
O Grande Circo Místico é o sétimo filme de Cacá Diegues a ser escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
A Comissão de Seleção da Academia Brasileira de Cinema anunciou hoje, 11 de setembro, que O Grande Circo Místico representará o Brasil na disputa por uma vaga entre os cinco finalistas ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Em tese, a escolha é acertada, pois estamos falando do novo longa de Cacá Diegues, um ícone do cinema brasileiro conhecido internacionalmente. O Grande Circo Místico também tem um elenco de primeira, além de certa carreira internacional, já que foi exibido fora de competição no último Festival de Cannes. Entretanto, na prática, a escolha não se justifica porque o filme simplesmente não está à altura dessa representativa missão.
Já havia comentado as razões que me distanciam de O Grande Circo Místico na crítica publicada aqui no blog durante a cobertura do 46º Festival de Cinema de Gramado, mas é uma questão lógica: com uma recepção fraquíssima tanto em Cannes quanto em Gramado, era de se esperar que a comissão tivesse percebido o quanto tais reações mornas já apontavam a falta de envolvimento das plateias com o filme, que chega aos cinemas brasileiros no dia 15 de novembro. Sem o aval das duas grandes exibições que teve até agora, O Grande Circo Místico zarpa rumo à corrida por uma vaga entre os cinco finalistas do Oscar de melhor filme estrangeiro com chances quase nulas de chegar lá.
Desde Central do Brasil, em 1999, não figuramos na categoria (e a chance mais expressiva que tivemos recentemente foi com Que Horas Ela Volta?), um longo jejum que, dado o lindo cenário da nossa produção atual, já deveria ter sido quebrado. Algo, no entanto, parece ter desestabilizado a comissão desde a desastrosa escolha de Pequeno Segredo em tempos de Aquarius. Afinal, Bingo – O Rei das Manhãs, produção escolhida ano passado, tinha isoladamente qualidades de sobra para ser um forte concorrente, mas sequer havia sido exibido internacionalmente e realmente não se encaixava na linguagem das produções escolhidas pelo Oscar. Dessa forma, O Grande Circo Místico marca agora o terceiro ano consecutivo em que a seleção poderia ter um representante muito mais expressivo, mesmo que, no final das contas, ele também não nos colocasse entre os finalistas ao prêmio da Academia (e aí o erro seria da Academia de Hollywood e não nosso).
Se a decisão foi novamente errada, qual, então, seria a certa? Sou suspeito para falar porque Benzinho tem em mim um fã incondicional, mas essa era a produção com o melhor conjunto de variáveis para chegar aos votantes: de temática universal, fala com delicadeza sobre dramas afetivos e familiares de fácil identificação, além de ter começado sua trajetória internacional no Festival de Sundance, um importantíssimo celeiro do cinema independente internacional. Hoje, em sua devida dimensão de filme quase alternativo, Benzinho ainda é um sucesso no Brasil e já está viajando comercialmente mundo afora. Ah, e também não seria loucura alguma ainda fazer uma pequena campanha ao Oscar de melhor atriz para a Karine Teles! E, se não fosse o filme de Gustavo Pizzi, não seria crime algum escolher Ferrugem por sua contemporaneidade temática e por sua passagem em Sundance, já que títulos transgressores e mais ousados como As Boas Maneiras e O Animal Cordial dificilmente teriam qualquer chance.
Relembre a lista dos filmes escolhidos desde o ano 2000 para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar de filme estrangeiro:
2017 – Bingo – O Rei das Manhãs, de Daniel Rezende
2016 – Pequeno Segredo, de David Schurmann
2015 – Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert
2014 – Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro
2013 – O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho
2012 – O Palhaço, de Selton Mello
2011 – Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro, de José Padilha
2010 – Lula, o Filho do Brasil, de Fabio Barreto
2009 – Salve Geral, de Sérgio Rezende
2008 – Última Parada 174, de Bruno Barreto
2007 – O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger
2006 – Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes
2005 – 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira
2004 – Olga, de Jayme Monjardim
2003 – Carandiru, de Hector Babenco
2002 – Cidade de Deus, de Fernando Meirelles
2001 – Abril Despedaçado, de Walter Salles
2000 – Eu, Tu, Eles, de Andrucha Waddington