44º Festival de Cinema de Gramado #7: um dia com Rachel Griffiths

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Rachel Griffiths veio à Serra Gaúcha para apresentar o desafiador Mammal na programação do Festival de Cinema de Gramado. Foto: Edison Vara/Pressphoto

O destino é mesmo uma coisa curiosa. Afinal, se alguém viesse do futuro e me contasse, nunca acreditaria que eu teria conhecido Rachel Griffiths – e não nos Estados Unidos ou na Austrália (terra natal da atriz), mas no Rio Grande do Sul mesmo, estado onde moro. Pois isso aconteceu em mais um dos grandes momentos que o Festival de Cinema de Gramado já me proporcionou ao longo dos seis anos consecutivos em que estou por aqui. Griffiths veio ao evento serrano para apresentar Mammal, drama que protagoniza e que foi exibido no Palácio dos Festivais como resultado de uma parceria de Gramado com o Sundance Channel.

Atenciosa, a atriz conversou individualmente com jornalistas presentes no Festival e, após a sessão com entrada franca de Mammal, se encontrou com o público para falar sobre a obra dirigida por Rebecca Daly. Acho Griffiths uma grande atriz, de O Casamento de MurielBrothers & Sisters, e sempre lamento que o cinema e a TV não a tenham valorizado devidamente nos últimos anos. Por isso mesmo fiz questão de contá-la sobre a minha admiração e sobre como Six Feet Under literalmente mudou a minha vida. Ela disse que também mudou a dela e relembrou o quanto o seriado a impressionou desde o início (“O episódio-piloto tem o melhor roteiro que já li”) e a importância dele para a narrativa televisiva (“Ainda hoje é uma referência para a dramaturgia da TV moderna”).

Em breve ela estará de volta ao mundo televisivo com When We Rise, minissérie dirigida por Gus Van Sant com roteiro de Dustin Lance Black que percorre diversas décadas para narrar o nascimento e a evolução dos direitos civis para a população LGBT. Apesar da carreira expressiva na TV, Griffiths também lembra com muito carinho dos filmes que realizou, em especial O Casamento de Muriel, onde diz ter vivido uma “química mágica” com Toni Collette, e Hilary & Jackie, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante – e o glamour desse reconhecimento foi algo um pouco chocante para a atriz, já que ela conta que, ao participar da cerimônia, percebeu que virou atriz para contar histórias e não para ser entrevistada sobre a cor de suas unhas ou seus vestidos.

Pessoalmente e profissionalmente, foi uma tarde inesquecível, seguida da sessão de Mammal, filme protagonizado por Griffiths que já passou pelo Festival de Sundance e será exibido dia 19 de novembro no Sundance Channel, que, aqui no Brasil, é possível acessar via Sky. Mammal traz o DNA de personagens difíceis e complexos que a atriz colecionou ao longo de sua carreira, com a diferença de que a protagonista Margaret, ao contrário, por exemplo, da inesquecível Brenda Chenowith, de Six Feet Under, não é uma mulher decidida e que sabe o que faz. Pelo contrário, essa mãe que abandonou o filho há muitos anos e agora recebe a notícia de sua morte simplesmente não sabe o que fazer com tantos sentimentos mutilados.

Em um filme onde os diálogos praticamente inexistem, Griffiths tira de letra um papel extremamente complicado, que envolve ainda uma relação emocionalmente perigosa com um jovem problemático e sem-teto. De ritmo pausado, Mammal causa desconforto mesmo mostrando o encontro de duas pessoas perdidas na vida que, quando se conhecem, conseguem estabelecer alguma conexão, mesmo que seja torta e fora dos padrões para olhares alheios. Mais do que isso, o filme de Rebecca Daly quase sufoca o espectador com seus afetos desajustados, sua tensão erótica e, claro, sua fórmula distante de padrões. Griffiths brincou, na apresentação da sessão, que esse era um filme que faria a plateia precisar de um drink após os créditos finais. 

Com toda razão. E o meu ainda veio com a felicidade e realização de ter passado praticamente um dia inteiro ao lado dessa grande mulher.

Reproduzo também abaixo, na íntegra, a matéria que produzi oficialmente para o evento, como trabalho de assessoria de imprensa, sobre a passagem da atriz pelo Festival:

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Atriz aproveitou a viagem para conhecer o recém inaugurado Museu do Festival de Cinema de Gramado. Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto

“Espero arranjar logo uma desculpa para voltar a Gramado”, diz Rachel Griffiths em sua passagem pelo Festival de Cinema

A atriz australiana Rachel Griffiths chegou à Serra Gaúcha na madrugada do último domingo (28) e, quando acordou, teve uma surpresa ao abrir a janela de seu hotel. “A paisagem era australiana e, de repente, eu estava me sentindo em casa”, contou entusiasmada. Vencedora do Globo de Ouro pelo seriado A Sete Palmos e indicada ao Oscar pelo drama Hilary & Jackie, Rachel veio a Gramado a partir de uma parceria do evento com o prestigiado Sundance Channel. Em sua passagem pela cidade, apresentou o inédito drama Mammal, em uma sessão comentada com o curador Rubens Ewald Filho. O filme dirigido por Rebecca Daly será exibido no dia 19 de novembro no Sundance Channel, que, aqui no Brasil, pode ser acessado via Sky.

Sobre o drama que trouxe a Gramado, a atriz revela que, pela primeira vez, teve a oportunidade de interpretar uma personagem totalmente diferente das que incorporou ao longo de sua carreira. “Sempre interpretei mulheres que, confusas ou não, eram muito decididas e conscientes em relação aos seus sentimentos e decisões. Margaret [a protagonista de Mammal] não é assim. Pelo contrário: ela é mutilada emocionalmente e não toma muita consciência das escolhas que faz na vida. Eu estava afastada de papeis desafiadores como esse, por isso é bom retomar a esse universo”, lembrou a atriz, que, antes do filme Rebecca Daly, estava envolvida em filmes mais leves como Walt nos Bastidores de Mary Poppins e seriados para TV aberta, a exemplo do drama familiar com toques de comédia Brothers & Sisters.

Ainda sobre as mulheres que já representou, Rachel Griffiths lembra com carinho de uma de suas personagens mais emblemáticas: a conturbada Brenda Chenowith, que vive um romance de idas e vindas com Nate, o protagonista de A Sete Palmos vivido por Peter Krause. “O episódio-piloto dessa série tem o melhor roteiro que já li na vida. Quando recebi, só o que pensava é que eu precisava fazer parte daquele projeto de alguma maneira”, recordou a australiana. Para ela, o seriado ainda hoje ecoa na indústria televisiva, mesmo em tempos de novas plataformas de exibição como o Netflix: “Sempre quando se referem ao que ‘A Sete Palmos’ representa, a unanimidade é que esse foi um programa que, junto com A Família Soprano e The Wire, pontuou o nascimento da excelência na TV moderna. Para mim, foi marcante por dar os holofotes a mulheres em todas as suas qualidades e imperfeições”.

Para Rachel Griffiths, é um pouco inconcebível atuar sem estabelecer uma relação de identificação, seja com o diretor ou com o elenco. Entre os trabalhos que cita como marcantes nesse sentido está O Casamento de Muriel, comédia dramática de P.J. Hogan onde diz ter formado uma “química mágica” com Toni Collette. Já com quem está atrás das câmeras, ela destaca a parceria com o diretor Anand Tucker, que comandou Hilary & Jackie, cinebiografia sobre as irmãs Hilary e Jackie Du Pré que a levou ao Oscar em 1999. No entanto, a atriz rejeita os confetes e prefere enxergar celebrações como o momento de uma equipe. “Quando fui ao Oscar, percebi que não me tornei uma atriz para dar entrevistas no Tapete Vermelho sobre a cor das minhas unhas ou sobre o conceito do meu vestido. O que considerava especial era estar com a minha equipe celebrando o reconhecimento para um filme que fizemos juntos”, apontou.

Mesmo breve, a passagem de Rachel Griffiths por Gramado foi aproveitada plenamente pela atriz, que atendeu jornalistas e ainda conheceu o Museu do Festival de Cinema de Gramado. Quanto às memórias que levará da cidade, ela destacou os tradicionais chocolates gramadenses e a receptividade da cidade, que, segundo ela, está repleta de pessoas calorosas e sempre com um sorriso no rosto: “Adoráveis! Cada um de vocês. Nunca me senti tão bem acolhida ao chegar a um país. Espero arranjar logo uma desculpa para voltar a Gramado!”.

2 comentários em “44º Festival de Cinema de Gramado #7: um dia com Rachel Griffiths

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