois, eu ainda tive dificuldade em selecionar APENAS três atuações! É certo que existem muitas, muitas grandes performances de atores na história do cinema, mas o pedido, eu sinto, é ter um apego pessoal a três grandes performances. E, como se estivesse brincando de “associação de palavras” comigo mesmo — ou seja, “diga quais são as três melhores atuações no cinema de que você se lembra neste segundo!” — foram essas três abaixo que vieram à minha cabeça. Três performances indeléveis para mim. Elas me surpreenderam porque eu não conseguia ver o ator nelas, apenas o personagem. Fiquei comovido com tais performances. E ainda estou comovido em minha memória depois de todos esses anos. Para mim, eles são inabaláveis. E, como mencionei ao Matheus, adoro a palavra “saudade” em português. E, embora ela pareça não ser entendida em inglês, sinto que todas as três atuações a têm e me fazem tê-la.

Viola Davis (Um Limite Entre Nós)
O filme Um Limite Entre Nós, baseado em uma peça de August Wilson, nunca parece que NÃO é baseado em uma peça. O artifício está lá, e os “cenários” parecem cenários, mas a emoção e as personagens são reais. E nenhuma é mais real do que a Rose Lee Maxson de Viola Davis. Seu discurso “18 anos da minha vida” que você pode ver no YouTube ainda me destrói. É cru e real, e vem de um lugar bem do fundo. Eu acreditei em cada palavra. A intensidade de sua atuação, camadas e níveis é de alguém com habilidades equivalentes à primeira cadeira de uma orquestra. Assisti-la neste filme é ver algo incrível e transformador. Eu fui fisgado a assistir a um filme que eu queria ver, mas não esperava ser levado às alturas de uma montanha-russa para depois mergulhar e girar. E isso tudo foi por causa da escalação de Viola Davis. Eu nunca vou esquecê-la em Um Limite Entre Nós.

Daniel Day-Lewis (Meu Pé Esquerdo)
Meu Pé Esquerdo é baseado na vida do escritor e pintor irlandês Christy Brown, que sofria de paralisia cerebral e foi interpretado por Daniel Day Lewis. Eu li na época que o Sr. Day Lewis precisava todos os dias de um fisioterapeuta no set para se desamarrar do trabalho corporal de um homem com paralisia cerebral. Seu corpo, sua fala, tudo tinha que ser trabalhado e então desfeito. Eu estava na minha fase “orgulho de ser irlandês” quando este filme foi lançado e queria ver e ler tudo que fosse irlandês. No cinema, quando Daniel Day Lewis apareceu na tela, eu não estava em nenhum outro lugar. Sua interpretação NÃO poderia ser o mesmo ator que esteva em Uma Janela Para o Amor ou Minha Adorável Lavanderia. Impossível! Era um documentário! Mas não era… Era a performance de uma vida.

Imelda Staunton (O Segredo de Vera Drake)
Nada contra Hilary Swank em Menina de Ouro, mas, com O Segredo de Vera Drake, Imelda Staunton estava na disputa pelo Oscar de melhor atriz que ela ganhou. Este pequeno filme sobre uma mulher da classe trabalhadora de Londres que realiza abortos ilegais em 1950 foi dirigido por Mike Leigh e deu à Sra. Staunton um papel que a elevou às alturas de uma protagonista. Mas a atriz principal aqui é quieta e pequena, e não a grande e ousada Mama Rose que Imelda representou em Gypsy alguns anos depois na West End. Vera Drake é uma pessoa que só quer ajudar as mulheres. Para mim, ver o julgamento de suas ações e sua inocência sobre como elas não poderiam estar de forma alguma erradas foi muito transformador. Ela partiu meu coração na sétima fileira do cinema, e eu nunca a esqueci. Acho Imelda Staunton uma das melhores atrizes que já conheci porque ela é uma character actress (atriz de personagens). Imelda desaparece e se funde em seus personagens, mas também é uma protagonista porque não permite que você esqueça sua atuação. Como uma curiosidade, lembro que fiquei muito chocado no final de Gypsy em Londres. Eu estava sentado em minha poltrona e chorava involuntariamente (do jeito que Meryl Streep consegue em um piscar de olhos!) porque sabia que acabara de assistir a uma das melhores apresentações que veria no teatro em minha vida. Eram lágrimas de alegria.

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