Os Suspeitos

Pray for the best, but prepare for the worst.

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Direção: Denis Villeneuve

Roteiro: Aaron Guzikowski

Elenco: Hugh Jackman, Jake Gyllenhaal, Melissa Leo, Paul Dano, Maria Bello, Viola Davis, Terrence Howard, Dylan Minnette, Kyla Drew Simmons, Zoe Borde, Erin Gerasimovich, Wayne Duvall, David Dastmalchian, Brad James

Prisoners, EUA, 2013, Suspense/Drama, 153 minutos

Sinopse: Boston, Estados Unidos. Keller Dover (Hugh Jackman) leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e os filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Um dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos. Sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam à polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas contra ele. Alex na verdade tem o QI de uma criança de 10 anos e, por isso, a polícia não acredita que ele esteja envolvido com o desaparecimento. Entretanto, Keller está convicto de que ele tem culpa no cartório e resolve sequestrá-lo para arrancar a verdade dele, custe o que custar. (Adoro Cinema)

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Pelo menos dois diretores provaram, em 2013, que, ao contrário do que vozes mais radicais apontam, é possível sim deixar seu país de origem para trabalhar nos Estados Unidos sem perder a veia autoral – e ainda, de quebra, dar uma aula de como revitalizar gêneros aparentemente cansados. O primeiro foi o mexicano Alfonso Cuarón, que ensinou como a tecnologia ainda pode estar inteiramente a favor da narrativa de um blockbuster com o impressionante Gravidade. Já o segundo veio do Canadá, entregando esse suspense policial chamado Os Suspeitos. É Denis Villeneuve, que, anos atrás, concorreu ao Oscar por Incêndios e agora se aventura em terras estadunidenses sem qualquer sugestão que tenha se vendido ou se adaptado a padrões comerciais. Isso porque Os Suspeitos é um filme subversivo para o gênero e frequentemente inovador em pequenas decisões que, quando analisadas em conjunto, resultam em um dos filmes mais contundentes de 2013.

Os Suspeitos tem de tudo um pouco: do suspense policial ao drama familiar, da complexidade narrativa à simplicidade que não subestima a inteligência do espectador, do ritmo contemplativo à duração ágil… Mas o que existe de mais especial nesse longa é a forma como ele brinca com os limites de um filme policial, especialmente na figura de Keller (Hugh Jackman, em mais um desempenho marcante para a sua carreira, depois de Os Miseráveis), um protagonista totalmente anti-convencional. Seguindo basicamente a mesma lógica de que “eu não tenho provas, mas tenho a minha certeza” da freira maluca de Meryl Streep em Dúvida, Keller até tem a nossa compaixão pela situação angustiante que vive, mas também a nossa aversão, já que seu senso de justiça com as próprias mãos chega ao total descontrole. É na figura dele que está muito bem representado um dos maiores méritos de Os Suspeitos: o de que não existem respostas certas nessa trama e de que é difícil saber como agir em uma situação guiada por desespero.

Falar mais sobre a história é minar as surpresas desse longa consistente e repleto de surpresas, mas que em momento algum – ao contrário do recente Terapia de Risco – se apoia exclusivamente em excessivas reviravoltas para mostrar inteligência. Na realidade, elas são apenas parte de uma atmosfera bem construída, onde o roteiro muitíssimo bem elaborado de Aaron Guzikowski consegue mesclar várias histórias aparentemente sem ligação com total sentido, fechando cada ciclo sem deixar pontas soltas. A premissa por si só – o desaparecimento de um filho! – já é suficientemente angustiante, mas Os Suspeitos faz tudo (com êxito) para ampliar essa sensação. É uma vitória que vai além de um roteiro seguro e impactante, passando ainda por um grande trabalho de fotografia (o mestre Roger Deakins acerta mais uma vez, dessa vez tornando a história sempre nebulosa, sufocante, quase sem cores) e, claro, por uma direção extremamente no controle de cada um dos elementos, mas que não peca por se ater demais no rigor e menos na desenvoltura para alinhar todos os detalhes.

Muitos desaprovam o desfecho, que me parece ter incomodado justamente por ter uma revelação diferente e um teor que segue a linha das várias subversões narrativas do roteiro. Ao meu ver, ele só dá o fechamento ideal para essa história que permanece com o espectador depois do filme e que certamente instiga a revisões para que possamos perceber ainda mais outros detalhes da construção do quebra-cabeça. Muito além de Hugh Jackman, o elenco de Os Suspeitos é outro ponto forte da trama, visto que todos os atores possuem seu momento de brilho ou pelo menos personagens que estão ali para ter sua parcela de contribuição na solução/complexidade do suspense. O longa de Villeneuve, portanto, não é o policial de tiroteios, a investigação de resoluções desnecessariamente mirabolantes ou o drama de respostas fáceis. É melhor e mais envolvente do que isso, mas com a devida dose de sobriedade. Simples e completo, como há muito não víamos no gênero. Que venham mais exemplares assim, por favor.

FILME: 9.0

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