Aliados

Je t’aime, québécois…

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Direção: Robert Zemeckis

Roteiro: Steven Knight

Elenco: Brad Pitt, Marion Cotillard, Xavier De Guillebon, Camille Cottin, Vincent Latorre, August Diehl, Daniel Betts, Sally Messham, Charlotte Hope, Celeste Dodwell, Ami Metcalf, Angus Kennedy

Allied, EUA/Reino Unido, 2016, Drama/Romance, 124 minutos

Sinopse: Em uma missão para eliminar um embaixador nazista em Casablanca, no Marrocos, os espiões Max Vatan (Brad Pitt) e Marianne Beausejour (Marion Cotillard) se apaixonam perdidamente e decidem se casar. Os problemas começam anos depois, com suspeitas sobre uma conexão entre Marianne e os alemães. Intrigado, Max decide investigar o passado da companheira e os dias de felicidade do casal vão por água abaixo. (Adoro Cinema)

Marion Cotillard plays Marianne Beausejour in ALLIED. ©Paramount Pictures. CR: Daniel Smith.

Marion Cotillard passou por uma barra muito pesada com Aliados – e tudo por causa de fatores exteriores ao filme. Quando Brad Pitt anunciou sua separação de Angelina Jolie, logo se procurou uma culpada. Assim, nada mais lógico do que, em um mundo machista, ela ser a atriz francesa, que acabara de estrelar, junto a ele, um filme sobre dois espiões que, designados a incorporar a identidade de um casal para uma missão secreta, acabam se apaixonando. É quase a mesma lógica de Sr. & Sra. Smith, onde Brad e Angelina se apaixonaram fazendo papeis basicamente parecidos. Casada e com um filho que ganhara há pouco tempo, Cotillard foi atacada pela imprensa e pelos usuários de redes sociais sem fundamento algum, como se fosse o óbvio pivô da separação, reforçando a ideia distorcida de que, claro, são as mulheres que seduzem homens e destroem casamentos. O escândalo colocou Aliados nos holofotes, mas que decepção constatar que o novo filme de Robert Zemeckis será lembrado apenas por essa teoria maluca criada por fofoqueiros de plantão. Afinal, cinematograficamente falando, o projeto sequer consegue o mérito de acender, na tela, alguma faísca entre o casal.

Sem realizar um trabalho realmente marcante desde Náufrago, de 2000, Robert Zemeckis é um desses diretores que transitam pelos mais diferentes gêneros e estilos sem necessariamente carregar uma assinatura. Às vezes, isso é um trunfo (James Mangold, de filmes como Johnny & JuneIdentidadeGarota, Interrompida, é um ótimo exemplo), em outras, pode denotar falta de personalidade, como é o caso de Zemeckis nos últimos anos: fora a repentina temporada produzindo medianas animações (O Expresso PolarOs Fantasmas de ScroogeA Lenda de Beowulf), o diretor, desde Náufrago, foi da adaptação de fatos reais (A Travessia) a dramas mais convencionais que se focavam no ser humano (O Voo), mas tudo sem deixar uma marca ou proporcionar grandes experiências. É lógico fazer essa retrospectiva porque ela nos remete a um dos maiores problemas de Aliados: a falta de atmosfera. Zemeckis não consegue instigar o espectador em relação ao grande conflito história (a real identidade de sua protagonista) por uma série de razões, entre elas a forma como o filme tenta ser muitas coisas (romance, drama de guerra, thriller) sem conseguir ser nenhuma delas e o próprio desenrolar desinteressante dos fatos, que culminam em uma resolução melodramática e, por que não, covarde para uma obra que depende tanto de seu desfecho.

Há problemas cronológicos claros na trama, onde o roteiro escrito por Steven Knight, profissional que oscila entre produções interessantes (Coisas Belas e SujasSenhores do Crime) e outras desastrosas ou inexpressivas (O Sétimo FilhoA 100 Passos de Um Sonho), se atrapalha ao entender que o tempo é fundamental para a construção do clima. Uma prova disso é a primeira metade ansiosa de Aliados, responsável por unir Max (Brad Pitt) e Marianne (Marion Cotillard) com frases fáceis e repentinas como “venha para Londres e case comigo!” que jamais compensam a ausência de uma narrativa que desenvolva uma relação (em especial a amorosa) nos pequenos momentos de um cotidiano. Por trabalhar fatos meramente pontuais ao invés dos sentimentos intrínsecos neles, Aliados se sabota, não criando a intimidade necessária entre o casal para o que o espectador se importe com os personagens. Dessa forma, uma cena como a que Marianne dá luz à filha em meio a um bombardeio da Segunda Guerra Mundial serve mais como uma ferramenta para ilustrar a passagem do tempo – ao estilo de manjadas novelas da TV aberta, diga-se de passagem – do que como um importante momento para a construção íntima da trama.

Com a falta de consistência na relação entre os dois protagonistas, Aliados chega ao conflito sobre Marianne ser ou não uma espiã infiltrada causando suspense pela natureza óbvia da dúvida e não por méritos relacionados à construção dela. Que frustrante, portanto, constatar como o filme, ao invés de crescer em tensão, apenas se amorna a partir daí – e não há nada que Marion Cotillard, lindamente fotografa com os belíssimos figurinos assinados por Joanna Johnston, possa fazer para se engrandecer com uma personagem que deveria ser fascinante para além da questão estética. É óbvio que Brad Pitt não ajuda em absolutamente nada – e não é exagero dizer que boa parte da inexpressividade do filme vem dele, que poucas vezes esteve tão inerte, sem presença e indiferente -, mas Zemeckis simplesmente não sabe tornar a situação consistente, tornando frágil e inorgânica até a transição do marido plenamente confiante na esposa para homem consumido pela dúvida. Para completar, o diretor se entrega por completo ao melodrama em uma conclusão abrupta que prova, outra vez, que um profissional de visão mais apurada faria de Aliados uma experiência rica em conflitos, e não esse desperdiço de potenciais que beira ao ostracismo. Cotillard, que comeu o pão que o diabo amassou por conta do projeto, poderia pelo menos ter sofrido por algo melhor.

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