Por falta de tempo, tenho visto menos séries do que gostaria. Aliado a isso, a infinita quantidade de programas me angustia: na ânsia de encontrar algo que realmente me interesse, acabo vendo quase nada. Por isso, pela primeira vez em anos me senti um pouco perdido com a lista dos indicados ao Emmy divulgada hoje. Só que, claro, não deixo de dar os meus pitacos. Antes de listá-los, meu maior luto com a seleção: é um absurdo The Leftovers não ter recebido uma indicação sequer por sua magistral segunda temporada. Uma aula de direção, roteiro e atuação, o programa merecia ter replicado aqui o seu sucesso no Critics’ Choice Awards, onde teve todo o seu elenco indicado em categorias individuais de atuação. E isso acontecer em tempos que Downton Abbey – que, desde a terceira temporada, está no piloto automático – segue sendo lembrada na categoria principal é realmente para sentar e chorar. Vamos a outras observações sobre a lista do prêmio, cuja cerimônia está marcada para 18 de setembro:
– Quando o Emmy resolve se apaixonar por uma série, mesmo que tardiamente, é bom sair da frente. Não vejo Game of Thrones, mas até fãs de carteirinha da série reconhecem o exagero de indicações. Dizem por aí que Peter Dinklage mal tem influência nessa última temporada e que Kit Harrington, apesar da popularidade, não é alguém que seja sinônimo de excelência em atuação a ponto de ser lembrado. Entre as comédias, o (merecido) reinado absoluto de Veep só se expandiu (nada menos que três indicações na categoria de direção!). Já no círculo das minisséries, o amor infinito foi para The People v. O. J. Simpson: American Crime Story. Justo? Me contem, pois também não assisto.
– A rainha do Emmy tem nome e sobrenome: Laurie Metcalf, com indicação tripla (atriz em comédia por Getting On, atriz convidada em drama por Horace and Pete e atriz convidada em comédia por The Big Bang Theory). Fico particularmente feliz pela primeira nomeação, pois sou fã da recentemente encerrada Getting On e, no seriado que quase ninguém vê, Metcalf é maravilhosa ao encarnar uma personagem que pode sim ser detestável, mas que, na verdade, só representa o que existe de secretamente pior em todos nós.
– Regina King deve novamente (e dessa vez merecidamente) levar o prêmio de atriz coadjuvante em minissérie pela surpreendente segunda temporada de American Crime, mas fiquei feliz mesmo pela lembrança de Lili Taylor, que tem o papel de uma carreira nesse drama pesado, delicado e complexo.
– Christine Baranski passou seis anos consecutivos sendo indicada e perdendo como melhor atriz coadjuvante por The Good Wife, e seu fim na premiação foi amargo: pela última temporada do programa, a atriz sequer foi indicada. Não é mesmo o seu melhor momento na série, mas havia material para chegar entre as finalistas (o último episódio). Pelo menos lembraram, com justiça, de Maura Tierney pelo segundo ano de The Affair.
– Que mau gosto essa indicação de A Very Murray Christmas na categoria de melhor telefilme. Aquilo é um horror! Porém, no geral, a categoria é fraca e sem concorrência, até mesmo com All the Way na disputa: o telefilme estrelado por Bryan Cranston e dirigido por Jay Roach é menos interessante do que parece.
– O que foi essa total mudança de sentimento por Orange is the New Black? Para um programa em franca ascensão no prêmio, o esquecimento até da então vitoriosa Uzo Aduba em atriz coadjuvante foi o maior choque da lista. Por outro lado, no sentido positivo, foram muitas as vibrações para The Americans, que finalmente foi indicada em importantes categorias principais, incluindo melhor série.
– A segunda temporada de Transparent é impecável e deveria, entre as comédias, ter o mesmo reconhecimento de Veep. O fato do programa não ter sido indicado a direção e receber uma única indicação em roteiro só comprova o quanto histórias menores e mais íntimas não têm o mesmo poder de convencimento entre os votantes. E eu ainda indicaria mais atores do elenco, começando por Kathryn Hahn, ótima como a rabina em plena crise matrimonial.
– No mais, o Emmy não se desapega fácil e, ao invés de substituições, prefere ampliar número de indicados para não abandonar séries que hoje quase ninguém mais vê, como Homeland, ainda lembrada em melhor drama, ou outras que há muito já deixaram de trazer novidades, a exemplo da própria Downton Abbey. Palpitando sobre os futuros vencedores, não há quem pare o furacão Game of Thrones. O hype é grande demais, superando até mesmo o tardio reconhecimento estrondoso de Breaking Bad anos atrás. Para as comédias, o voto também é certo: Veep, que só passou a ser consagrada com maior amplitude no ano passado. Mais um ano sem muitas novidades à vista para a cerimônia.
A lista completa de indicados está no site oficial do Emmy.
Infelizmente, não consigo mais acompanhar tantos seriados… Confesso que conheço poucos da lista de indicados ao Emmy. Somente os suspeitos de sempre…