47º Festival de Cinema de Gramado #5: “Vou Nadar Até Você”, de Klaus Mitteldorf

Bruna Marquezine em Vou Nadar Até Você: atriz encara a sua primeira protagonista no cinema.

Por falta de outra definição, Vou Nadar Até Você é um road movie, mas com um conceito mais peculiar: ao invés da jovem Ophelia (Bruna Marquezine) pegar a estrada para ir em busca do homem que acredita ser seu pai, ela opta por cruzar a nado o trecho de Santos a Ubatuba, em São Paulo. Sabemos pouco sobre a protagonista, uma menina introspectiva e de poucas palavras que, entre um trecho e outro, passa a se revelar para o espectador assim como talvez para ela própria. No mar, sua vida parece fazer sentido. Atrás das câmeras também, já que ela registra cada momento da curiosa viagem. Mas é com os pés firmados no chão e em contato direto com as pessoas que ela precisa encontrar seu propósito e sua verdadeira identidade.

Vou Nadar Até Você, que estreia nacionalmente na competição do 47º Festival de Cinema de Gramado, tem a proposta de fazer uma leitura muito particular desse momento decisivo na vida de Ophelia — e o faria com bastante excelência, caso o diretor Klaus Mitteldorf, a partir do roteiro escrito por Nina Crintzs, não optasse por tantos desvios na trama, cometendo o pecado de tirar o protagonismo absoluto de Ophelia. O tropeço começa na própria concepção: narrando paralelamente a história do pai que recebe a notícia de que sua filha até então desconhecida está a caminho, Vou Nadar Até Você tira tempo demais do desabrochar emocional de Ophelia para dar todas as explicações sobre quem é esse homem que gerou a garota.

O filme embola ainda mais o meio de campo ao criar uma subtrama envolvendo o pai e um assistente vivido por Fernando Alves Pinto que passa a seguir Ophelia antes que ela chegue a seu destino. Mitteldorf, que fez carreira como premiado fotógrafo e publicitário, deixa transparecer alguns vícios de suas experiências pregressas em Vou Nadar Até Você, como a de carregar a trama com uma bela, mas excessiva trilha sonora, e a de registrar cada momento aquático da protagonista em slow motion. Ao final, os desvios da trama e o embelezamento dos takes imediatamente nos jogam para a ideia de que o filme é mais longo do que deveria e que tudo acontece para preencher um pouco mais essa história que, na verdade, só teria a ganhar com mais concisão.

Bruna Marquezine, que assume aqui o seu primeiro trabalho no cinema como protagonista, é delicada como Ophelia, e todas as cenas bem exploradas de sua personagem garantem os melhores momentos de Vou Nadar Até Você. Suas eventuais transformações e descobertas são sutis, escapando de armadilhas comuns em road movies. Mesmo as frequentes tomadas aéreas são mais simbólicas quando a protagonista está em cena, pois representam a pequenez de uma garota perdida em meio à imensidão (a sua e a do mar). É por isso que as ramificações de Vou Nadar Até Você tiram o refinamento dessa obra que, aqui e ali, distante de sua protagonista, cai em um certo vazio emocional e cinematográfico.

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