
Com Benzinho, Karine Teles marca a sua terceira passagem pelo Festival de Cinema de Gramado. Foto: Fábio Winter/Pressphoto
Quando concorreu pela primeira vez em Gramado, a atriz Karine Teles enfrentou uma verdadeira maratona: para exibir Riscado, veio às pressas do Rio de Janeiro, onde recém havia dado luz aos seus dois filhos, e permaneceu apenas 24 horas na cidade, voltando rapidamente para cuidar dos pequenos. Sete anos após a consagrada exibição (Riscado faturou os Kikitos de melhor direção, atriz, roteiro, além do júri da crítica), ela retorna ao Festival com Benzinho, drama que narra as transformações internas de uma mãe batalhadora que se depara com a notícia de que o filho mais velho foi convidado a jogar handebol na Alemanha. Entre Riscado e Benzinho, Karine também exibiu no Palácio dos Festivais o celebrado Que Horas Ela Volta?, e todas as lembranças desse longo período despertam na atriz emoções ímpares: “Passa um filme enorme na minha cabeça, e exibir Benzinho pela primeira vez no Brasil aqui em Gramado foi emocionante. Acordei com o rosto inchado de tanto que chorei na sessão”.
A ideia de fazer o longa veio das próprias experiências de Karine e do diretor Gustavo Pizzi, seu marido à época da concepção do roteiro. Para eles, era fundamental falar sobre esse momento em que os filhos saem da casa, mas, segundo Karine, o roteiro se torna muito mais complexo na medida em que se propõe a prestar uma homenagem a todas mulheres que são mães, avós, tias ou amigas. “Eu trouxe tudo das figuras femininas da minha vida para esse filme. O nosso desejo era lançar uma luz poética e cinematográfica para as tantas mulheres que passam pela rua e não percebemos. Irene [a protagonista] é uma mulher comum como milhões de outras mundo afora. Nada de necessariamente extraordinário acontece com ela, mas o bonito do cinema é conseguir elevar histórias como essa, que acontecem nas casas de todas as famílias”, conta a atriz e roteirista.
Sobre o protagonismo feminino, Karine pensa que Benzinho estabelece um ponto de vista diferenciado, mesmo quando comparado a outros filmes naturalistas: “O próprio Boyhood, por exemplo, tem uma linda cena onde a cai a ficha da mãe que o filho está saindo de casa, mas é o único grande momento personagem ao longo do filme. Normalmente, vemos o ponto de vista do homem ou o do filho e não o da mãe ou o da mulher. Precisamos, claro, de novas histórias, mas também de novos olhares para as que já conhecemos”, avalia. Com estreia prevista para o dia 23 de agosto, Benzinho também é encarado pela atriz e roteirista como um filme sobre resistência: “Não sei exatamente de onde vem a força da personagem para superar todas as adversidades. Acredito que ela é movida por esse sentimento chamado amor, a única potência transformadora capaz de nos salvar do mundo maluco em que vivemos. Precisamos muito falar sobre isso”.
* matéria produzida originalmente para a assessoria de imprensa do 46º Festival de Cinema de Gramado