Não são poucas as expectativas para a edição deste ano do Festival de Cinema de Gramado. O evento serrano só comemora a sua simbólica 45ª edição em 2017, mas, julgando pelo line-up de 2016, a festa bem que já poderia ser agora. Particularmente, muito me encanta o alto nível do quarteto de homenageados: Sonia Braga, uma de nossas maiores divas; José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão, mestre do terror brasileiro; Cecilia Roth, chica de Almodóvar e estrela do cinema ibero-americano; e Tony Ramos, sinônimo de grandes bilheterias. Acho que esse time chega a superar o de 2012 (Betty Faria, Eva Wilma, Juan José Campanella e Arnaldo Jabor), o meu favorito até então. Gramado 2016 tem tributo a ícones de todos os estilos de cinema, e essa característica é importantíssima por desmistificar a ideia de festivais como festas segmentadas.
Continuo discordando da insistência de crítica e imprensa de que um festival como Gramado deve ter apenas títulos inéditos para fazer jus ao seu prestígio. Isso é balela. Ainda assim, a “falha” foi corrigida e o evento deste ano, pelo menos na mostra brasileira, terá apenas títulos que farão suas estreias nacionais na Serra Gaúcha. A aposta em comédias é arriscada, mas conceitualmente relevante: mesmo que determinados filmes não inspirem tanta confiança, o curador Rubens Ewald Filho foi certeiramente enfático ao defender a tese de que a crítica ainda precisa fazer o exercício de não ter preconceito com o gênero (e isso é global: até o Oscar tem sérias dificuldades em reconhecer o humor em categorias que não sejam as de roteiro). Vamos ver se a quebra de paradigma será bem sucedida ou se tudo indica mesmo que O Silêncio do Céu, aguardado drama assinado pelo cult Marco Dutra, é o favorito pela matemática da exclusão.
A falta de pluralidade e representatividade da mostra brasileira (filmes assinados somente por homens e todos do eixo Rio-São Paulo) é significativamente compensada na latina, onde dez países estão representados em diversas coproduções e três mulheres colocam sua assinatura nas direções das obras. Internacionalmente falando, ainda há outro aspecto que carimba as expectativas em torno da edição: em parceria inédita, Gramado recebe representantes do prestigiado Festival de Sundance para a exibição de dois filmes, intercâmbios culturais e discussões acerca da consolidação desse novo relacionamento. Por falar nos filmes que Sundance exibe na Serra Gaúcha, um deles conta com uma sessão comentada por sua protagonista: Mammal traz ninguém menos que Rachel Griffiths para o Festival. E, como fã incondicional de Six Feet Under e grande adorador da era de ouro de Brothers & Sisters e do filme O Casamento de Muriel, vocês podem imaginar meu entusiasmo.
Novamente, pelo sexto ano consecutivo, estaremos no evento contando tudo para vocês com matérias especiais e críticas dos filmes concorrentes. A festa já vai começar: o 44º Festival de Cinema de Gramado acontece de 26 de agosto a 03 de agosto, antecedido por uma noite especial para a comunidade gramadense no dia 25. Até lá!