Na-na-na-na! Hey-hey-hey! Goodbye! Sing it!
Direção: David Cronenberg
Roteiro: Bruce Wagner
Elenco: Julianne Moore, Mia Wasikowska, Evan Bird, John Cusack, Olivia Williams, Robert Pattinson, Niamh Wilson, Emilia McCarthy, Sarah Gadon, Amanda Brugel, Jayne Heitmeyer, Clara Pasieka
Maps to the Stars, EUA/Canadá/Alemanha/França, 2014, Drama, 111 minutos
Sinopse: Agatha Weiss (Mia Wasikowska) acabou de chegar a Los Angeles e logo conhece Jerome Fontana (Robert Pattinson), um jovem motorista de limusine que sonha se tornar ator. Eles começam a sair juntos e flertar um com o outro, por mais que Agatha mantenha segredo sobre seu passado. Não demora muito para que ela comece a trabalhar para Havana Segrand (Julianne Moore), uma atriz decadente que está desesperada para conseguir o papel principal da refilmagem de um sucesso estrelado por sua mãe, décadas atrás. Paralelamente, o garoto Benjie Weiss (Evan Bird) enfrenta problemas ao lidar com seu novo colega de elenco, já que é a estrela principal de uma série de TV de relativo sucesso. Entretanto, como esteve internado recentemente, está sob a atenção especial de sua mãe (Olivia Williams) e dos produtores da série, que temem um escândalo.
Recentemente exibido no Festival do Rio, Mapas Para as Estrelas começou sua repercussão ainda lá na metade do ano, em Cannes, quando ganhou o prêmio de interpretação feminina para Julianne Moore. Mas caso você tenha a chance de conferi-lo, não pense duas vezes, pois, pelo menos nos Estados Unidos, este novo filme de David Cronenberg será lançado somente em 2015 – e possivelmente apenas em home video. Já aqui no Brasil, ainda não existe nem previsão de seu lançamento comercial. É no mínimo estranha a decisão da Focus Features em escantear o longa, já que este é o trabalho mais irônico, ácido e crítico de Cronenberg em anos – e também o mais acessível (o que está longe de ser um demérito).
Bastante polêmico como sempre, o diretor, com Mapas Para as Estrelas, fez um filme realmente envolvente, distanciando-se bastante da proposta do esquisito – e quase pretensioso – Cosmópolis, estrelado por Robert Pattinson. O jovem ator, aliás, repete a parceria com Cronenberg agora, mas em um papel bem menor, como o motorista de uma limusine (claramente uma referência ao seu trabalho anterior com o diretor). Só que é todo o restante do elenco que brilha por completo, deixando difícil que ele tenha algo a fazer aqui tanto em termos de interpretação quanto em relação a seu limitado papel.
Mapas Para as Estrelas encontra em seu elenco uma de suas maiores forças, mas vai muito além desta mera definição: tudo está bem posto e desenvolvido aqui e o que obviamente chama mais a atenção tematicamente é a questão dos complicados cotidianos de pessoas que tiveram suas personalidades construídas a partir de uma vida repleta de fama – seja uma atriz veterana que está vendo sua carreira despencar ou um jovem, que, aos 13 anos, já administra uma fortuna de milhões. São obviamente relatos e críticas pertinentes em tempos que o cinema é cada vez mais voltado para o público jovem e onde grandes talentos que fizeram história se vêem sem papeis e reduzidos a chances bobocas em comédias até mesmo grosseiras.
É genial este contraste proposto por Cronenberg porque ele foge de panoramas fáceis. Outro diretor mais simplista certamente faria a cronologia óbvia de celebridades que descobrem a fama e são corrompidas por ela. O que Mapas Para as Estrelas mostra é bem diferente: figuras que já provaram da fama e que hoje enfrentam vários problemas por causa dela. São todos personagens que não sabem muito bem o que fazer para seguir em diante. A Havana de Julianne Moore, por exemplo, faz de tudo para conquistar um desejado papel e vive sob a sombra da falecida mãe, indicada ao Oscar e que agora terá este seu consagrado papel refilmado – e ela precisa lidar com o fato de que, mesmo sendo uma famosa atriz, não é a mais cotada para incorporar o papel da sua própria finada matriarca.
É interessante também a vida desestruturada do jovem Benjie (Evan Bird). Ele foi criado em um ambiente problemático, onde a irmã – descobre-se pouco a pouco – ateou fogo na casa da família, o pai desde sempre viveu no mundo artístico administrando a carreira de estrelas e o próprio Benjie, hoje estrelando uma série de TV, já teve que passar por um processo de desintoxicação envolvendo uso abusivo de drogas antes dos 13 anos. Porém, na realidade, a questão da fama aqui é mero detalhe para que o filme destrinche grandes problemas familiares e psicológicos em pessoa ricas em conflitos dramáticos.
O elenco segue tudo com total entrega e intensidade. Se Bird tem força e desenvoltura de sobra para dar vida a Benjie (um personagem difícil e intenso para alguém de sua idade), Julianne Moore dá um verdadeiro show como a ensandecida Havana, nunca tornando-a histérica ou caricata – o que seria fácil demais, visto que sua personagem é descontrolada e frequentemente vítima de azar e injustiças. E quanto à desenvoltura, naturalidade e capacidade de se transformar… Bom, neste sentido, Moore dispensa comentários. Mia Wasikowska também tem seus momentos como a garota que volta a Hollywood e vira assistente de Moore, até mesmo se distanciando de um certo tipo de garota difícil que tanto lhe marcou.
Obviamente, porém, Mapas Para as Estrelas não é para qualquer um. Além do final que transborda pessimismo, este é um longa de personagens difíceis inseridos em situações e vidas sufocantes. Assombrados por expectativas e alucinações, tentam colocar suas vidas nos trilhos. Mas tudo isso não impede que o resultado seja uma viagem gratificante, reflexiva e subversiva. Mais do que isso, uma investida bastante completa, como há tempos Cronenberg não fazia. Os ares estadunidenses (esta foi a primeira filmagem do diretor nos EUA em quase 50 anos de carreira) parecem ter feito muito bem ao autor.
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Kamila, pena mesmo… Mas deve ser mais um incentivo para a Julianne Moore na próxima temporada de premiações. Vai ganhar por “Still Alice”, mas tem outros trabalhos ótimos como esse em sua filmografia recente.
Curiosa para assistir a esse filme. Uma pena que não tenha tido o apelo necessário nos Estados Unidos. Me parece ter sido um filme mais “abraçado” pelo mercado internacional.