Na TV… o que falta em The Newsroom?

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Confesso que, pelas mais diversas razões, demorei para conferir The Newsroom, série da HBO que recentemente deu um (injusto) Emmy de melhor ator em série dramática para Jeff Daniels. E isso é no mínimo estranho, principalmente porque o programa retrata os bastidores da profissão que escolhi: o Jornalismo. Ora, a matemática, para o meu gosto pessoal, era infalível: selo da HBO, duas atrizes que gosto muito no elenco (Emily Mortimer e Alison Pill), contemporaneidade e, claro, um estudo sobre a minha profissão. Porém, The Newsroom está longe de ser uma série cativante e ainda demanda certa paciência para acompanhar pontos específicos do roteiro um tanto irritante escrito por ninguém menos que Aaron Sorkin, vencedor do Oscar por A Rede Social.

A exemplo do que vimos no longa que deu milhares de prêmios para Sorkin, The Newsroom é uma série de diálogos verborrágicos: o silêncio praticamente inexiste na trama, onde todos os personagens falam constantemente. Coloque ainda na mistura discussões políticas e conflitos envolvendo os ideais do Jornalismo e você terá um legítimo Aaron Sorkin. Há quem goste e o texto tem seus atrativos, mas o problema é que, em The Newsroom, o roteirista precisa fazer o que justamente se esquivava de fazer nos filmes que lhe deram visibilidade: desenvolver o lado humano dos personagens. Se A Rede Social e O Homem Que Mudou o Jogo careciam de respostas emocionais aos fatos mais “lógicos” trabalhados, a série da HBO necessita disso para se manter no ar – caso contrário, seria mais fácil acompanhar, por exemplo, o Jornal Nacional e depois ler o livro em que William Bonner narra os bastidores do telejornal.

É quando The Newsroom precisa dar personalidade e sentimentos aos seus personagens que a série dilui várias de suas (boas) discussões jornalísticas e não consegue dar um alento aos diálogos essencialmente informativos e racionais. Aaron Sorkin não sabe humanizar personagens. Suas tentativas são pífias, seja na hora de criar humor (todas as figuras beiram o infantil em suas atitudes) ou quando tenta dimensioná-los com algum romance (a paixão de escritório nunca verbalizada é um clichê já explorado até pelas comédias, como The Office). Se precisa falar de sentimentos ou construir uma relação entre os personagens, Sorkin – que roteirizou toda a primeira temporada – deixa a sensação de que só assistiu a comédias românticas da Sessão da Tarde durante toda sua trajetória cinéfila. Isso também porque todos os casais da série não possuem química alguma. Não vemos faíscas entre eles.

Falando em casais, eles nos levam ao elenco do programa. Fora Jeff Daniels – que, mesmo com o Emmy duvidoso, tem aqui a grande chance de sua carreira não tão inspirada -, todos os outros personagens parecem vindos de uma comédia calcada em tiques. Com isso, a adorável Emily Mortimer frequentemente dá pitis irritantes (que, na realidade, tinham como objetivo torná-la engraçada) e Alison Pill não sabe o que fazer com uma personagem cuja falta de personalidade sentimental mais incomoda do que comove. Também é errada a forma como The Newsroom quer posicionar Leona Lansing (Jane Fonda, convidada, também indicada ao Emmy por sua participação) como vilã simplesmente porque ela vê o Jornalismo como negócio, não deixando que a equipe fale e mostre o que bem entende na TV. O Jornalismo da vida real não é assim. Existem anunciantes e visões políticas a serem seguidas. Tudo o que se noticia está coberto por interesses e investimentos financeiros. The Newsroom não é sincera quanto a essa dura verdade, colocando Leona como arquiinimiga por agir de acordo com a realidade e não com as utopias da profissão.

Estruturada em dez episódios de quase uma hora (duração excessiva para uma série essencialmente falada, diga-se de passagem), The Newsroom tem seu ponto alto logo no início, especialmente no episódio-piloto, We Just Decided To. Abrindo sua história com uma cena excepcional, onde Will McAvoy (Daniels) discursa sobre as razões que tiraram o posto dos Estados Unidos de “melhor” país do mundo, a série, em seus primeiros capítulos, ganha pontos por desenvolver com mais afinco a questão do Jornalismo e seus bastidores, convencendo o espectador de todas as responsabilidades que cercam essa profissão hoje tão desvalorizada no Brasil. A checagem de fontes, a escolha certa de imagens e a correria para conseguir todas as informações a tempo do âncora entrar no ar dão o tom certo ao programa, que, nesses momentos, chega a alcançar momentos empolgantes para os seus padrões.

Com a equipe envolvida e com a proposta repleta de possibilidades, é desestimulante ver que The Newsroom não é uma das séries mais interessantes da atualidade. E poderia ser. Deveria ser. Falta uma força maior no programa, que tem, em seu roteirista, uma bênção e uma maldição. Aaron Sorkin continua demonstrando domínio de todo aquele estilo  que lhe deu visibilidade, mas simplesmente não tem o talento necessário para sustentar uma história dramática de bastidores. Talvez, não seja o conjunto o grande empecilho para a série decolar. E sim o seu próprio idealizador, que deveria entregar os romances e as intrigas emocionais a outro roteirista. Quem sabe assim a série proporcione todo o interesse que merece. Atualmente, The Newsroom está em sua segunda temporada – com um terceiro ano já confirmado – e eu paro nessa primeira leva de episódios. Não por ser necessariamente ruim, mas porque existem outras opções melhor alinhadas em suas investidas para acompanhar.

PRIMEIRA TEMPORADA: [8.5] 1X01 – We Just Decidet To [7.5] 1X02 News Night 2.0 [8.0] 1X03 The 112th Congress [7.5] 1X04 I’ll Try to Fix You [7.5] 1X05 Amen [8.0] 1X06 Bullies [7.5] 1X07 5/1 [7.5] 1X08 The Blackout – Part 1: Tragedy Porn [7.5] 1X09 The Blackout – Part 2: Mock Debate [7.5] 1X10 The Greater Fool 

3 comentários em “Na TV… o que falta em The Newsroom?

  1. Muito bons motivos para não perder o show, especialmente para o envolvimento perdeu nesta série Emily Mortimer, a melhor notícia é que apenas sair e da terceira temporada.

  2. Matheus Pannebecker,o que acha da verborragia do Aaron Sorkin?

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