
“A única coisa que separa mulheres de cor de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode ganhar o Emmy por papeis que simplesmente não existem”. Viola Davis é a primeira mulher negra na história do Emmy a vencer na categoria de melhor atriz em série dramática.
Parece inacreditável, mas em 67 anos de história o Emmy nunca havia premiado uma atriz negra como protagonista no segmento dramático. Isso é reflexo, claro, de uma indústria ainda racista, o que foi dito com todas as letras por Viola Davis em seu vitorioso discurso por How to Get Away With Murder. “A única coisa que separa mulheres de cor de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode ganhar o Emmy por papeis que simplesmente não existem”, disse a atriz. É fácil encontrar quem torça o nariz para a série (que, apesar do delicioso guilty pleasure que é, tem sim grandes fragilidades, especialmente no elenco), mas é emblemático o que ela faz. How to Get Away With Murder, como bem apontou sua protagonista, redefine o que é beleza, sensualidade e, principalmente, o que é ser uma mulher negra e protagonista na TV estadunidense. Viola é superlativa na série – e ainda mais fora dela. É um grande ser humano que mereceu quebrar uma barreira até então silenciosa da premiação.
Começo falando sobre a vitória de Viola Davis porque este foi o grande momento do Emmy 2015. Frequentemente surpreendente, a premiação ontem decepcionou por ser a mais previsível em muitos anos. Vale lembrar que não dá para confundir previsibilidade com falta de merecimento, mas o resultado foi cercado de questionamentos, especialmente no que se refere à consagração de Game of Thrones. Indiscutível sucesso de público e crítica, o programa simplesmente não vive um momento unânime, já que sua quinta temporada foi basicamente “ame ou odeie”. Foi curioso ver tantas estatuetas entregues ao seriado quando ele divide tantas opiniões e quando, principalmente, outros programas entregaram uma estabilidade muito maior, como Mad Men e House of Cards. Optaram por Game of Thrones em um acerto de contas aparentemente tardio e excessivo (ninguém entendeu muito bem o prêmio para Peter Dinklage como coadjuvante, por exemplo). Para Mad Men, sobrou apenas o prêmio de melhor ator para Jon Hamm, que felizmente não se juntou a Amy Poehler (Parks and Recreation), Frances Conroy (Six Feet Under), Hugh Laurie (House) e Steve Carell (The Office) como mais um ator indicado merecidamente centenas de vezes e nunca premiado.
Já entre as comédias a situação foi bem mais coerente com o que o binômio público/crítica vem celebrando nesta temporada. Assim como Game of Thrones, a ótima Veep só veio a ser consagrada agora, mas este está longe de ser um mero momento de compensação: o programa estrelado por Julia Louis-Dreyfus realmente está em uma fase brilhante, e o melhor: totalmente em sintonia com as inflamadas eleições que começam a tomar conta dos Estados Unidos. Tem quem reclame de um quarto prêmio consecutivo para Dreyfus como atriz ou de uma segunda vitória de Tony Hale como coadjuvante pela série, só que não há muito o que se discutir: ambos são atores sempre excelentes e que também submeteram episódios certeiros para avaliação.
Veep, a primeira série de canal fechado a vencer a categoria principal de comédia desde Sex and the City, dividiu a atenção da noite com a igualmente ótima Transparent, que levou o prêmio de melhor ator para Jeffrey Tambor (possivelmente a consagração mais justa da noite) e de melhor direção para Jill Soloway. A noite para as comédias serviu ainda para fazer uma varredura completa em antigos vícios intermináveis do Emmy como Modern Family e The Big Bang Theory, séries que finalmente desapareceram da lista de vencedores. Enquanto isso, no segmento das minisséries, tivemos mais (justas) previsibilidades com o total domínio de Olive Kitteridge. Tenho problemas com as lembranças para Richard Jenkins e Bill Murray, dois grandes atores que só venceram por nome ou falta de opção, mas a verdade é que não havia muito a ser feito em suas listas. Confira abaixo os vencedores nas categorias de drama, comédia e minissérie/telefilme:
MELHOR SÉRIE DRAMA: Game of Thrones
MELHOR SÉRIE COMÉDIA: Veep
MELHOR MINISSÉRIE: Olive Kitteridge
MELHOR TELEFILME: Bessie
MELHOR DIREÇÃO DRAMA: David Nutter (Game of Thrones)
MELHOR DIREÇÃO COMÉDIA: Jill Solloway (Transparent)
MELHOR DIREÇÃO MINISSÉRIE/TELEFILME: Lisa Cholodenko (Olive Kitteridge)
MELHOR ROTEIRO DRAMA: David Benioff e D.B. Weiss (Game of Thrones)
MELHOR ROTEIRO COMÉDIA: Armando Iannucci, Simon Blackwell e Tony Roche (Veep)
MELHOR ROTEIRO MINISSÉRIE/TELEFILME: Jane Anderson (Olive Kitteridge)
MELHOR ATOR DRAMA: Jon Hamm (Mad Men)
MELHOR ATOR COMÉDIA: Jeffrey Tambor (Transparent)
MELHOR ATOR MINISSÉRIE/TELEFILME: Richard Jenkins (Olive Kitteridge)
MELHOR ATRIZ DRAMA: Viola Davis (How to Get Away With Murder)
MELHOR ATRIZ COMÉDIA: Julia Louis-Dreyfus (Veep)
MELHOR ATRIZ MINISSÉRIE/TELEFILME: Frances McDormand (Olive Kitteridge)
MELHOR ATOR COADJUVANTE DRAMA: Peter Dinklage (Game of Thrones)
MELHOR ATOR COADJUVANTE COMÉDIA: Tony Hale (Veep)
MELHOR ATOR COADJUVANTE MINISSÉRIE/TELEFILME: Bill Murray (Olive Kitteridge)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE DRAMA: Uzo Aduba (Orange is the New Black)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE MINISSÉRIE/TELEFILME: Regina King (American Crime)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE COMÉDIA: Allison Janney (Mom)
Ninguém entendeu muito bem o prêmio para Peter Dinklage como coadjuvante? Pois entendi muito bem, e acho que quem assistiu MESMO essa season, viu que ele era praticamente o melhor da categoria.
Karlos, eu tenho vários amigos que são fãs de “Game of Thrones” e que concordaram que esta não era uma temporada do Peter Dinklage… E na categoria tinha o Ben Mendehlson, por “Bloodline”, que esteve ótimo em um papel dificílimo…
O discurso da Viola foi emocionante mesmo. E a vitória foi mais do que merecida!
Alan, por mais que eu ache a Cookie Lyon da Taraji P. Henson um arraso, esse ano Viola não tinha concorrência – e merecidamente!
Concordo plenamente com o que você falou Matheus. Fiquei muito feliz com o reconhecimento de Veep que realmente merece. Julia Louis-Dreyfus e Tony Hale possuem uma ótima química e proporcionam ótimos momentos.
Quanto a Game of Thrones foi uma decepção total, considero essa temporada o pior momento de toda a série. Não entendi como deixaram de premiar House of Cards e Mad Man para consagrar Game of Thrones em seu momento mais duvidoso.
E sobre Viola, ela realmente merecia. Ela é uma grande atriz que merece ser sempre reconhecida.
Luísa, e eu teria ido além com “Veep” premiando a Anna Chlumsky como coadjuvante!