CLOSE 2013: Mostra Competitiva I

Antes de Palavras mostra  como o auto-descobrimento de um garoto afeta diferentes pessoas em uma escola

Antes de Palavras mostra como o auto-descobrimento de um garoto afeta suas dinâmicas pessoais e escolares

A mostra competitiva do CLOSE 2013 começou hoje com uma interessante média de qualidade entre os curtas-metragens apresentados. Histórias jovens e documentários foram os destaques dessa primeira leva, que já deixa certa expectativa para o que iremos conferir amanhã com mais cinco curtas. Resta saber como o júri vai se comportar com produções e propostas bem diferentes e eficientes – cada uma ao seu modo. Abaixo, nossos comentários.

CODINOME BEIJA-FLOR, de Higor Rodrigues: Escapando de qualquer discurso didático sobre a AIDS, esse intenso curta fala sobre a doença com uma abordagem extremamente humana. Isso porque o diretor Higor Rodrigues selecionou casos extremamente atípicos para falar sobre o tema. Aqui, não vemos homossexuais falando sobre como é a vida pós-descoberta da AIDS, e sim héteros, das mais variadas idades e circunstâncias. Duas histórias particularmente impressionam: a de um jovem garoto que traiu a namorada com alguém com suspeita de AIDS e que não quer fazer o teste para saber se tem a doença e a de uma senhora que nunca considerou que alguém como ela (uma mulher de idade) pudesse estar nessa situação. Concorrente da mostra gaúcha do 41º Festival de Cinema de Gramado, Codinome Beija-Flor impacta não só por sua utilidade pública, mas por seu alto valor humano e pela admirável decisão do diretor de fazer algo completamente fora do convencional. Que o CLOSE faça justiça a esse curta bastante especial.

TREVAS, de Will Domingos: É um estilo que particularmente não me agrada: o de usar o “nada” para falar sobre solidões, silêncios e reflexões. A diretora Sofia Coppola já se perdeu muito nesse formato e dá para dizer que o diretor Will Domingos quase cai na mesma armadilha de mostrar nada ao falar sobre…  nada. A sinopse já acusa um filme introspectivo – “Dois visitantes chegam a uma cidade do interior. Juntos no mesmo lugar, alguns mergulhos solitários” -, mas o problema é a duração de Trevas: são 25 minutos longos e, ao meu ver, frequentemente redundantes. A dupla principal está muito à vontade, o clima interiorano é bem explorado e o curta em si tem uma boa ambientação, mas parece que falta história – o que está diretamente ligado ao frequente problema mencionado anteriormente. Mas, assim como muitos apontam Sofia Coppola como injustiçada por retratar histórias desse estilo, pode ser que Will Domingos também tenha tido uma parcela de incompreensão por minha parte nesse caso.

O PACOTE, de Rafael Aidar: Filme que se estrutura a partir de um segredo a ser revelado pelo protagonista, O Pacote se sai muito bem primeiro ao construir o clima para a chegada dessa revelação ao espectador e depois para que o próprio personagem entregue a verdade para a pessoa mais interessada em sabê-la na trama. O final otimista incomoda – não por ser feliz (até porque essa escolha chega a ser inspiradora), mas por ser abrupto demais para um curta tão calmo ao esmiuçar seus conflitos e desenvolver as relações entre os personagens. O Pacote também é jovem, dinâmico e, acima de tudo, parecido com a realidade: percebam como todos os atores, por exemplo, estão muito distantes dos rostos e corpos idealizados em uma Malhação da vida. Essa aproximação deles como tipos que nós conhecemos em nossas próprias vidas, bem como a naturalidade de cada um ao desenvolver figuras gays nem um pouco estereotipadas, ajuda O Pacote a se firmar como um relato envolvente e recompensador.

O MELHOR AMIGO, de Allan Deberton: Chega a ser até angustiante o relato do dia de um menino (Jesuíta Barbosa) que está veraneando com o seu melhor amigo. Angustiante no sentido de que o curta sabe explorar muito bem o sofrimento silencioso do protagonista, que é apaixonado pelo amigo heterossexual. Muito desse resultado se deve ao ótimo desempenho do jovem Jesuíta Barbosa – recentemente visto no ótimo Tatuagem -, que se reafirma como uma das grandes promessas de sua geração. O curta é basicamente sobre esse seu sentimento reprimido e a escolha é acertada, uma vez que o roteiro prefere se centrar mais na interpretação de Jesuíta do que propriamente em sucessões de cenas que evidenciem essa atração. Ponto para o jovem e ator e para O Melhor Amigo, que ainda tem momentos bastante intimistas (gosto especialmente da cena do brigadeiro) e uma conclusão que não faz questão de trazer soluções para tudo.

ANTES DE PALAVRAS, de Diego Carvalho Sá: Um curta que merece reconhecimento pela sensibilidade com que lida com diversos temas delicados, como a auto-descoberta de um garoto que até então se considerava heterossexual e a de uma menina que precisa processar o fato de que seu namorado não gosta exclusivamente do sexo feminino. Delicadeza é a palavra-chave de Antes de Palavras, que tem uma estrutura muito funcional (o foco se alterna entre os três personagens centrais) e momentos realmente especiais, como a última conversa entre os personagens vividos por Maurício Destri e Marcela Arnulf, ambos ótimos. A sequência que menos envolve, entretanto, é a de Dario (Henrique Larré), seja pela falta de novidades de sua storyline (comparado aos outros, é uma figura unidimensional) ou pelo próprio ator, que ainda parece repetir o seu papel de Os Famosos e os Duendes da Morte na hora de construir figuras introspectivas e de poucas palavras. Mas nada que tire a bela simplicidade do curta, que ainda encerra sua história no momento exato.

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