Poucas listas de melhores do ano aqui do blog foram tão pessoais quanto a de 2016. Por isso, para escolher o nosso favorito máximo, a lógica foi muito simples: colocar todos os filmes em perspectiva e observar qual deles mais reverberou conosco desde a primeira sessão. E Carol, novo trabalho refinadíssimo do diretor Todd Haynes, ganha por uma série de razões: da trilha de Carter Burwell tocada incansavelmente a tudo de novo que descobrimos sobre o romance de Carol (Cate Blanchett) e Therese (Rooney Mara) a partir da busca pelo romance original de Patricia Highsmith, o longa, muito além dos detalhes de sua construção cinematográfica, marca por sua afetividade. Ambientado nos anos 1950 assim como Longe do Paraíso, um dos filmes mais célebres de Haynes, Carol é ao mesmo tempo o registro de uma época e uma história muito íntima e particular. Delicada, a obra também é um alento para o que costumamos ver em romances LGBT tão calcados em pessimismo: aqui o foco, apesar das discussões envolvendo os obstáculos impostos pela sociedade, é a descoberta e a vivência desse amor à primeira vista entre duas mulheres de universos distintos. Novamente, um grande filme solenemente escanteado pelos prêmios (foi recordista de indicações ao BAFTA, por exemplo, e não ganhou nada) será eternizado por um termômetro de muito mais respeito: o tempo. Não tenha dúvidas: Carol é um filme a ser lembrado.
EM ANOS ANTERIORES: 2015 – Mad Max: Estrada da Fúria | 2014 – Relatos Selvagens | 2013 – Gravidade | 2012 – Precisamos Falar Sobre o Kevin | 2011 – Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 | 2010 – Direito de Amar | 2009 – Dúvida| 2008 – WALL-E | 2007 – O Ultimato Bourne
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2. PONTO ZERO, de José Pedro Goulart: “Nunca encontrei as palavras certas para descrever o quanto Ponto Zero me comoveu – e talvez nunca encontre. De forma bem genérica, a explicação é a seguinte: esse é o tipo de experiência que, a cada minuto, me lembrava o porquê de eu ter me tornado um apaixonado por cinema (…) a obra falou comigo não apenas em função das minhas preferência cinéfilas, mas também por conseguir alcançar o meu interior como ser humano mesmo”.
3. A JUVENTUDE, de Paolo Sorrentino: “Em certo momento, um jovem garoto que está aprendendo a tocar violino diz que seu professor lhe entregou a canção justamente por ela ser ideal para principiantes. Mas, como bem descobrimos pela fala do menino e por tudo que a história mostra, não é porque a simplicidade reina que a beleza está ausente. Sendo assim, não tenho dúvidas de que quero mais canções simples como A Juventude pela frente”.
4. AQUARIUS, de Kleber Mendonça Filho: “É impressionante como o melhor de toda a carreira de Kleber como jornalista e cinéfilo está novamente e plenamente convergida na tela. Assim como em O Som ao Redor, é provável que nem todos comprem o conceito do estilo, mas, aos que souberem e conseguirem apreciar, Aquarius é mesmo tudo o que foi dito até agora”.
5. ELLE, de Paul Verhoeven: “É um relato que, assim como o recente O Silêncio do Céu, parte de um estupro, mas nunca se torna necessariamente um filme sobre estupro. Experiência bastante desafiadora para a plateia, Elle, no entanto, é plenamente recompensador para quem aceita ser provocado. Se esse for o seu caso, pode acreditar: teremos longas e instigantes conversas sobre a obra durante um bom tempo”
6. DE ONDE EU TE VEJO, de Luiz Villaça: “É importante não confundir a leveza e o bom humor presentes em De Onde Eu Te Vejo com superficialidade, pois isso seria uma injustiça com o roteiro e a direção do longa, que, além das leituras que fazem sobre relações amorosas e familiares, entregam uma interpretação muito interessante e contemporânea de São Paulo”.
7. A BRUXA, de Robert Eggers: “Ainda assim, pelo que me vem à memória, o terror psicológico de Eggers em nada se compara a qualquer exemplar do gênero que tenha ganhado as telas nos últimos anos. É experiência conceitual e experimental, o que pode repelir muita gente. Mas quer saber? Se conseguir embarcar, é coisa de mestre mesmo”.
8. A CHEGADA, de Denis Villeneuve: “Verdade seja dita que não são poucos os rodeios que o filme dá para dar simetria total a seu ciclo e chegar a toda emoção de seu terço derradeiro, mas a precisão a partir daí é admirável e o que vem a partir dela é muito íntimo. A Chegada reverbera muito além da sessão. Sorte de quem consegue perceber essa beleza”.
9. A DESPEDIDA, de Marcelo Galvão: “Um dos pontos mais fascinantes deste longa é justamente isso: a virilidade, a “macheza” e a integridade de um homem estão longe de ser ligadas a sua idade ou a sua condição física. Para Almirante, acordar e ver que sua fralda não está suja é uma vitória. Já para Fátima, sua amante, este e outros detalhes estão longe de falar qualquer coisa sobre o que seu companheiro realmente representa”.
10. SINFONIA DA NECRÓPOLE, de Juliana Rojas: “Tanto em termos de letra quanto de coreografia, Sinfonia da Necrópole é muito bem apurado. As rimas e a transição da cena realista para a musical são o ponto alto das canções, repletas de ritmo brasileiro (a Canção dos Coveiros, principalmente, inspirada nos clássicos de Adoniran Barbosa) e circunstâncias inusitadas (a Canção dos Mortos, encenada à noite, inevitavelmente lembrando Thriller, de Michael Jackson, referência que a própria Rojas diz que sempre tentou se esquivar)”.
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Vou assistir Ponto Zero, está na minha lista faz um tempinho e seu post me incentivou a assisti-lo.
Juliane, esse é um filme que me trocou profundamente! <3