
Em seu longa-metragem de estreia, o diretor Iberê Carvalho faz uma homenagem ao cinema em uma história de acerto de contas com o passado. O Último Cine Drive-In chega aos cinemas brasileiros no dia 20 de agosto.
Originalidade não é o que você deve procurar na premissa de O Último Cine Drive-In. É o afeto que move o primeiro longa do curta-metragista brasiliense Iberê Carvalho. Saudado pelo curador Rubens Ewald Filho como o Cinema Paradiso brasileiro, o filme recicla vários elementos que outros projetos mundo afora já abordaram com maior criatividade. Mas O Último Cine Drive-In esbanja naturalidade e, principalmente, sinceridade, o que faz com que esta se torne sim uma singela homenagem ao cinema, mesmo que, na realidade, ele seja apenas pano de fundo para uma história sobre acerto de contas com o passado.
Marlombrando (Breno Nina) leva a mãe para um importante exame em Brasília. Sozinho e sem a quem recorrer, decide procurar Almeida (Othon Bastos), seu pai ausente que segue administrando o último cine drive-in do Brasil. É em cima deste reencontro que Iberê Carvalho, em parceria com com Zepedro Gollo, desenvolve o roteiro de seu filme. Nada muito original, já que a retomada da discussão de feridas familiares e filmes sobre cinema já vimos aos montes. Porém, Carvalho trata ambos os temas com a maior dignidade possível, esquivando-se de escolhas que 4 em 5 roteiristas fariam, como esmiuçar – nem que fosse em breves diálogos – as razões que fizeram pai e filho se distanciar, por exemplo.
Sempre é importante valorizar sutilezas e O Último Cine Drive-In está repleto delas. Ao invés de tecer longos momentos sobre cinema afim de mostrar como é uma boa homenagem a esta arte, o filme prefere ilustrá-lo discretamente. E o mais importante: sua maior discussão em relação ao tema – o fato de um antigo formato de cinema não existir mais (o drive-in, onde era possível assistir filmes em um estacionamento) – não é panfletada. Sentimos toda a nostalgia por uma época que não existe mais e o carinho de Almeida por seu negócio (e também pelo cinema) está em pequenos detalhes, como quando ele, no hall de um cinema, devolve um óculos 3D bruscamente para um jovem que o deixou cair, simbolizando assim sua aversão às novas tecnologias que de certa forma exterminam a pureza de ir ao cinema.
Por optar pelo silêncio quando outros projetos verbalizariam cada conflito e por fazer uma homenagem sem precisar de grandes alegorias, é provável que O Último Cine Drive-In seja acusado de ser raso ou, então, leve demais. Quem o define assim certamente está na leva dos que não conseguem achar beleza nas entrelinhas, pois o que Iberê Carvalho realizou aqui, apesar de não ser particularmente marcante, se torna especial pelos detalhes. Nesta missão, o elenco tem papel fundamental, e todos o cumprem com louvor, especialmente Othon Bastos, com um papel que lhe dá as devidas chances em uma época em que ele, assim como outros atores veteranos, há tempos não vem recebendo papeis devidamente interessantes no cinema. Othon torna envolvente até mesmo algumas passagens mais forçadas e fechamentos óbvios de alguns conflitos. Um protagonista digno para uma história carinhosa que merecia um ator desse calibre. Precisa mais?