
Indicado ao Globo de Ouro de melhor atriz comédia/musical (Greta Gerwig), Frances Ha é o filme mais celebrado de Noah Baumbach desde A Lula e a Baleia
FRANCES HA (idem, 2013, de Noah Baumbach): Não sou grande fã de Noah Baumbach, nem mesmo de seu celebrado A Lula e a Baleia, com Laura Linney e Jeff Daniels, lançado anos atrás. Mas esse Frances Ha foi particularmente uma surpresa, com uma história bastante jovem e otimista. Seria errado, no entanto, defini-lo como um feel good movie sem também falar de todos os questionamentos que ele traz sobre a juventude. As expectativas e inseguranças da vida aos 20 e poucos anos estão bem representadas por esse roteiro que se atém a pequenas situações do cotidiano para nos aproximar da protagonista (Greta Gerwig, ótima). Isso mesmo: não existe necessariamente um grande conflito ou maiores reviravoltas em Frances Ha, mas sim uma vida contada em momentos, seja com a ida ao dentista ou com uma mera conversa de final de noite ao lado de um melhor amigo. De vez em quando, Baumbach insiste demais no tom indie ou na própria homenagem à nouvelle vague colocando a protagonista desengonçada a correr na rua ao som de David Bowie, mas é impossível resistir ao carisma do filme. Para quem gosta de comparações, a adolescência nova-iorquina insegura e contemporânea também é retratada de forma similar por Lena Dunham na série Girls, da HBO.
O HOBBIT: A DESOLAÇÃO DE SMAUG (The Hobbit: The Desolation of Smaug, 2013, de Peter Jackson): Com O Hobbit, Peter Jackson passou a ser diretor exclusivo para o pior tipo de público que existe: aquele que é tão apaixonado por uma obra literária que não aceita a existência de liberdades cinematográficas em uma adaptação. Se tirou uma cena importante do livro, o filme não presta. Se alguém reclama de determinado aspecto, é porque na obra original tudo é melhor explicado. Enfim, um público que não entende que cinema é cinema e literatura é literatura. O resultado é esse engodo chamado O Hobbit, em especial essa continuação que recebe o subtítulo de A Desolação de Smaug. Nesse novo volume, estão os mesmos problemas do filme anterior, e o pior: em nível mais acentuado, já que esta é uma parte de transição da história. Não existe qualquer fator surpresa na continuação, que é mais aborrecida, enrolada, confusa e desinteressante que o volume anterior. Nem a parte técnica – com exceção do dragão, que é realmente impressionante -, chega a se sobressair. Tudo é muito igual e repetido, o que prova, mais uma vez, que a decisão de dividir um livro de aproximadamente 300 páginas em três longas de quase três horas foi completamente equivocada.
KICK-ASS 2 (idem, 2013, de Jeff Wadlow): Poucos viram essa mediana continuação do filme original, que era inspirado e divertido. Não que essa sequência tenha perdido seu senso de humor e entretenimento, mas o frescor já não existe mais. Aliás, exageraram na quantidade de violência – que, no final das contas, o próprio Jim Carrey (uma adesão passageira aqui) reclamou -, e no excesso de piadas colegiais. Aqui também já existe uma diferença bastante significativa: agora Kick-Ass (Aaron Taylor-Johnson) já transa em pelo menos duas cenas do filme e a Hitgirl (Chloë Grace Moretz) já olha com segundas intenções para o corpo descamisado do protagonista. Ou seja, se antes a aventura tinha sua graça por ser apenas sobre jovens super-heróis, agora a trama já começa a sair dos trilhos ao dar espaço para peripécias e para os clichês estudantis. Quem acha que a ação por si só já sustenta essa trama certamente vai gostar de Kick-Ass 2, que tem o triplo de adrenalina e sangue. No entanto, acredito que as raízes do protagonista e sua trupe não estejam aí. Em termos de referências ao mundo dos quadrinhos e de sacadas inteligentes com esse universo, a continuação decepciona – quando não aposta no exagero, que está representado nos fraquíssimos vilões, responsáveis pelos momentos de maior baixa do filme.
ÚLTIMA VIAGEM A VEGAS (Last Vegas, 2013, de Jon Turteltaub): Ao contrário do que aparenta, Última Viagem a Vegas não tem muito de Se Beber, Não Case!. Sim, o filme também conta a história de um solteirão (Michael Douglas) que reúne os amigos para uma viagem de despedida de solteiro que promete ser inesquecível, mas esse novo trabalho de Jon Turtelbaut é mais sobre a reunião de quatro atores veteranos em uma história completamente descompromissada do que qualquer outra coisa. Tanto que não é muito difícil perceber que, sem o quarteto, Última Viagem a Vegas não sobreviveria. Previsível do início ao fim – seja na história ou até mesmo na repetição de piadas -, o longa se apoia infinitamente no inegável carisma de seus atores, que conseguem sobreviver aos clichês de seus respectivos personagens. Essa é a boa notícia: eles fazem com que o filme funcione mesmo com tantas obviedades. Sim, Última Viagem a Vegas é dispensável e bem aquém do que poderia ser realizado com atores tão talentosos, mas é inofensivo – o que já se tornou marca registrada de Turtelbaut, diretor de outras obras bobas mas com certo entretenimento como A Lenda do Tesouro Perdido.
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Lucas, é bem isso mesmo: parece um episódio de 1h30 de “Girls”!
Clóvis, pena mesmo que “Kick-Ass” caiu nessa maldição das continuações…
O primeiro “Hobbit” foi até mais interessante do que eu esperava, logo tenho boas expectativas pra esse. Pretendo vê-lo em breve. E é triste ver que “Kick-Ass”, um filme que é divertido à beça, tenha caído vítima dessas continuações desnecessárias.
Amei “Frances Ha”, mas me senti assistindo um episódio de 1h30 de Girls, talvez a presença do Adam Driver tenha reforçado essa sensação.
O uso do preto-e-branco foi bonito, mas me irritou um pouco. Talvez tenha feito o filme soar “indie demais”.
Me apaixonei pela cena de Frances correndo ao som de Modern Love e por este diálogo: http://www.youtube.com/watch?v=WlfD8gF2jzE