Foi necessário um período dois anos para que o roteiro de A Vida Invisível chegasse à sua estrutura final. Ao longo desse tempo, Karim Aïnouz e Murilo Hauser, que tomavam como base, claro, o livro A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha, discutiram muitos pontos que poderiam funcionar na literatura, mas que, no cinema, talvez pudessem soar menos orgânicos para o ritmo da narrativa (a grande quantidade de saltos no tempo, por exemplo). Procurando manter a essência do romance de Martha Batalha, a dupla também propôs ajustes pontuais, como o fato de Eurídice tocar piano — e não flauta, como originalmente escrito —, um instrumento muito mais visual e que amplia a linguagem corporal da personagem.
A mistura de reverência ao livro de origem com a plena consciência de que literatura é uma coisa e cinema é outra confere ao roteiro de A Vida Invisível uma grande delicadeza. Estruturalmente bem resolvido (Karim e Murilo ainda desconstruíram o texto original para colocá-lo em ordem cronológica e, a partir daí, definirem a gênese dramática e o formato da narrativa), a adaptação contempla diversos temas — a emancipação feminina, o machismo, a relação entre irmãs, a passagem do tempo — com grande comoção, provando que é possível sim fazer um melodrama bem dosado e com raízes novelescas admiráveis. Ainda disputavam a categoria: Greta, Poderia Me Perdoar?, Querido Menino e Se a Rua Beale Falasse.
EM ANOS ANTERIORES: 2018 – Me Chame Pelo Seu Nome | 2017 – Minha Vida de Abobrinha | 2016 – Carol | 2015 – 45 Anos | 2014 – Garota Exemplar | 2013 – Azul é a Cor Mais Quente | 2012 – Precisamos Falar Sobre o Kevin | 2011 – A Pele Que Habito | 2010 – Direito de Amar | 2009 – Dúvida | 2008 – Desejo e Reparação | 2007 – Notas Sobre Um Escândalo