But I fought. And I fought. And I fought… And I’m still here!
Direção: Stephen Frears
Roteiro: Nicholas Martin
Elenco: Meryl Streep, Hugh Grant, Simon Helberg, Rebecca Ferguson, Nina Arianda, John Kavanagh, David Haig, Christian McKay, Josh O’Connor, Elliot Levey, John Sessions, Mark Arnold, Jorge Leon Martinez
Florence Foster Jenkins, Reino Unido, 2016, Comédia/Drama, 100 minutos
Sinopse: Florence Foster Jenkins (Meryl Streep) é uma rica herdeira que persegue obsessivamente uma carreira de cantora de ópera. Aos seus ouvidos, sua voz é linda, mas para todos os outros é absurdamente horrível. O ator St. Clair Bayfield (Hugh Grant), seu companheiro, tenta protegê-la de todas as formas da dura verdade, mas um concerto público coloca toda a farsa em risco. (Adoro Cinema)
Toda atriz que se preze deveria ter como meta conseguir cair nas graças do britânico Stephen Frears. As parcerias firmadas pelo diretor já corroboram por si só essa afirmação (Glenn Close foi superlativa em Ligações Perigosas, Helen Mirren encontrou o papel mais emblemático de sua carreira em A Rainha e Judi Dench fez mil maravilhas com os papeis-título de Senhora Henderson Apresenta e Philomena), mas um rápida retrospectiva já evidencia a maior beleza de sua carreira como contador de histórias: a de procurar grandeza em relatos aparentemente pequenos, sempre com delicadeza, discrição e humanidade. Não é diferente com Florence: Quem é Essa Mulher?, onde Frears se inspira ao unir forças com Meryl Streep (novamente uma grande atriz, algo que parece motivá-lo) para encontrar tudo o que não é óbvio nas íntimas particularidades de uma personagem que tinha tudo para cair no ridículo.
Florence Foster Jenkins (Meryl Streep) era uma socialite de bolsos cheios: bancava o cenário musical de clubes em Nova York ao mesmo tempo que também sustentava todas as regalias de um devotado marido. Instantaneamente, isso já aponta para a fácil ideia de que esse tão importante dinheiro justifica o fato de meio mundo aguentar as notas operísticas, desafinadas e histéricas dessa mulher apaixonada por música, mas desprovida de bom senso para perceber que o que lhe faltava era justamente talento vocal. Entretanto, Frears, em parceria com o estreante roteirista de longas Nicholas Martin, não segue esse caminho e busca, na realidade, saídas muito tocantes para construir a história. O britânico trata Florence de forma digna na medida em que faz com que o espectador se preocupe tanto com ela quanto os personagens que não lhe dizem a verdade. Isso porque, no fundo, invejamos algo ali: seria a sua capacidade de propositalmente se esconder do cinismo e das dores da vida em sonhos? Ou, então, a sua autenticidade de fazer o que bem entende enquanto muitos de nós reprimimos tantas de nossas expressões com medo do ridículo? Você decide.
Meryl Streep, obviamente, é cirúrgica ao conduzir a personagem, lembrando, sem nunca se repetir, a bem humorada e divertida Julia Child, também uma desajustada apoiada por uma marido incondicional que compreende por completo as frustrações de sua esposa com o destino (enquanto em Julie & Julia fica implícito que a protagonista sofria por não poder ter filhos, em Florence: Quem é Essa Mulher? são verbalizados, não de forma menos eficiente, os fatos de Jenkins ter sido obrigada a abandonar a carreira de pianista por causa de um acidente e de ter contraído sífilis de seu primeiro e agora falecido marido). De roupas largas e com enchimentos para reproduzir o típico físico da mulher que retrata, Meryl alcança as notas certas procurando as erradas e ainda é beneficiada por um parceiro de cena que não lhe deve absolutamente nada: Hugh Grant, que vinha desacelerando a carreira rumo a uma assumida ideia de aposentadoria e repensou a situação após o convite para trabalhar com a atriz. E fez bem, pois tem aqui um de seus melhores momentos, saindo-se acertadamente engraçado nas estripulias de seu St. Clair e devidamente tocante como um sujeito que, independente das definições de estados civis, nutria imenso carinho e respeito por Florence.
Ao encontrar um espirituoso equilíbrio entre o drama e a comédia (nas risadas, também merece nota o divertido trabalho de Simon Helberg como um alívio cômico à moda antiga, seguindo a própria proposta do filme), Florence: Quem é Essa Mulher? vai de sequências realmente completas no humor (o primeiro ensaio da protagonista junto ao piano) a outros até mesmo emocionantes (a cena em que Florence se imagina cantando perfeitamente é bela, especialmente porque a voz de Meryl, que começou sua carreira artística estudando ópera, contribui demais para o resultado). É com a elegância de uma boa reconstituição de época e com o respeito de um diretor que compreende que esse é um relato não sobre o quão especiais são os nossos talentos, mas sim sobre o quão alto sonhamos que Florence: Quem é Essa Mulher? se torna mais um filme minimamente grande da carreira de Stephen Frears. Como fã – tanto dele, de Meryl e do estilo -, só tenho a comemorar.
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Stephen Frears é um grande diretor de atores e Meryl Streep dispensa comentários! Quero muito conferir esse “Florence – Quem É Essa Mulher?”.