Em Gramado #9: o transcinema de Walter Carvalho

Walter Carvalho teve sua obra celebrada pelo troféu Eduardo Abelin. Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto

Walter Carvalho teve sua obra celebrada pelo troféu Eduardo Abelin. Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto

Para Walter Carvalho, o homenageado do Troféu Eduardo Abelin no 42º Festival de Cinema de Gramado, tudo começa no Renascimento. É desse período histórico que vêm a maior parte de suas referências, da dramaturgia pintada pelos artistas até questões das próprias imagens. “É um período que precisa ser estudado sempre. Compreendo melhor os filmes porque estudo a narrativa pictória”, conta Carvalho, também lembrando a aula de cinema que, segundo ele, foi a melhor que teve em sua vida: a primeira visita à Capela Scrovegni de Giotto, em Págua. “Fui tomado por uma emoção inexplicável e, depois desse momento, nunca mais fui o mesmo”, recorda.

A produção cinematográfica de Carvalho começou por influência familiar: o irmão mais velho Vladimir, também cineasta, o apresentou ao livro do filme O Balão Vermelho, de Albert Lamorisse, que o encantou de imediato. O livro, composto apenas por fotografias e fotogramas do próprio filme, sem uma palavra sequer, inspirou o homenageado, que em seguida embarcaria para o sertão como assistente do irmão em várias filmagens. “Foi esse o momento em que ele me aplicou o cinema na veia e me tornei um dependente”, conta.

O aprofundamento de estudos sobre pinturas, a formação como graphic designer, a convivência com o professor Esdi Roberto Maia e os aprendizados com o fotógrafo Fernando Duarte (“ele me ensinou o que precisava para ser um diretor de fotografia, é outro grande mestre da minha vida!”), entre tantos outros fatos, foram fundamentais para moldar sua trajetória no cinema, que hoje é certamente uma referência para todas as gerações.

São mais de 100 filmes no currículo, mas o primeiro, Incelência Para um Trem de Ferro continua tendo um espaço cativo em sua memória. “A responsabilidade era grande mesmo tendo a promessa do Vladimir que, se eu não acertasse a fotografia do filme dele, não contaria para ninguém porque era meu irmão. Apesar da brincadeira fraterna, descobri com o tempo a importância que o erro exerce sobre a criação. Muitas vezes, encontrei elementos fantásticos dentro do meu trabalho cuja origem nasceu a partir do erro”, aponta.

Atualmente fotografando e dirigindo o remake da novela O Rebu, o homenageado, que também já foi diretor de sucessos de bilheteria como Cazuza – O Tempo Não Para, ao lado da amiga Sandra Werneck, e adaptações como “Budapeste” (baseada no livro homônimo de Chico Buarque), atravessa décadas do cinema nacional com fotografias para filmes de importantes cineastas como João Moreira Salles, Júlio Bressane, Karim Aïnouz e Walter Salles, e para clássicos de nosso cinema como Central do Brasil e Lavoura Arcaica.

Walter Carvalho nunca chegou perto de perder a paixão pelo cinema. “Eu não saberia fazer outra coisa. Olhar na ocular da câmera e ver o efeito da imagem através do obturador e ver passar diante do meu olho a imagem sendo captada é a experiência mais bela que já senti na vida. É deixar-se possuir pela imaginação. Posso dizer que de tanto experimentar esta sensação viciei o meu sistema córtex visual ao ponto de olhar o real no meu dia a dia, enquadrando. Transcinema”, revela.

Conselhos do homenageado para futuros diretores de fotografia:

– Estudar, sobretudo, a história da arte;
– Ouvir os grandes compositores como Mahler, Mozart e Chopin;
– Assistir uma vez por ano a Deus e o Diabo na Terra do Sol, Os Fuzis e Vidas Secas;
– Ouvir Caetano Veloso, Chico Buarque e Bob Dylan, e escutar todas as canções cantadas por Monica Salmaso;
– Ler os escritores brasileiros como Machado de Assis, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Raduan Nassar e tantos outros;
– Ler sempre os poetas: João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade;
– Educar o olhar para a imagem e nunca parar de estudar os pintores, os fotógrafos.

* matéria produzida originalmente como material de divulgação para a assessoria de imprensa do 42º Festival de Cinema de Gramado

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