Manter a essência do material original e ainda assim ajustar aspectos dele na hora da transposição ao cinema é uma tarefa complicada que Phyllis Nagy cumpre com louvor em Carol. Adaptando o romance homônimo de Patricia Highsmith, Nagy, que antes só havia escrito o roteiro de um telefilme muito mediano (Mrs. Harris, com Annette Benning e Ben Kingsley), é fidelíssima ao preservar a abordagem íntima do livro lançado por Highsmith nos anos 1950 sob o título de The Price of Salt e o pseudônimo de Claire Morgan. O romance é o retrato de uma época difícil que Highsmith, por ser homossexual, conhecia muito bem, além de ser o registro pessoal de uma grande paixão que, com a habilidade da escritora, tem o mérito de se tornar reconhecível a qualquer leitor. E o roteiro de Carol preserva tudo isso na versão cinematográfica, utilizando-se de uma narrativa onde os significados dos pequenos momentos pesam muito mais do que qualquer reviravolta possível. Por sinal, o roteiro do filme consegue ser ainda mais econômico (ou delicado, como quiserem) na construção do relacionamento de Carol (Cate Blanchett) e Therese (Rooney Mara), ajustando a dimensão de conflitos (o namorado de Therese, que, no livro, tem presença muito maior e conflituosa, surge mais comedido na versão cinematográfica) e o timing de determinados acontecimentos (tanto a verbalização do amor entre as protagonistas quanto a resolução do relacionamento ao final do longa se desenvolvem de forma mais apurada). É o equilíbrio perfeito de um roteiro delicado e respeitoso com o material de origem, mas ao mesmo tempo construído com personalidade própria. Ainda disputavam a categoria: A Chegada, Elle, O Quarto de Jack e Steve Jobs.
EM ANOS ANTERIORES: 2015 – 45 Anos | 2014 – Garota Exemplar | 2013 – Azul é a Cor Mais Quente | 2012 – Precisamos Falar Sobre o Kevin | 2011 – A Pele Que Habito | 2010 – Direito de Amar | 2009 – Dúvida | 2008 – Desejo e Reparação | 2007 – Notas Sobre Um Escândalo
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Dos seus indicados, só não assisti a “Steve Jobs” e eu concordo com sua escolha de vencedor. “Carol” é um grande filme, que constrói bem suas personagens e nos envolve de uma maneira….
Kamila, é um filme muito envolvente mesmo! Considero esse um dos grandes méritos de “Carol”!