Rapidamente

Com uma carreira cada vez melhor e mais prolífera, Jake Gyllenhaal tem um de seus melhores desempenhos em O Abutre

Jake Gyllenhaal pode até não ter conseguido uma indicação ao Oscar 2015 de melhor ator por O Abutre, mas, com esse filme, ele novamente reafirma a excelente fase que vive em uma carreira agora repleta de boas escolhas.

O ABUTRE (Nightcrawler, 2014, de Dan Gilroy): Jake Gyllenhaal não conseguiu uma indicação ao Oscar 2015 por sua interpretação em O Abutre, mas quem perde mesmo é a Academia por não ter reconhecido este que é, provavelmente, o melhor momento da carreira do ator. Cada vez mais envolvido com projetos diferentes e autorais, Gyllenhaal tem se aperfeiçoado e, neste filme de Dan Gilroy (sim, o irmão do já conhecido Tony, diretor de Conduta de Risco), dá até para dizer que ele é o responsável por trazer à trama um mistério e uma força que o conjunto todo não tem. Se O Abutre é um longa bem conduzido em termos técnicos e de direção – em especial nas cenas em que o protagonista filma acidentes ou assassinatos para vender a um programa televisivo – o mesmo entusiasmo não é compartilhado pelo roteiro, que justamente perde tempo demais na caçada de Lou Bloom (Gylenhaal) a fatos extraordinários para ganhar dinheiro do que em seus visíveis e por vezes amedrontadores problemas mentais. Por isso, quando O Abutre se concentra na dinâmica de Bloom com os personagens coadjuvantes que percebem seus distúrbios (destaque para o jantar com Rene Russo), o filme ganha uma complexidade que, caso fosse o foco da história, tornaria O Abutre uma experiência mais intrigante.

O AMOR É ESTRANHO (Love is Strange, 2014, de Ira Sachs): É bem diferente do que pode parecer este filme que traz Alfred Molina e John Lithgow como dois homens que mantém um relacionamento de décadas e finalmente podem/decidem oficializar a relação legalmente. Diferente porque O Amor é Estranho não é sobre dois homens já beirando os 70 anos que compartilham uma vida juntos, mas sim sobre as dificuldades financeiras deles e como ela faz com que ambos percam o apartamento e tenham que ficar separados durante algum tempo morando de favor na casa de amigos e parentes. Ou seja, decepciona como o filme de Ira Sachs não se dá conta de que os melhores momentos da história que escreveu em parceria com Mauricio Zacharias são justamente aqueles em que Molina e Lithgow – ambos levando os papeis com bastante dignidade e humanidade – estão juntos em cena. Só que O Amor é Estranho insiste em narrar suas vidas separadamente e em nada a trama parece preocupada em abordar a distância como fator dramático para o recém firmado casamento. Do jeito que ficou, o filme é apenas sobre dois homens interferindo o dia a dia dos outros, observando o cotidiano corriqueiro dessas pessoas e eventualmente se tornando empecilhos para elas. Uma chance desperdiçada.

O JUIZ (The Judge, 2014, de David Dobkin): Considerando os filmes lançados em circuito comercial no Brasil em 2014, O Juiz é a experiência mais aborrecida do ano ao lado de A 100 Passos de Um Sonho. A construção dos personagens já seria suficiente para justificar toda a previsibilidade do filme, mas o diretor David Dobkin dá razões de sobra para que o resultado transborde obviedades em todos os setores. Robert Downey Jr. interpretando o seu papel habitual de homem ácido e sarcástico é o menor dos problemas em uma história repleta de escolhas fáceis. Não existe nada de novo no retorno do filho que há anos não fala com o pai mas se vê obrigado a conviver com ele após uma tragédia pessoal. Também não instiga o velho arco dramático do senhor rabugento e irredutível que, óbvio, em algum momento vai se humanizar com uma doença terminal. Além do desperdício de bons nomes no elenco de suporte (Billy Bob Thornton, Vera Farmiga), O Juiz tem uma duração exagerada para uma história que se sustenta no julgamento de um crime perfeitamente corriqueiro e nada aberto a complexidades. São 140 minutos arrastados que fazem questão de sempre adicionar pitadas de clichês – e até mesmo de cafonices – em uma trama que por si só já pede desesperadamente por novidades.

4 comentários em “Rapidamente

  1. é difícil entender a esnobada da academia… tanto gyllenhaal como o filme mereciam indicações. mas tudo bem, faz parte!

  2. Realmente, Jake Gyllenhaal é a melhor coisa de “O Abutre”. Personagem medonho e muito bem interpretado, será que o Bradley Cooper tá melhor?

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