
De Cannes para a Serra Gaúcha: Aquarius abre o Festival de Cinema de Gramado, enquanto Sônia Braga é a grande homenageada do troféu Oscarito. Foto: Jean-Paul Pelissier / Reuters.
Já é velho o papo de que o Festival de Cinema de Gramado, que chega a sua 44ª edição, não tem o mesmo prestígio de antes. A crise que o evento atravessou, especialmente nas edições realizadas entre os seus 30 e 40 anos, repercute até hoje, mas, parando nem que seja um pouquinho para pensar, é fácil perceber que muita coisa mudou – e para melhor – desde a edição comemorativa de 40 anos, que, em suas mudanças quase radicais, trocou também a curadoria de longas-metragens. Eva Piwowarski, Marcos Santuario e Rubens Ewald Filho trouxeram ao Festival um cinema mais contemporâneo. Eles, ao mesmo tempo que procuravam recuperar o tempo perdido em anos altamente esquizofrênicos do evento, substituíram os filmes de nicho que tanto limitavam Gramado por uma linguagem mais contemporânea e pelo diálogo entre experientes cineastas e outros profissionais em início de carreira.
Ainda assim, o trio foi duramente cobrado pela imprensa por não exibir apenas filmes inéditos (crítica tola, diga-se de passagem, uma vez que ineditismo está longe de significar qualquer qualidade, a exemplo de A Bruta Flor do Querer e Introdução à Música do Sangue, dois filmes inéditos e bastante ruins selecionados para competição recentemente). Entretanto, esse ano não há motivos para reclamações nesse sentido, conforme foi revelado na coletiva de lançamento realizada hoje (20) em Porto Alegre: todos os seis filmes que buscam o cobiçado Kikito na mostra brasileira são inteiramente inéditos no circuito de festivais. Além da exibição dos aguardados Elis (cinebiografia da icônica cantora brasileira Elis Regina) e O Silêncio do Céu (novo filme de Marco Dutra), o Festival de Cinema de Gramado dá continuidade à pluralidade de sua mostra estrangeira: incluindo coproduções, nada menos que nove países estão representados na competição – e isso é fantástico, pois não é todo dia que entramos em contato com a cinematografia boliviana, paraguaia ou venezuelana, por exemplo.
Saindo da competição para a grande exibição hors concours desse ano, Gramado, que, na edição passada, fez a estreia de Que Horas Ela Volta? em território nacional, novamente foi o festival brasileiro escolhido para dar o pontapé inicial na trajetória do filme brasileiro mais aguardado do ano: Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, abrirá o evento no dia 06 de agosto. De quebra, quem recebe o troféu Oscarito, honraria do Festival dedicada a grande atores do cinema, é Sonia Braga, dando continuidade à linhagem de divas que receberam a distinção (ano passado, Marília Pêra se eternizou na Serra Gaúcha com uma linda passagem pelo Tapete Vermelho). No mais, apesar de achar Tony Ramos um ator mais de TV do que de cinema (essa confusão é muito comum no Brasil), não dá para negar o seu apelo popular com obras como Se Eu Fosse Você, Getúlio ou Chico Xavier, o que torna sua homenagem com o troféu Cidade de Gramado até coerente no sentido de que Gramado é uma festa para todos os gostos. Aprecio essa democracia porque não acho que festivais devam se segmentar. Quem dera todos pensassem assim.
Confira a lista completa de filmes em competição:
LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS
– Barata Ribeiro, 716 (RJ), de Domingos Oliveira
– El Mate (SP), de Bruno Kott
– Elis (SP), de Hugo Prata
– O Roubo da Taça (SP), de Caito Ortiz
– O Silêncio do Céu (SP), de Marco Dutra
– Tamo Junto (RJ), de Matheus Souza
LONGAS-METRAGENS ESTRANGEIROS
– Campaña Antiargentina (Argentina), de Ale Parysow
– Carga Sellada (Bolívia/México/Venezuela/França), de Julia Vargas
– Espejuelos Oscuros (Cuba), de Jessica Rodriguez
– Esteros (Argentina/Brasil), de Papu Curotto
– Guaraní (Paraguai/Argentina), de Luis Zorraquín
– Sin Norte (Chile), de Fernando Lavanderos
– Las Toninas Van al Este (Uruguai/Argentina), de Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta
CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS
– A Página (SP), de Guilherme Andrade
– Aqueles Anos em Dezembro (SP), de Felipe Arrojo Poroger
– Aqueles Cinco Segundos (MG), de Felipe Saleme
– Black Out (PE), de Adalmir da Silva, Felipe Peres Calheiros, Francisco Mendes, Jocicleide Valdeci de Oliveira, Jocilene Valdeci de Oliveira, Martinho Mendes, Paulo Sano e Sérgio Santos
– Deusa (SP), de Bruno Callegari
– Horas (RS), de Boca Migotto
– Ingrid (MG), de Maick Hannder
– Lembranças do Fim dos Tempos (SP), de Rafael Câmara
– Lúcida (SP), de Fabio Rodrigo
– Memória da Pedra (BA), de Luciana Lemos
– O Ex-Mágico (PE), de Mauricio Nunes e Olimpio Costa
– O Que Teria Acontecido ou Não Naquela Calma e Misteriosa Tarde de Domingo no Jardim Zoológico (RJ), de Gugu Seppi e Allan Souza Lima
– Rosinha (DF), de Gui Campos
– Super Oldboy (SP), de Eliane Coster
PRÊMIO ASSEMBLEIA LEGISLATIVA – MOSTRA GAÚCHA DE CURTAS
– A Rua das Casas Surdas (Porto Alegre), de Flávia Costa e Gabriel da Fonseca Mayer
– Another Empty Space (Porto Alegre), de Davi de Oliveira Pinheiro
– Às Margens (Porto Alegre), de Boca Migotto
– As Três (São Leopoldo), de Helena Sassi
– Bandidos Desalmados (Porto Alegre), de Zaracla
– Carol (Porto Alegre), de Mirela Kruel
– Dia dos Namorados (Porto Alegre), de Roberto Burd
– Escape (Porto Alegre), Jonatas Rubert
– Escotofobia (Porto Alegre), de Rafael Saparelli
– Horas (Porto Alegre), de Boca Migotto
– Inatingível (Porto Alegre), de Rodolfo de Castilhos Franco
– Interrogatório (São Leopoldo), de Raul Fontoura
– Lipe, Vovô e o Monstro (Porto Alegre), de Raul Fontoura
– Mundo de Wander (Porto Alegre), de Lisandro Santos
– O Jardim dos Amores de Woody Allen (Porto Alegre), de Gustavo Spolidoro
– Objetos (Porto Alegre), de Germano de Oliveira
– Outono Celeste (Pelotas), de Yuri Minfroy
– Pobre Preto Puto (Santa Cruz do Sul), de Diego Tafarel
– Preliminares (Porto Alegre), de Douglas S. Kothe
– Quando Pisei em Marte (Pelotas), de Analu Favretto e Taís Percone
– Sesmaria (Pelotas), de Gabriela Richter Lamas
– Venatio (Canoas), de Ulisses da Motta
– Vento (Porto Alegre), de Betânia Furtado
– Vida Como Rizoma (Porto Alegre), de Lisi Kieling
Excelente line-up, o do Festival de Cinema de Gramado. Ansiosa para a reação da crítica e público para filmes como “Elis” (um dos que eu mais espero assistir neste ano) e “Aquarius”.