Três atores, três filmes… com Raquel Cirne

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Exatamente 10 anos atrás, na oitava série do ensino fundamental, eu conhecia a Raquel, que, pela primeira vez, seria minha professora de História. O convívio acadêmico durou apenas um ano letivo, mas acho que posso dizer que a conexão que estabelecemos lá atrás como aluno e mestra continua até os dias de hoje. Tradutora, professora e escritora do blog El Tesoro de Palabras, dedicado aos idiomas, a Raquel também dança, faz artesanato e, como ela mesma define, é uma sonhadora profissional. A participação dela aqui nesta seção é muito especial não só pelo fato de que a Raquel foi uma das professoras mais especiais que encontrei ao longo da minha vida acadêmica mas também porque ela, com sua habitual criatividade, resolveu quebrar os protocolos do blog (o que muito me animou!). Além de fazer uma introdução sobre o ofício do ator, ela resolveu escolher três interpretações de uma única atriz. E logo abaixo vocês vão descobrir o porquê de eu ter gostado tanto das escolhas da Raquel. Ah, e para quem quiser conferir o blog dela, aí vai o link: http://www.eltesorodepalabras.blogspot.com.es. Boa leitura a todos!

O que é uma atriz? É uma profissional que, através da expressão corporal, da técnica vocal e da interpretação, dá vida a outras vidas. O que é uma boa atriz? É uma profissional que realmente trabalha esses pilares da arte dramática, deixando de lado a si mesma. O que é uma excelente atriz? Meryl Streep. Assim, ao pensar nas minhas escolhas para esta seção, recordava imediatamente as atuações dela, que é uma atriz diferente em cada filme. Rica ou pobre, vilã ou mocinha, conservadora ou moderna, sempre convence, nunca se repete, e não se limita à fama como fator suficiente para manter uma história. Por isso ela é uma verdadeira atriz profissional, e não somente uma “estrela”.

Meryl Streep (Mamma Mia!)
Haja fôlego! Corre, dança, grita, sobe no telhado e cai da janela, pula no mar, ri, chora… E canta – com a própria voz… E em muitos momentos, faz tudo isso ao mesmo tempo, e com uma idade que até poderia ser “considerável”… É um trabalho muito completo, no qual se vê realmente uma grande expressão corporal, uma grande expressão vocal e uma interpretação sensível, passando por emoções diferentes, até mesmo opostas, e em todo o momento verdadeiras. Para ter valor, nem sempre um filme precisa ser questionador, ou enigmático, ou difícil de entender. Também ter que ter música luminosa, leveza, beleza, como aquela linda celebração do casamento com velas penduradas nas árvores… Cinema é magia, e deve ter a função de inspirar, de estimular os sonhos, de colorir a vida – vide o final escandalosamente colorido e alegre. Esta obra é uma fábula, e as fábulas têm finais felizes, mesmo que demorem para chegar. E é justamente a falta de cor na vida, e o costume a isto, que me leva à escolha do segundo filme. Sonhos são necessários, mesmo que nem sempre se possa realizá-los. Mas sem eles, não se vive.

Meryl Streep (As Pontes de Madison)
Nenhum efeito especial, poucos atores e poucos ambientes constroem um filme bastante complexo, que nos mostra o outro lado da moeda: nem sempre a felicidade é possível. A dona de casa invisível aos olhos da família que vê seus sonhos morrerem pouco a pouco até transformar-se em uma sombra que quase não sente nada, vive uma relação passageira, porém eterna, com um fotógrafo viajante. Nesse curto período, o coração dela bateu, ela sentiu paixão, ciúme, medo… sentiu emoções, esteve presente na própria vida. Porém, tanto se escolhesse ficar com ou sem ele, seria infeliz, devido a um grande controle social que afetaria toda a sua família. Podemos pensar que a história se passava nos anos 60, em uma cidade do interior, nas quais qualquer comportamento diferente era condenado e expulso… Mas sabemos que continua sendo atual. As revistas de fofocas não só sobrevivem como se expandem no infinito mundo virtual, pois a vida alheia ainda parece interessar mais do que a própria. Penso que o desafio de Meryl foi dar vida a uma personagem sem vida que, por um curto momento, passa a estar cheia de vida. Não conseguiu realizar seus sonhos, mas foi um breve encontro com um deles que possibilitou que continuasse. Simples assim, que continuasse.

Meryl Streep (A Escolha de Sofia)
Não poderia e nem tenho a pretensão de comentar sobre a densidade deste filme, que certamente está na lista dos melhores de toda a História, em tão poucas linhas. Acredito que muito já foi analisado tanto sobre o roteiro adaptado quanto sobre a extraordinária e profunda interpretação de Meryl, de modo que eu gostaria de destacar o trabalho dela ao ter que falar em três idiomas: alemão, polonês e inglês. O que para nós pode ser visto como um ponto forte, que mereceria um grande elogio, para ela, foi simplesmente sua obrigação, pois certa vez comentou que reproduzir sotaques faz parte do trabalho de qualquer atriz. E é esse tipo de postura que a faz única, irrepetível. Mas na linha dos dois outros filmes, também reflito sobre a “possibilidade” das escolhas. Ela foi obrigada a escolher qual filho deveria morrer, e poderíamos dizer que somente no nazismo se encontrariam tais atrocidades… Mas não. A pobreza e a fome, vergonhosamente presentes em uma época privilegiada de recursos, informação, circulação de ideias e pessoas, ainda obriga a muitas mães à mesma “escolha”. Como disse Nietzsche, “a arte existe para que a realidade não nos destrua”. Por isso precisamos das fábulas, dos sonhos, das cores e de Meryl Streep.

3 comentários em “Três atores, três filmes… com Raquel Cirne

  1. Luziene, adorei as escolhas e, principalmente, as justificativas da Raquel!

    Kamila, exato! Eu trocaria um desempenho, mas a Raquel fundamentou muito bem as escolhas dela.

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