When the heart rules the head, disaster follows.
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Colin Firth, Emma Stone, Eileen Atkins, Marcia Gay Harden, Jacki Weaver, Hamish Linklater, Simon McBurney, Catherine McCormack, Erica Leerhsen, Jeremy Shamos, Ute Lemper, Sébastien Siroux
Magic in the Moonlight, EUA, 2014, Comédia, 97 minutos
Sinopse: Stanley (Colin Firth), um falso mágico com talento para desmascarar charlatões, é contratado para acabar com a suposta farsa de Sophie (Emma Stone), simpática jovem que afirma ser médium. Inicialmente cético, ele aos poucos começa a duvidar de suas certezas e se vê cada vez mais encantado pela moça. (Adoro Cinema)
É errado pensar que filmes acontecem no vácuo, especialmente quando falamos de diretores que estão constantemente em atividade. Se um filme não nasce de fatos reais ou de inquietações referentes à política ou conflitos sociais, devem ser analisados dentro da filmografia de seu realizador. Afinal, o que determinado longa significa dentro de uma extensa carreira, por exemplo? E Woody Allen tem seus contextos. Com o passar dos anos, deixou bem claro que realiza filmes com muito mais afinco do que outros.
Certas produções como Match Point, Vicky Cristina Barcelona, Meia-Noite em Paris e Blue Jasmine são realmente mais relevantes, complexas e eficientes se comparadas a outras de Allen que chegam aos cinemas apenas porque ele realmente não quer parar de filmar. Desta forma, os filmes do diretor podem ser classificados como mais ambiciosos em suas discussões ou apenas como leves brincadeiras. No caso da segunda categoria, Para Roma, Com Amor era o exemplar mais recente até a chegada deste Magia ao Luar, que, mesmo agradável e simpático, deve ser o longa menos instigante de Allen em anos.
Justamente por ter esta subcategoria de filmes menores, virou moda falar de Woody Allen ou usar a clichê expressão de que “o pior de Woody Allen é melhor do que muita coisa por aí”. Mas até para o próprio universo de filmes medianos do diretor, Magia ao Luar decepciona, sendo uma obra que tem um grande problema de ritmo e que, em diversas partes, se torna quase entediante e repetitiva. E repetitiva não só em termos da história andar em círculos, mas também em sua própria estrutura que copia jogadas vistas recentemente em Blue Jasmine, por exemplo – como aquela em que induz o espectador a acreditar em mudanças muito fáceis dos personagens para, no final, desmontar tudo com uma revelação ou com uma guinada-surpresa.
O bom e velho Woody Allen está ali, com sua ironia, seu pessimismo e sua racionalidade, mas, dessa vez, para os que não gostam, pelo menos ele está mais disfarçado na pele de Colin Firth, que tem a seu favor o fato de não tentar emular os tiques tão característicos do próprio Woody (ao contrário de tantos atores como Larry David e Owen Wilson) e criar algo mais novo. Magia ao Luar tem boas sacadas e momentos divertidos, com destaque para aqueles da primeira metade, onde o mágico Stanley (Firth) finalmente se encontra com a médium Sophie (Emma Stone, sempre radiante e simpática, mas uma atriz que estranhamente nunca bombou como prometia) e tenta sutilmente desmascará-la. Só que apenas Stanley crê que a moça seja uma farsa e o novo filme de Woody Allen se torna uma reflexão sobre ceticismo e até que ponto nossa credulidade passa a vencer o bom senso ou simplesmente os fatos.
Porém, a partir do momento em que começa a induzir o espectador para as tais resoluções e mudanças fáceis demais para personagens tão sólidos, Magia ao Luar começa a se perder ao se revelar um samba de uma nota só. O filme perde o ritmo, a história se estagna e tudo parece mera variação do que já vimos antes no mesmo roteiro ou em outras obras mais recentes do diretor. O que resta apenas, neste meio tempo, é o carisma da jovem Emma Stone e a desenvoltura de Firth – além da ilustre presença da veterana Eileen Atkins, que, nos minutos derradeiros, tem uma cena inspiradíssima com o protagonista. Ah, e também é bom ver Woody Allen compensando todo aquele duro pessimismo de Blue Jasmine com esta trama mais leve e de mensagens mais positivas e aliviantes, mesmo que em um conjunto bastante carente de envolvimento.