
Com mais de 40 filmes no currículo, incluindo o recente e celebrado O Lobo Atrás da Porta, a montadora Karen Akerman fala sobre sua trajetória durante passagem por Gramado, onde integra o júri de longas latinos. Foto: Edison Vara/Pressphoto
O diretor Quentin Tarantino, em uma de suas mais célebres declarações, disse que nunca foi à escola de cinema, mas que foi ao cinema em si. Tal afirmação poderia ser feita também pela montadora carioca Karen Akerman, que está em Gramado integrando o júri de longas-metragens latinos. Formada em Jornalismo, não exerceu a profissão e, ao conhecer os bastidores do cinema em estágios na área de produção, acabou se apaixonando pela arte de montar filmes. “Com o cinema foi amor desde sempre. Eu via filmes e ficava curiosa em saber como eles eram feitos. Já com a montagem, foi quando percebi, nas minhas experiências em produção, que os montadores eram mais solitários e concentrados em construir linguagens”, lembra Akerman.
Observando o trabalho de outros montadores de quem foi assistente como Idê Lacreta, Diane Vasconcelos e João Paulo de Carvalho, Karen foi aprendendo os segredos da profissão até, por acaso, montar o seu primeiro filme, Gaijin 2, em substituição a outra profissional. Hoje, já são 40 filmes no currículo e uma certeza: “diretor tem estilo, montador não”. Para ela, o trabalho de montagem está diretamente ligado à visão do diretor, e a troca precisa ser despida de preconceitos. “Os montadores são psicólogos dos diretores”, brinca, “e precisamos buscar o que o diretor quer e o que material exige”. O método da carioca se baseia nessa relação: Karen Akerman mergulha em todas as referências apontadas pelo diretor, sejam elas fílmicas, musicais ou até mesmo textuais. “Só compreendendo o universo do diretor conseguimos contribuir”, aponta a montadora.
Entre os trabalhos mais célebres da carioca está O Lobo Atrás da Porta, que realizou ao lado do amigo e diretor Fernando Coimbra. Ela destaca a experiência especialmente pela proximidade com ele e o envolvimento no projeto. “Foi uma bela experiência porque me envolvi desde o primeiro tratamento do roteiro. Por isso, quando fui montar o longa do Fernando, com quem já havia trabalhado em curtas-metragens, tudo já estava muito bem afinado”, recorda. Ela diz ter inúmeras referências quando chega a hora de montar um novo filme, mas que todas variam muito a cada época. “O que tento é trazer à tona a mise en scène, que tem papel fundamental nas ficções”, avalia. Apesar das inspirações, a carioca faz questão de lembrar que um montador pode se inspirar em métodos, mas que criação cada um precisa ter a sua.
Finalizando o longa-metragem Talvez Deserto, Talvez Universo, documentário que se passa no hospital psiquiátrico Julio de Matos, na Unidade de Internamento de Psiquiatria Forense, e que dirige e monta em parceria com Miguel Seabra Lopes, Karen Akerman volta a Gramado depois de mais de 14 anos. A primeira vez que esteve na serra gaúcha foi em 2001, quando participou com o filme Breve de uma mostra paralela que exibia produções em Super 8. Agora jurada de longas latinos, Karen está feliz com o retorno ao Festival e conta que as trocas com seus colegas de júri rendem grandes debates. “Temos debates de altíssimo nível e conversas diárias sobre o que assistimos. Temos visto obras latinas muito diferentes entre si e é uma boa oportunidade para vermos um tipo de cinema que não costuma chegar no Brasil. Espero que essa mostra latina continue para sempre na programação!”, torce.
* matéria produzida originalmente para a assesoria de imprensa do 43ª Festival de Cinema de Gramado