Who doesn’t love love?
Direção: Lorene Scafaria
Roteiro: Lorene Scafaria
Elenco: Susan Sarandon, Rose Byrne, J.K. Simmons, Jerrod Carmichael, Cecily Strong, Lucy Punch, Michael McKean, Jason Ritter, Sarah Baker, Amy Landecker, Casey Wilson, Billy Magnussen
The Meddler, EUA, 2016, Comédia/Drama, 100 minutos
Sinopse: Para Marnie Minervini (Susan Sarandon) a maternidade não é um dever, mas sim uma vocação. Mesmo após a recente morte do marido, ela não deixa de ser alegre, sempre mandando mensagens, ligando e aparecendo sem avisar na casa da filha, Lori (Rose Byrne). Almejando algum controle sobre sua vida, principalmente após o término de um relacionamento, Lori tenta sair das asas da mãe, mas Marnie segue a filha até Los Angeles e acaba desenvolvendo uma conexão com um policial (J.K. Simmons). (Adoro Cinema)
As situações são facilmente identificáveis e comicamente aplicáveis aos dois lados da moeda: enquanto os filhos enxergam, com muito humor, o superprotecionismo expansivo e natural de todas as mães, as progenitoras compreendem perfeitamente as necessidades de presença e carinho que tanto movem alguém como Marnie (Susan Sarandon), a protagonista de A Intrometida, que, ainda lidando com a morte do marido, encontra, na filha, uma forma de não ter seus dias tão vazios. Surpreendentemente, o filme escrito e dirigido com muita simplicidade por Lorene Scafaria se desapega da diversão envolvendo as barreiras (ou falta delas) que se estabelecem a partir de laços familiares e opta por narrar as cotidianidades de uma mulher que, após a mudança da filha para outra cidade, precisa aprender a recomeçar, na meia-idade, uma vida que já lhe parecia tão certa.
Não há comparações depreciativas que possam diminuir o valor simbólico que tem um filme como A Intrometida. Cada vez mais discutimos a representatividade no cinema, e é bom ver que roteiros que contemplem esse nicho tão frequentemente esquecido pelo cinema que é o público de meia-idade. Sempre reforço que os europeus sabem tratá-lo como ninguém, o que deveria ser uma aula para os norte-americanos, que costumam colocar personagens de idade mais avançada apenas como os pais coadjuvantes sem vida pessoal que só servem para ouvir histórias e dar conselhos aos filhos, especialmente em comédias de gosto altamente duvidoso. Por isso é de se celebrar um projeto com a proposta de A Intrometida: aqui, esse público é o centro das atenções em uma história que não chega a ser necessariamente sofisticada, mas que compensa amplamente essa limitação com uma boa dose de afeto.
É a partir de pequenos momentos da vida de sua protagonista – a amizade com o vendedor de uma loja, a dificuldade em se relacionar com as novas tecnologias, o sentimento de solidão que surge entre uma risada ou outra com uma conhecida qualquer – que o roteiro estrutura a construção de uma personagem simplesmente adorável. Claro que sempre achamos as mães dos outros um máximo, mas a Marnie de Susan Sarandon é realmente especial em sua generosidade eventualmente excessiva que não deixa de ser questionada por sua psicóloga vivida por Amy Landecker. Afinal, tanta dedicação ao próximo não deixa de ser uma desculpa para não ter que olhar para a própria vida? Como na maioria dos filmes sobre mulheres de meia-idade em pleno recomeço, A Intrometida tem uma intérprete das mais impecáveis. Se Diane Keaton tem um dos melhores momentos de sua carreira em Alguém Tem Que Ceder e Meryl Streep se diverte à beça no fragilíssimo Simplesmente Complicado, Susan Sarandon (que, sabe-se lá como, não envelhece e fica mais bela a cada dia) tem sua melhor chance em anos, transmitindo uma humanidade que é muito característica do seu arsenal de talentos.
Não deixa de ser frustrante, contudo, que relatos sobre o público de meia-idade simplifiquem tanto as coisas para suas protagonistas. Ou não é um tantinho mais fácil sofrer quando a Erica Barry de Alguém Tem Que Ceder viaja a Paris com o dinheiro de sua carreira vitoriosa na dramaturgia, a Jane Adler de Simplesmente Complicado se vê dividida entre dois amores enquanto reforma sua confeitaria de grande sucesso e, agora, a Marnie Minervini de A Intrometida procura uma nova vida enquanto se diverte ao bancar casamentos alheios com a fortuna deixada pelo falecido marido? Isso não deixa de reduzir todos esses filmes ao velho drama de que ricos também sofrem, e é assim que falta complexidade ao carinhoso mundo da personagem vivida por Susan Sarandon porque tudo acaba se resumindo a circunstâncias que desviam a atenção do que realmente merece ser contado. Quando A Intrometida permite que Marnie finalmente considere um novo amor ou que ela dê sinceras gargalhadas com a filha após um incidente que constrói um novo momento de aproximação entre as duas, o resultado ganha o sentido de que agora sim estamos realmente vendo a representatividade ideal de seu público-alvo.
Todos os filmes que você citou passam a mesma mensagem: a meia-idade de uma mulher poder ser ótima, desde que essa mulher seja rica. Esse filme, em particular, exagera nessa premissa. Parece que todos amam a Marnie só porque ela tem dinheiro.