Grandes Olhos

Eyes are the windows to the soul.

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Direção: Tim Burton

Roteiro: Larry Karaszewski e Scott Alexander

Elenco: Amy Adams, Christoph Waltz, Krysten Ritter, Jason Schwartzman, Danny Houston, Terence Stamp, Jon Polito, Elisabetta Fantone, James Saito, Guido Furlani, Delaney Raye, Madeleine Arthur

Big Eyes, EUA/Canadá, 2014, Drama, 106 minutos

Sinopse: O drama apresenta a história real da pintora Margaret Keane (Amy Adams), uma das artistas mais comercialmente rentáveis dos anos 1950 graças aos seus retratos de crianças com olhos grandes e assustadores. Defensora das causas feministas, ela teve que lutar contra o próprio marido no tribunal, já que o também pintor Walter Keane (Christoph Waltz) afirmava ser o verdadeiro autor de suas obras. (Adoro Cinema)

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Tim Burton precisava de um filme como Grandes Olhos. Após fracassar em qualidade com dois filmes consecutivos em live action (Alice no País das MaravilhasSombras da Noite), seria saudável ele abandonar um pouco as fantasias que tanto lhe marcaram e fincar os pés no chão. Às vezes tomar certa distância traz uma nova perspectiva, e Grandes Olhos pode até não ser um filme que vá repaginar a carreira de Burton ou muito menos que tenha um estilo que o diretor queira reproduzir futuramente, mas funciona como um bom exercício para alguém que necessitava urgentemente pensar fora de suas já conhecidas fronteiras. Tim Burton aceitou o desafio, dispensou Johnny Depp e Helena Bonham Carter (este é o seu primeiro filme desde Marte Ataca! em 1996 que não conta com nenhum dos dois atores no elenco) e resolveu fazer uma produção mais comedida em conceitos e tamanho, mostrando que, ao contrário do que anunciaram seus últimos filmes, ele ainda sabe contar histórias de forma satisfatória.

É curioso, contudo, como Grandes Olhos é de certa forma um diferencial para a carreira de Tim Burton mas não para os seus protagonistas Amy Adams e Christoph Waltz. Enquanto o diretor explora outros terrenos ao conduzir com agradável convencionalidade a história da pintora Magaret Keane e o seu casamento com o impostor Walter, Adams e Waltz fazem o mesmo de sempre, expondo os dois maiores problemas do filme: a errada escalação de elenco e a indiferente direção de atores. Livres em cena e sem maiores orientações, a dupla não traz nada de novo para seus respectivos repertórios, o que impede o espectador de realmente ver os personagens. Quem está em cena é a repetição de Amy Adams e Christoph Waltz. Enquanto ela segue com sua expressão chorona de voz mansa e seu papel de mulher ingênua facilmente enganável, ele, frequentemente descontrolado, prova que realmente não funciona com ninguém além de Quentin Tarantino. O tipo sarcástico com um eterno sorriso debochado no rosto criado pelo ator é o que existe de mais incômodo em Grandes Olhos.

Com uma boa fotografia de Bruno Delbonell e uma nova e interessante parceria com Danny Elfman na trilha sonora, Grandes Olhos é um filme linear conduzido sem maiores ousadias. O que torna a experiência agradável, por outro lado, é que essa previsibilidade do roteiro escrito pela dupla Larry Karaszewski e Scott Alexander não subestima a paciência do espectador. É um filme simples e ponto. E tem consciência disso. O que não permite que o filme de Tim Burton seja mais interessante, além da dupla protagonista em eterna repetição, é o fato da história se ater mais ao carisma (?) do marido pilantra que seduz a esposa a abandonar a autoria de seus quadros do que justamente às razões que fizeram Margaret comprar a proposta enganadora do marido. Ela era simplesmente tola? Para uma mulher divorciada nos anos 1950, não parecia ser. Mas infelizmente Grandes Olhos prefere ficar mais com a teatralidade cômica da interpretação de Christoph Waltz.

Em meio à convencionalidade, Tim Burton encontra espaço para aplicar controladamente algumas de suas referências sem que pareçam avulsas. O ponto alto é a ótima cena em que a protagonista vai ao supermercado e imagina todas as pessoas com os famosos grandes olhos que tanto pinta secretamente em suas telas. Assim, é correto dizer que este filme marca mais como uma oxigenação para a carreira até então em franca derrocada de Tim Burton do que propriamente como uma biografia linear e agradável. Em ambos os casos, entretanto, a interessante história de Margaret Keane é minada por seus atores. Bem como Adams e Waltz, volto a me repetir ao afirmar que Grandes Olhos, uma produção com basicamente tudo no lugar no que se refere a biografias convencionais mas satisfatórias, já ganharia uma roupagem completamente diferente com atores mais versáteis. Adams, que chegou a absurdamente vencer o Globo de Ouro 2015 de melhor atriz em comédia/musical quando concorria com uma impressionante Julianne Moore em Mapa Para as Estrelas, já provou em outros filmes que consegue se reinventar. O oposto acontece com Waltz, que, após ganhar dois Oscars (ambos justamente por filmes de Tarantino), tem se revelado, assim como o seu exagerado Walter Keane, uma verdadeira enganação.

7 comentários em “Grandes Olhos

  1. Bom, Waltz repete trejeitos nas suas duas atuações vencedoras do Oscar. Em relação a esse filme, tenho lamentado muito as opiniões que tenho lido. Esperava bastante de “Grandes Olhos”, mas me parece que o resultado do filme não corresponde ao que se esperava dele. Uma pena!

    • Kamila, acho que as duas interpretações dele vencedoras do Oscar são diferentes, não vejo tanto essa repetição. Mas nunca que ele merecia vencer tão cedo uma segunda estatueta. Aquele prêmio era indiscutivelmente de Philip Seymour Hoffman por “O Mestre”!

  2. Ótima crítica. e expressou um sentimento que venho tendo já a alguns anos, pois também acho que Christoph Waltz vive se repetindo, e, realmente só se sai bem com Tarantino. Já Amy Adams, considero suas interpretações agradáveis.

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