Direção: Vicente Amorim, Guillermo Arriaga, Stephan Elliott, Sang-Soo Im, Nadine Labaki, Fernando Meirelles, José Padilha, Carlos Saldanha, Paolo Sorrentino, John Turturro, Andrucha Waddington e César Charlone
Roteiro: Andrucha Waddington, Mauricio Zacharias, Paolo Sorrentino, Antonio Prata, Chico Mattoso, Stephan Elliott, John Turturro, Guillermo Arriaga, Sang-soo Im, Elena Soarez, Otavio Leonidio, Nadine Labaki, Rodney El Haddad, Khaled Mouzannar, Fellipe Barbosa
Elenco: Fernanda Montenegro, Eduardo Sterblitch, Emily Mortimer, Basil Hoffman, Vincent Cassel, Ryan Kwanten, Marcelo Serrado, John Turturro, Vanessa Paradis, Jason Isaacs, Laura Neiva, Rodrigo Santoro, Tonico Pereira, Wagner Moura, Bruna Linzmeyer, Cláudia Abreu, Cleo Pires, Harvey Keitel
Brasil/EUA, 2014, Drama/Comédia, 110 minutos
Sinopse: Novo episódio da série de filmes Cidades do Amor, Rio, Eu Te Amo reúne dez curtas de dez diretores brasileiros e internacionais. Cada uma das histórias revela um bairro e uma característica marcante da cidade maravilhosa. (Adoro Cinema)
De todos os curta-metragens realizados para a série Cities of Love, o que melhor sintetiza a proposta desta iniciativa cinematográfica que homenageia cidades apaixonantes do mundo é aquele de Alexander Payne para Paris, Te Amo. Em 14e Arrondissement, ele dirige Margo Martindale como uma solitária turista que, ao visitar Paris, encontra nas belas paisagens, monumentos e arquiteturas da cidade uma inspiração para esquecer sua solidão e voltar a amar a vida. Além do belo desempenho de Margo, o que mais encanta neste curta é justamente a sua capacidade de conectar a personagem à cidade e usar a geografia como fator fundamental para falar sobre sentimentos e descobertas.
É óbvio que, em um longa que reúne diversos curtas dos mais variados diretores, a falta de harmonia entre cada um deles seja o principal defeito. É difícil manter o nível. Mesmo Paris, o mais bem sucedido da série, tinha curtas bobos e irregulares, mas também os mais belos vistos até agora. Na sequência, veio a versão de Nova York, que conseguiu transformar a capital estadunidense em um completo tédio. Agora nós brasileiros temos o orgulho de ver nossa mais emblemática cidade turística ganhando o protagonismo deste projeto internacional.
Só que o orgulho, infelizmente, não se estende ao que é de fato visto na tela. Rio, Eu Te Amo é, sem dúvida, melhor que a versão novaiorquina, mas está longe de ter um curta sequer que se equipare ao que Alexander Payne ou até mesmo o Isabel Coixet fizeram no universo parisiense. E o exemplar brasileiro até que começa de forma respeitosa, trazendo a grande Fernanda Montenegro como uma moradora de rua que resolveu viver sem lar, contas e obrigações familiares – o que, segundo ela, é libertador. E a cena final dela com o filho é, sem dúvida, o momento mais bonito de Rio, Eu Te Amo.
Aos poucos, no entanto, o formato começa a cansar e, apesar das válidas e novas tentativas (como a de não mostrar os curtas de forma independente e sim adiantar a aparição de alguns personagens nas transições), Rio, Eu Te Amo se torna mais do mesmo e ainda comete o pecado de não explorar devidamente as paisagens e encantamentos da cidade-título. Frustra, por exemplo, ver o excesso de efeitos visuais para colocar Wagner Moura perto do Cristo Redentor no curta de José Padilha ou, então, a cafonice estética do momento em que Ryan Kwanten e Marcelo Serrado chegam encantados ao topo do Pão de Açúcar em determinado segmento.
Só que a relação dos personagens com o Rio de Janeiro se estabelece única e exclusivamente a partir de fracas tomadas que os colocam em cenários emblemáticos da cidade, e não a partir de sentimentos ou situações especiais na cidade. Outros elementos de ambientação como a trilha sonora também surgem óbvios e sem invenção. Por isto, é no mínimo bonita a cena em que Cláudia Abreu (a única que não tem um curta propriamente dito, mas que aparece em diferentes pontos do longa) reencontra um antigo amor ao som de um empolgante samba na lapa carioca. Ali, está a conexão como ela genuinamente deve ser: simples, sincera e relacionada com o clima da cidade.
Se for para destacar um curta especial, este certamente seria o dirigido por Nadine Labaki, que mostra como um casal, ao encontrar um menino morador de rua, resolve realizar um grande sonho do jovem. Texto, empatia dos atores (o garotinho é sensacional!) e a mensagem desta passagem revelam um carinho muito grande que falta ao filme como um todo. Preferindo esquecer completas bobagens como o curta protagonizado por Tonico Pereira ou o irritante texto comandado por John Turturro, saí da sessão com a impressão que vi apenas um conjunto de curtas genéricos sobre pessoas e circunstâncias – e não uma homenagem a uma cidade. Tomara que a próxima parada (Xangai) seja mais inspirada.
CLICHEZÃO COM JANELA PARA O REDENTOR.
Kamila, eu pensava que era um problema de estrutura, mas aí veio “Relatos Selvagens” e provou que filmes desse gênero podem sim ter unidade!
Robson, exatamente… Isso da Bebel Gilberto e do Tonico Pereira foi lamentável…
Achei completamente sem graça e desestimulante. Pra mim, entra na lista dos piores do ano. Uma das piores cenas que pude ver no cinema foi Bebel Gilberto de Cupido e Tonico Pereira sambando como um vampiro. Foi tosco demais…
Seu texto sobre “Rio, Eu Te Amo” reforça a minha impressão sobre filmes desse tipo: a falta de unidade, a irregularidade entre os curtas. De toda maneira, quero assistir porque fiquei curiosa em relação à proposta do longa.