Cinema e Argumento

Adeus, 2013! (e as melhores cenas do ano)

Preciso fazer uma confissão: em 2013, estive mais distante do cinema em termos de leitura e escrita. Talvez isso não se reflita tanto aqui no blog, que continuou na ativa, mas, nos bastidores, a história foi bem diferente. Em 2013, não tive o tempo que tanto aprecio para pensar, escrever e revisar um texto.

Na maioria das vezes, escrevia em um dia e publicava no outro. Dessa forma, cambaleei e, sinceramente, pensei em desistir do Cinema e Argumento por tempo indeterminado. Não consegui. Amo demais isso aqui para simplesmente abandonar tudo depois de seis anos de história.

Só que essa situação toda se instalou porque 2013 foi, possivelmente, o ano mais movimentado de toda a minha vida. Por isso, me perdi no meio de tantas séries e não assisti a tantos filmes quanto gostaria. Mas a vida chamava, e eu tinha que atender. Profissionalmente e pessoalmente, foi um ano de mudanças. Radicais mesmo, sem exageros, em todas as instâncias. Algumas demandando tempo, outras, o meu coração e a minha força de espírito.

Foi cansativo, mas estou orgulhoso de tudo que alcancei no ano que passou. Por isso, que venha 2014! Um feliz ano novo a todos, repleto de felicidades e sonhos realizados! Fiquem, por enquanto, com as minhas cenas favoritas do ano. Um abraço a todos e obrigado pela companhia!

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Stéphanie (Marion Cotillard) relembra seus tempos de treinadora ao som de “Firework”, em Ferrugem e Osso

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Elizabeth Bishop (Miranda Otto) lê “Uma Arte” na última cena de Flores Raras

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A abertura de Indomável Sonhadora

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Fantine (Anne Hathaway) canta “I Dreamed a Dream” em Os Miseráveis

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O pôr-do-sol em Antes da Meia-Noite

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A primeira sessão de Freddie (Joaquin Phoenix) e Lancaster (Philip Seymour Hoffman) em O Mestre

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Ryan (Sandra Bullock) tenta chegar à Terra no final de Gravidade

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Phillips (Tom Hanks) é examinado por médicos em Capitão Phillips

As franquezas de Violet (Meryl Streep) no primeiro jantar de Álbum de Família

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Clécio (Irandhir Santos) canta “Esse Cara” em Tatuagem

CLOSE 2013: vencedores

Cerimônia de premiação do CLOSE 2013 aconteceu neste domingo (08), no Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, em Porto Alegre

Cerimônia de premiação do CLOSE 2013 aconteceu neste domingo (08), no Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, em Porto Alegre

A variedade de propostas e estilos da mostra competitiva do CLOSE 2013 se refletiu na própria lista de premiados, divulgada na noite deste domingo (08), no Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, em Porto Alegre. Democrática e bastante coerente, conseguiu fazer um bom resumo do que o Festival apresentou de melhor neste ano.

Se Garotas da Moda, o vencedor principal, não foi um dos meus favoritos (as protagonistas marcam mais do que o documentário em si), a justiça foi feita com Codinome Beija-Flor (o melhor da mostra) levando júri popular e Antes de Palavras conquistando reconhecimento por seu ótimo roteiro. Interessante foi ver que o perfil polêmico de Filme Para Poeta Cego não se revelou um empecilho para o curta ser lembrado: o filme de Gustavo Vinagre se saiu vitorioso em melhor direção, desenho de som e direção de arte.

No mais, a surpresa de ver Fernanda Montenegro perdendo melhor atriz por A Dama do Estácio (acabou recebendo uma menção honrosa) logo foi justificada com a vitória de Sandra Dani por Linda, Uma História Horrível, um curta que também merecia figurar de alguma forma entre os vencedores. Enquanto isso, o jovem Jesuíta Barbosa foi o melhor ator por seu excelente desempenho em O Melhor Amigo.

O grande porém dessa lista é a ausência de O Pacoteum dos melhores exemplares da mostra competitiva que não levou um prêmio sequer. De qualquer forma, o júri formado por Jezebel De Carli (RS, diretora), Lufe Steffen (SP, cineasta) e Jorge Alencar (BA, diretor e encenador) fez um trabalho à altura dos filmes. Que venha o CLOSE 2014!

MELHOR FILME: Garotas da Moda
MELHOR FILME (JÚRI POPULAR): Codinome Beija-Flor
MELHOR DIREÇÃO: Gustavo Vinagre (Filme Para Poeta Cego)
MELHOR ATRIZ: Sandra Dani (Linda, Uma História Horrível)
MELHOR ATOR: Jesuíta Barbosa (O Melhor Amigo)
MELHOR ROTEIRO: Antes de Palavras
MELHOR FOTOGRAFIA: Trevas
MELHOR MONTAGEM: Linda, Uma História Horrível
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Filme Para Poeta Cego
MELHOR DESENHO DE SOM: Filme Para Poeta Cego
MENÇÃO HONROSA: Fernanda Montenegro, pela atuação no filme A Dama do Estácio e pela trajetória artística

CLOSE 2013: Mostra Competitiva II

Fernanda Montenegro está na mostra competitiva do CLOSE 2013 com o curta A Dama do Estácio

Fernanda Montenegro está na mostra competitiva com o curta A Dama do Estácio

As expectativas foram atendidas e essa segunda parte da mostra competitiva do CLOSE 2013 manteve o nível da primeira, com curtas de temáticas e estilos bastante variados – alguns até polêmicos e outros com grandes atrizes (caso de A Dama do Estácio, com Fernanda Montenegro). Confira o que rolou hoje nessa programação, que incluiu dois documentários e três ficções:

FILME PARA POETA CEGO, de Gustavo Vinagre: É um dos curtas mais polêmicos desta mostra pela grande miscelânea de temas difíceis que se concentram na figura de seu protagonista, o poeta Glauco Mattoso. Cego, gay, masoquista e podólatra, ele abre sua vida sem qualquer receio para o diretor Gustavo Vinagre, que documenta tudo desprovido de preconceitos e ainda experimenta um pouco (vamos preservar maiores surpresas) da vida do personagem que retrata. E aí está a benção e a maldição de Filme Para Poeta Cego: ao mesmo tempo em que sua coragem de mostrar os fetiches de Mattoso é um dos pontos altos do curta, não são todos que vão entrar na história e comprar a difícil proposta do documentário. Claro que cinema varia de pessoa para pessoa, mas certos filmes parecem feitos para causar divisões. Esse, ao meu ver, é um deles.

A DAMA DO ESTÁCIO, de Eduardo Ades: Este curta é uma homenagem ao longa A Falecida, de Leon Hirszman, que trazia uma mulher obcecada pela ideia da morte e ansiosa para ter um enterro de luxo. A mesma premissa é basicamente seguida por A Dama do Estácio, também com Fernanda Montenegro, agora vivendo uma prostituta que está com a ideia fixa de que vai morrer e que deseja comprar logo seu caixão. O problema é que, fora a sempre gratificante presença dessa atriz singular, o curta nunca deixa devidamente clara a sua premissa. Os planos longos (e sem razões para tal), o resto do elenco fora de tom (incluindo Nelson Xavier) e a falta de força de momentos intimistas mostram que, se Fernanda Montenegro tem seus momentos, é por ela mesma, e não pelas chances de A Dama do Estácio, um dos curtas mais decepcionantes da mostra competitiva deste ano.

LINDA, UMA HISTÓRIA HORRÍVEL, de Bruno Gularte Barreto: O título pouco diz sobre o clima melancólico do curta. “Me deu uma saudade de tudo”, diz o protagonista, quando chega de surpresa para visitar a mãe durante a madrugada. E é exatamente sobre isso que Linda, Uma História Horrível fala: saudades, arrependimentos, distâncias… Fernando (Rafael Régoli) tenta se aproximar da mãe (Sandra Dani), mas uma barreira entre os dois (obviamente o fato do filho ser homossexual) impede que maiores conexões se estabeleçam. Ele quer falar, mas ela não quer ouvir, em um relato que é fiel a essa condição tão corriqueira para filhos gays. Em apenas uma conversa, milhões de assuntos abordados com a devida sobriedade e pesar. Ainda que não seja revolucionário em termos de estrutura ou conteúdo, Linda, Uma História Horrível, baseado em conto homônimo de Caio Fernando Abreu, é de uma sinceridade admirável. Simplesmente a vida como ela é. Precisa pedir mais?

O OLHO E O ZAROLHO, de René Guerra e Juliana Vicente: O diretor René Guerra está duplamente presente no CLOSE 2013: primeiro na mostra paralela com Quem Tem Medo de Cris Negão? e, agora, na mostra competitiva com O Olho e o Zarolho, onde compartilha o trabalho de direção com Juliana Vicente. Aqui, ele mostra o cotidiano de duas mulheres que, juntas, criam um filho que já frequenta a escola. Tudo está aparentemente bem, até que uma delas começa a se preocupar com o fato de os desenhos do pequeno serem todos pretos, sem qualquer cor. Essa preocupação desencadeará várias outras, onde a protagonista chegará a questionar se cumpre bem ou não o papel de mãe. Com uma pequena participação da sempre ótima Léa Garcia, O Olho e o Zarolho tem seu foco maior nessa dinâmica familiar e menos em questões envolvendo a sexualidade das mães – o que é sempre uma boa escolha. Com isso, o curta só ganha em contemporaneidade e originalidade.

GAROTAS DA MODA, de Tuca Siqueira: Poderia ser apenas um mero documentário sobre um grupo de cinco travestis e transsexuais, mas Garotas da Moda tem uma circunstância que dá um leve diferencial a esse curta de Tuca Siqueira: a geografia. As garotas do título não estão na cidade grande e sim em Goiana, cidade distante 62 km de Recife, onde, segundo elas, tudo é atrasado – até mesmo o novo cd da Beyoncé, que só chega depois do novo álbum do Belo. É atípico porque elas marcam seu território em uma cidade que, devido ao seu tamanha, tem o dobro de fofocas e preconceitos de uma capital. As garotas têm uma clientela para as suas costuras, são estrelas da parada gay de Goiana e, dadas as limitações de alguns receios, procuram se integrar como qualquer outra pessoa. Como relato, não existe nada de novo, mas as personagens chamam a atenção e conquistam com grande simpatia – o que, para um documentário, é sempre um ponto a favor.

CLOSE 2013: Mostra Competitiva I

Antes de Palavras mostra  como o auto-descobrimento de um garoto afeta diferentes pessoas em uma escola

Antes de Palavras mostra como o auto-descobrimento de um garoto afeta suas dinâmicas pessoais e escolares

A mostra competitiva do CLOSE 2013 começou hoje com uma interessante média de qualidade entre os curtas-metragens apresentados. Histórias jovens e documentários foram os destaques dessa primeira leva, que já deixa certa expectativa para o que iremos conferir amanhã com mais cinco curtas. Resta saber como o júri vai se comportar com produções e propostas bem diferentes e eficientes – cada uma ao seu modo. Abaixo, nossos comentários.

CODINOME BEIJA-FLOR, de Higor Rodrigues: Escapando de qualquer discurso didático sobre a AIDS, esse intenso curta fala sobre a doença com uma abordagem extremamente humana. Isso porque o diretor Higor Rodrigues selecionou casos extremamente atípicos para falar sobre o tema. Aqui, não vemos homossexuais falando sobre como é a vida pós-descoberta da AIDS, e sim héteros, das mais variadas idades e circunstâncias. Duas histórias particularmente impressionam: a de um jovem garoto que traiu a namorada com alguém com suspeita de AIDS e que não quer fazer o teste para saber se tem a doença e a de uma senhora que nunca considerou que alguém como ela (uma mulher de idade) pudesse estar nessa situação. Concorrente da mostra gaúcha do 41º Festival de Cinema de Gramado, Codinome Beija-Flor impacta não só por sua utilidade pública, mas por seu alto valor humano e pela admirável decisão do diretor de fazer algo completamente fora do convencional. Que o CLOSE faça justiça a esse curta bastante especial.

TREVAS, de Will Domingos: É um estilo que particularmente não me agrada: o de usar o “nada” para falar sobre solidões, silêncios e reflexões. A diretora Sofia Coppola já se perdeu muito nesse formato e dá para dizer que o diretor Will Domingos quase cai na mesma armadilha de mostrar nada ao falar sobre…  nada. A sinopse já acusa um filme introspectivo – “Dois visitantes chegam a uma cidade do interior. Juntos no mesmo lugar, alguns mergulhos solitários” -, mas o problema é a duração de Trevas: são 25 minutos longos e, ao meu ver, frequentemente redundantes. A dupla principal está muito à vontade, o clima interiorano é bem explorado e o curta em si tem uma boa ambientação, mas parece que falta história – o que está diretamente ligado ao frequente problema mencionado anteriormente. Mas, assim como muitos apontam Sofia Coppola como injustiçada por retratar histórias desse estilo, pode ser que Will Domingos também tenha tido uma parcela de incompreensão por minha parte nesse caso.

O PACOTE, de Rafael Aidar: Filme que se estrutura a partir de um segredo a ser revelado pelo protagonista, O Pacote se sai muito bem primeiro ao construir o clima para a chegada dessa revelação ao espectador e depois para que o próprio personagem entregue a verdade para a pessoa mais interessada em sabê-la na trama. O final otimista incomoda – não por ser feliz (até porque essa escolha chega a ser inspiradora), mas por ser abrupto demais para um curta tão calmo ao esmiuçar seus conflitos e desenvolver as relações entre os personagens. O Pacote também é jovem, dinâmico e, acima de tudo, parecido com a realidade: percebam como todos os atores, por exemplo, estão muito distantes dos rostos e corpos idealizados em uma Malhação da vida. Essa aproximação deles como tipos que nós conhecemos em nossas próprias vidas, bem como a naturalidade de cada um ao desenvolver figuras gays nem um pouco estereotipadas, ajuda O Pacote a se firmar como um relato envolvente e recompensador.

O MELHOR AMIGO, de Allan Deberton: Chega a ser até angustiante o relato do dia de um menino (Jesuíta Barbosa) que está veraneando com o seu melhor amigo. Angustiante no sentido de que o curta sabe explorar muito bem o sofrimento silencioso do protagonista, que é apaixonado pelo amigo heterossexual. Muito desse resultado se deve ao ótimo desempenho do jovem Jesuíta Barbosa – recentemente visto no ótimo Tatuagem -, que se reafirma como uma das grandes promessas de sua geração. O curta é basicamente sobre esse seu sentimento reprimido e a escolha é acertada, uma vez que o roteiro prefere se centrar mais na interpretação de Jesuíta do que propriamente em sucessões de cenas que evidenciem essa atração. Ponto para o jovem e ator e para O Melhor Amigo, que ainda tem momentos bastante intimistas (gosto especialmente da cena do brigadeiro) e uma conclusão que não faz questão de trazer soluções para tudo.

ANTES DE PALAVRAS, de Diego Carvalho Sá: Um curta que merece reconhecimento pela sensibilidade com que lida com diversos temas delicados, como a auto-descoberta de um garoto que até então se considerava heterossexual e a de uma menina que precisa processar o fato de que seu namorado não gosta exclusivamente do sexo feminino. Delicadeza é a palavra-chave de Antes de Palavras, que tem uma estrutura muito funcional (o foco se alterna entre os três personagens centrais) e momentos realmente especiais, como a última conversa entre os personagens vividos por Maurício Destri e Marcela Arnulf, ambos ótimos. A sequência que menos envolve, entretanto, é a de Dario (Henrique Larré), seja pela falta de novidades de sua storyline (comparado aos outros, é uma figura unidimensional) ou pelo próprio ator, que ainda parece repetir o seu papel de Os Famosos e os Duendes da Morte na hora de construir figuras introspectivas e de poucas palavras. Mas nada que tire a bela simplicidade do curta, que ainda encerra sua história no momento exato.

CLOSE 2013: Mostra Paralela II

André Stern é o protagonista de Algumas Mortes, o melhor curta do segundo dia da mostra paralela

André Stern é o protagonista de Algumas Mortes, o melhor curta do segundo dia da mostra paralela

Em comparação ao primeiro dia da mostra paralela, essa segunda sequência de curtas do mesmo mesmo segmento do CLOSE 2013 certamente se saiu melhor com produções mais interessantes e bem resolvidas em termos de narrativa e estética. Tivemos pelo menos um curta realmente admirável nesta segunda parte da mostra, além de outros estilos bem variados, do suspense ao documentário. Fiquem abaixo com breves comentários sobre as produções. E, a partir de amanhã, acompanhem nossa cobertura da mostra competitiva do Festival – que terá seus vencedores anunciados no próximo domingo (08).

ALGUMAS MORTES, de Lucas Camargo de Barros: Pena que este curta esteja apenas na mostra paralela, quando merecia, sem dúvida, estar na competitiva. Pela sutileza e sobriedade com que trata de diversos temas e pela estética bem pensada (atenção para a fotografia nebulosa que diz muito sobre protagonista e para o excelente trabalho de som), Algumas Mortes conquista justamente porque é muito parecido com a vida real e também por ser de poucas palavras, distante da necessidade de ter que verbalizar e escancarar seus conflitos. A relação de um menino gay com a mãe, suas angústias próprias e os momentos introspectivos de dias reflexivos levam o espectador para dentro de um universo próximo da vida como a conhecemos. Tudo isso em meros dez minutos, onde menos é sinônimo de mais.

QUEM TEM MEDO DE CRIS NEGÃO?, de René Guerra: Nunca é fácil fazer um documentário sobre uma figura já falecida e relativamente desconhecida. Ela não está mais ali para que possamos investigá-la ou para estar, claro, presente na produção, dando ao espectador uma dimensão mais precisa de quem realmente é. Entretanto, Quem Tem Medo de Cris Negão?, sobre a última cafetina travesti da região da região da Amaral Gurgel, em São Paulo, consegue construir a imagem de sua personagem mesmo com todas essas supostas limitações. Ao longo de 25 minutos, conseguimos ter um panorama bem completo sobre a figura-título, já que todos os depoimentos selecionados pelo diretor René Guerra são categóricos para definir quem realmente era Cris Negão, aqui analisada por amigos e também por conhecidos que não estão ali necessariamente para saudar sua imagem. Não chega a ser inventivo como propõe nos primeiros minutos, mas cumpre sua função como documentário.

CARLITO, UM LUTADOR, de Luiz Cruz: Desta segunda e última leva de curtas da mostra paralela do CLOSE 2013, foi o curta que menos chamou a minha atenção. Mostrando o encontro de um sujeito que resolve ajudar Carlito, ex-boxeador que acaba de ser espancado na rua, o filme se concentra nesse encontro dois dois, onde ambos discutem fatos que evidenciam angústias, desejos e preconceitos. Mas a situação toda tem vários aspectos implausíveis (especialmente a parte em que o protagonista sai correndo do próprio apartamento deixando um estranho sozinho nele!), seja pelo desempenho dos atores ou pelas próprias tentativas dos diálogos de criar uma ponte entre os dois personagens com um confronto de personalidades bastante opostas.

FERIADO, de Alexander Siqueira: Existe uma linha muito tênue entre a paródia e o over. Linha essa que Feriado consegue mais ou menos equilibrar. Os exageros – sejam de interpretação ou da própria maneira como alguns personagens surgem estereotipados – se prestam a proposta desse curta de realizar um suspense/terror com protagonistas gays. O que limita Feriado é como a história em si não se sustentaria com o mesmo tom caso fosse encenada por heterossexuais. O velho final de semana em uma cabana isolada do mundo onde jovens bebem, riem e fazem sexo até algo misterioso começar a ameaçá-los já foi apresentado infinitas vezes, das mais variadas formas. Por isso, o resultado tem sua graça como paródia apenas por colocar garotos gays como protagonistas e não pela forma como se desenvolve ou se propõe a discutir algumas questões, que incluem, por exemplo, o velho debate de homossexualidade ser uma “opção” e uma lição de moral ao final que não combina com o clima do curta.

SOBRE A PELE E A PAREDE, de Laura Kleinpaul e Henrique Larré: São dois filmes dentro de um, o que reflete um resultado (problema?) muito frequente em filmes de direção compartilhada. De um lado, uma história jovem e pop, que chega quase a ter um tom de videoclipe. De outro, algo mais metafórico (claramente identificável com a tal caixa carregada pelo protagonista) e de complexidades. Visualmente interessante, Sobre a Pele e a Parede, para o meu gosto pessoal, ganha maiores pontos com o primeiro filme, especialmente nas cenas ambientadas dentro de uma festa e que dão o clima ideal a essa história de auto-descoberta. Já a outra proposta parece não casar muito com o curta dinâmico e contemporâneo que é dono dos melhores momentos. Tirando essas complexidades que soam mais como insistências indies em um contexto que poderia muito bem só ganhar sem elas, Sobre a Pele e a Parede é um curta envolvente sensorialmente.