CLOSE 2013: Mostra Paralela II

André Stern é o protagonista de Algumas Mortes, o melhor curta do segundo dia da mostra paralela

André Stern é o protagonista de Algumas Mortes, o melhor curta do segundo dia da mostra paralela

Em comparação ao primeiro dia da mostra paralela, essa segunda sequência de curtas do mesmo mesmo segmento do CLOSE 2013 certamente se saiu melhor com produções mais interessantes e bem resolvidas em termos de narrativa e estética. Tivemos pelo menos um curta realmente admirável nesta segunda parte da mostra, além de outros estilos bem variados, do suspense ao documentário. Fiquem abaixo com breves comentários sobre as produções. E, a partir de amanhã, acompanhem nossa cobertura da mostra competitiva do Festival – que terá seus vencedores anunciados no próximo domingo (08).

ALGUMAS MORTES, de Lucas Camargo de Barros: Pena que este curta esteja apenas na mostra paralela, quando merecia, sem dúvida, estar na competitiva. Pela sutileza e sobriedade com que trata de diversos temas e pela estética bem pensada (atenção para a fotografia nebulosa que diz muito sobre protagonista e para o excelente trabalho de som), Algumas Mortes conquista justamente porque é muito parecido com a vida real e também por ser de poucas palavras, distante da necessidade de ter que verbalizar e escancarar seus conflitos. A relação de um menino gay com a mãe, suas angústias próprias e os momentos introspectivos de dias reflexivos levam o espectador para dentro de um universo próximo da vida como a conhecemos. Tudo isso em meros dez minutos, onde menos é sinônimo de mais.

QUEM TEM MEDO DE CRIS NEGÃO?, de René Guerra: Nunca é fácil fazer um documentário sobre uma figura já falecida e relativamente desconhecida. Ela não está mais ali para que possamos investigá-la ou para estar, claro, presente na produção, dando ao espectador uma dimensão mais precisa de quem realmente é. Entretanto, Quem Tem Medo de Cris Negão?, sobre a última cafetina travesti da região da região da Amaral Gurgel, em São Paulo, consegue construir a imagem de sua personagem mesmo com todas essas supostas limitações. Ao longo de 25 minutos, conseguimos ter um panorama bem completo sobre a figura-título, já que todos os depoimentos selecionados pelo diretor René Guerra são categóricos para definir quem realmente era Cris Negão, aqui analisada por amigos e também por conhecidos que não estão ali necessariamente para saudar sua imagem. Não chega a ser inventivo como propõe nos primeiros minutos, mas cumpre sua função como documentário.

CARLITO, UM LUTADOR, de Luiz Cruz: Desta segunda e última leva de curtas da mostra paralela do CLOSE 2013, foi o curta que menos chamou a minha atenção. Mostrando o encontro de um sujeito que resolve ajudar Carlito, ex-boxeador que acaba de ser espancado na rua, o filme se concentra nesse encontro dois dois, onde ambos discutem fatos que evidenciam angústias, desejos e preconceitos. Mas a situação toda tem vários aspectos implausíveis (especialmente a parte em que o protagonista sai correndo do próprio apartamento deixando um estranho sozinho nele!), seja pelo desempenho dos atores ou pelas próprias tentativas dos diálogos de criar uma ponte entre os dois personagens com um confronto de personalidades bastante opostas.

FERIADO, de Alexander Siqueira: Existe uma linha muito tênue entre a paródia e o over. Linha essa que Feriado consegue mais ou menos equilibrar. Os exageros – sejam de interpretação ou da própria maneira como alguns personagens surgem estereotipados – se prestam a proposta desse curta de realizar um suspense/terror com protagonistas gays. O que limita Feriado é como a história em si não se sustentaria com o mesmo tom caso fosse encenada por heterossexuais. O velho final de semana em uma cabana isolada do mundo onde jovens bebem, riem e fazem sexo até algo misterioso começar a ameaçá-los já foi apresentado infinitas vezes, das mais variadas formas. Por isso, o resultado tem sua graça como paródia apenas por colocar garotos gays como protagonistas e não pela forma como se desenvolve ou se propõe a discutir algumas questões, que incluem, por exemplo, o velho debate de homossexualidade ser uma “opção” e uma lição de moral ao final que não combina com o clima do curta.

SOBRE A PELE E A PAREDE, de Laura Kleinpaul e Henrique Larré: São dois filmes dentro de um, o que reflete um resultado (problema?) muito frequente em filmes de direção compartilhada. De um lado, uma história jovem e pop, que chega quase a ter um tom de videoclipe. De outro, algo mais metafórico (claramente identificável com a tal caixa carregada pelo protagonista) e de complexidades. Visualmente interessante, Sobre a Pele e a Parede, para o meu gosto pessoal, ganha maiores pontos com o primeiro filme, especialmente nas cenas ambientadas dentro de uma festa e que dão o clima ideal a essa história de auto-descoberta. Já a outra proposta parece não casar muito com o curta dinâmico e contemporâneo que é dono dos melhores momentos. Tirando essas complexidades que soam mais como insistências indies em um contexto que poderia muito bem só ganhar sem elas, Sobre a Pele e a Parede é um curta envolvente sensorialmente.

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