Uma das alegrias de poder estar em eventos de cinema é, sem dúvida, ampliar a troca de conhecimentos e opiniões sobre filmes. E também conhecer pessoas com quem você tem afinidade. Este ano, não foi diferente no Festival de Cinema de Gramado, onde conheci a jornalista Daniela Cardarello, com quem tive a oportunidade de trabalhar na assessoria de imprensa do evento. Muito além das opiniões semelhantes concorrentes latinos e brasileiros do evento, os filmes em geral – sejam os blockbusters ou os de “arte” – nos conectaram em praticamente todas as trocas de opinião. É sempre muito bom quando isso acontece. Para a minha alegria, a Daniela aceitou participar do Três atores, três filmes, com uma seleção que, segundo ela, foi feita tentando escapar das escolhas mais “óbvias” (mas nem por isso menos extraordinárias), como algum desempenho de Meryl Streep ou de Julianne Moore, atrizes que nós dois admiramos profundamente. O resultado desta lista que preza por escolhas autênticas e bastante pessoais vocês conferem abaixo!
John Travolta (Pulp Fiction – Tempo de Violência)
Impossível esquecer do capanga Vincent Vega neste segundo filme de Quentin Tarantino que já é um icone do cinema. As frases da dupla de assassinos interpretada por Travolta e Samuel L. Jackson (Jules Winnfield) são inesquecíveis, tanto pelo conteúdo bizarro no contexto das cenas quanto pela interpretação de ambos, com destaque ao protagonista Vincent. De fato, acredito que ninguém poderia prever que este papel pudesse ser tão bem resolvido por este ator que, até o momento, era mais reconhecido por rebolar – claro, de um jeito muito “macho” -, e brincar de papai em comédias românticas bobas. Descobrimos que ele também podia atuar – e muito bem, no melhor resgate da indústria da perdição do star system de Hollywood. Não posso deixar de lembrar: ele ainda dançou neste filme, em uma cena magnífica com Uma Thurman (Mia), a mulher de seu chefe, a quem ele tem que cuidar e, claro, não chegar muito perto. Mas lá estão eles, dançando maravilhosamente um twist, sem rebolar, e mostrando que, sim, ele sempre é bom de pista.
Tom Cruise (Magnólia)
Ok, por favor, esperem, sei que para muitos é difícil entender como posso destacar uma atuação do Tom Cruise. Mas, aqui, ele realmente surprendeu – e muito! Não fui a única a achar isso: com sua interpretação como o guru Frank T.J. Mackey, ele conseguiu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro. Cruise é um ator secundário neste filme de diversas pessoas que conduzem a história. E todos são espetaculares, seja Julianne Moore, William H. Macy ou o recentemente falecido Philip Seymour Hoffman. A força que Cruise transmite como o “supermacho norteamericano” em suas palestras a homens frustrados – sob o lema “Seduza e destrua” -, é, para mim, um dos momentos inesquecíveis do filme, que pessoalmente adorei. Sua atuação é refrescante e comovente. Esse carismático homem interpretado por ele é, na verdade, um desgraçado incapaz de superar o abandono do pai. Todo esse esquema de durão hermético em plena negação chega, em um determinado ponto, a uma ruptura, mostrando a sua necessidade de amor e perdão. É, vale a pena ver de novo!
Natalie Portman (V de Vingança)
É claro que esta atriz já começou bombando na sua carreira como a pequena Mathilda, protegida pelo assassino profissional interpretado por Jean Reno em O Profissional, mas ela foi crescendo em cada papel que interpretou até chegar ao merecido Oscar de melhor atriz por Cisne Negro. Acredito que, interpretando Evey, em “V de Vingança”, ela realmente mostrou do que era capaz, que não existia um limite que ela não alcançasse para se transformar em um personagem. Portman é uma jovem em quem V – personagem principal da HQ no qual o filme foi baseado -, reaviva um ativismo. Sua mudança radical ao longo da obra destaca a inteligência desta atriz, que tem que se vincular emocionalmente a um ator que sempre usa uma máscara. É uma interpretação que, por momentos, chega a comover profundamente. Portman alcança extremos reais no filme, como raspar completamente a cabeça (de verdade!) e aprender a falar com sotaque britânico. Apesar de estar entre as estrelas de Hollywood cujo nome já é garantia de sucesso, o filme não teve uma boa bilheteria. Mas, claro, qual reação esperavam de um público acostumado aos super heróis que destroem monstros imaginários sozinhos frente a um homem sem rosto que luta contra um sistema político ditatorial e que precisa da conjunção do povo para conseguir o seu objetivo?
Stella, vi “V de Vingança” há muito tempo. Estou precisando rever!
Kamila, AMO “Magnólia”, mas, por incrível que pareça, lembro pouco do filme. É outro que preciso rever logo.
Daniela, verdade quanto ao Tom Cruise haha
Obrigada a ambas pelos comentários! Estou de acordo cara Cinéfila, mas combinemos: é melhor destacar pelo menos UMA das aproximadamente, 50 atuaçoes, que sofremos do Tom Cruise. Beijos a ambas.
Adorei as escolhas da Daniela. Bem pessoais e bem fundamentadas no seu texto. Das que ela escolheu, acho que a performance que mais me marcou foi a de Tom Cruise, em “Magnólia”, apesar de achar que, neste filme, ele repete, constantemente, aqueles seus tiques como ator e que são repetitivos em seus trabalhos. Mas, sem dúvida, se trata de uma das melhores atuações dele como ator.
As escolhas de Daniela deixam a vontade de rever os três filmes, especialmente “V de Vitória”. Bons demais!