
Magnífica 70 e o cinema em tempos de opressão: Marcos Winter é Vicente, censor da ditadura militar que descobre secretamente a paixão por fazer filmes.
É simples dizer que Magnífica 70 é uma série repleta de caricaturas e exageros, seja na construção de seus personagens ou até mesmo na forma como desenvolve e soluciona seus conflitos. Entretanto, essa nova produção da HBO brasileira está longe de ser tão tola assim. Na verdade, a história do atormentado Vicente (Marcos Winter), censor da ditadura militar que se apaixona pelo universo dos filmes da Boca do Lixo, é desenhada a partir de uma metalinguagem interessantíssima. Adotando basicamente os mesmos tons excessivamente acentuados – e por que não quase toscos – em interpretação, direção e texto das pornochanchadas que se consagraram com o público brasileiro na década de 1970, a série conquista pelo tom deliciosamente hiperbólico, mas também por fazer um recorte da ditadura brasileira a partir dos bastidores das produções cinematográficas daquela época. Ou seja, além de sua inteligente jogada narrativa, Magnífica 70 ainda é um retrato criativo desse conturbado período da nossa história exaustivamente explorado no cinema e na TV.
Dirigida em alternância pela dupla Carolina Jabor e Cláudio Torres (ele também é criador, roteirista e produtor), o seriado demanda certo tempo para que o espectador finalmente embarque em sua pegada de excessos. Afinal, não há duvidas de que hoje incomoda o uso carregado de uma trilha que faz questão de sublinhar cada momento da história ou as leituras de antagonistas que não possuem qualquer humanidade. Mais do que isso: a própria estrutura explicativa já é considerada um defeito atualmente, especialmente quando a série utiliza flashbacks a todo momento (inclusive em preto e branco!) para relembrar fatos de episódios anteriores essenciais ao que está sendo discutido, por exemplo. Se não analisássemos a concepção da trama a partir deste viés de homenagem a um cinema que um dia já produzimos, Magnífica 70 seria quase irritante. Reconstituindo com bom humor e dramaticidade as dificuldades de se fazer arte nos tempos de ditadura, o programa se torna gradativamente envolvente, fazendo com que perdoemos escolhas questionáveis em qualquer recorte de tempo, como o tratamento dado ao general vivido por Paulo César Pereio, um homem cuja única missão na história é fazer o mal em todas as formas possíveis.

E o que falar das musas? Simone Spoladore é Dora Dumar, atriz que desponta no cinema da Boca de Lixo ao mesmo tempo em que administra uma conturbada e perigosa relação com seu irmão.
Aceitando que Magnífica 70 é divertida pela reprodução intencional desses cacoetes, encontramos uma excelente atração da HBO latino-americana. Da abertura que traz a irresistível canção Sangue Latino, do Secos e Molhados, aos próprios conflitos super novelescos, a série, que já foi renovada para uma segunda temporada, se sai muito bem ao evoluir seus conflitos a partir dos bastidores de um filme fictício chamado Minha Cunhada é de Morte. Entretanto, o texto também dá conta do recado até mesmo quando precisa colocar o protagonista Vicente no centro de discussões sobre quais aspectos determinavam a censura de obras no cinema ou sobre como se configuravam as relações de poder entre homens e mulheres naquele período. Isso tudo é encenado com fluidez porque Jabor e Torres compreenderam o tino cômico e os elementos dramáticos fundamentais para que tal homenagem aos tempos do cinema da Boca de Lixo funcionasse.
A jornada, claro, não poderia ser bem sucedida se o elenco também não estivesse totalmente em sintonia com a proposta de Magnífica 70. Felizmente, o grupo de atores reunido aqui é especial, começando pelo protagonista Marcos Winter, um ator que nunca chegou perto da quinta grandeza, mas que aqui funciona perfeitamente como um sujeito certinho e perturbado que finalmente encontra uma verdadeira vocação em sua vida – e pouco importa se, para as regras da época, ela apontava para o proibido. Enquanto pequenas participações como a de Stepan Necerssian dão conta do alívio cômico, as mulheres são as responsáveis por roubar a cena. E que mulheres! Simone Spoladore é ótima como a desejada (mas trambiqueira) estrela Dora Dumar, e Maria Luísa Mendonça tem um dos arcos dramáticos mais interessantes da primeira temporada como a esposa reprimida que aos poucos descobre os mais variados tipos de liberdade. São todos rostos certos para uma história bem conduzida em uma série que, fora seu valor histórico, sabe muito bem sobre o que e principalmente como está falando.
Podemos ver uma homenagem ao cinema brasileiro na série Magnifica 70, O elenco parece grande, Marcos Winter, Simone Spoladore, Adriano Garib, Joana Fromm, entre outros. o que nos coloca precisamente na década de 70 em São Paulo, em um momento difícil para o país com uma ditadura militar e filme censurado, onde ele não poderia falar sobre a sexualidade ou crítica governo. Na série, o protagonista, Vicente, trabalha dando relatórios têm de censurar filmes. Admiração e fascínio por um protagonista desses filmes leva a Boca de Lixio para trabalhar como director no lindo produtor de Maginfica cinematografica, uma atmosfera de desejo e proibição.
Preciso fazer uma maratona e ver tudo de uma vez. Estou super curioso para assistir essa série, mas ainda não tive uma brecha. =/
Alan, embarcando na metalinguagem, “Magnífica 70” é pura diversão!
Infelizmente, não estou conseguindo acompanhar seriados, ultimamente. Mas eu sempre gostei muito dos seriados produzidos pela HBO.
Kamila, fazia tempo que eu não conferia uma série brasileira, e minha retomada começou com o pé direito ao escolher “Magnífica 70”!
Adoro quando Vicente diz pro ator/diretor lá: “você não comeu a minha mulher, foi ela que te comeu”.
♥ Magnifica 70
Lou, é muito bão!