Quanto menos se tem, menos se perde.
Direção: Luciano Moura
Roteiro: Eliza Soares e Luciano Moura
Elenco: Wagner Moura, Mariana Lima, Brás Moreau Antunes, Lima Duarte, Abrahão Farc, Rui Rezende, Lúcia Bronstein, Edmilson Cordeiro, Max Huszar, Paschoal Villaboim, Thierry Trémouroux, João Fábio Cabral
Brasil, 2013, Drama, 96 minutos
Sinopse: Um pai – o médico Theo Gadelha, 35 anos – é obrigado a jogar-se na estrada em busca de seu filho Pedro que desaparece no fim de semana em que completaria 15 anos. O repentino e inexplicável sumiço do filho é a última carta a desabar no castelo de Theo. Seu casamento de 15 anos com Branca – médica como ele – acaba de ruir. Theo saiu em busca do filho, mas acaba encontrando seu pai, com quem não fala há vários anos. De cara para o pai, enxerga a si mesmo, redescobre o filho e se desarma com a mulher que nem por um momento deixou de amar.
Quando cai na estrada para procurar seu filho desaparecido, Theo (Wagner Moura) não se lembra de pedir a ajuda para polícia mesmo depois de dias. Ele também não carrega uma foto atual do filho, mas todas as pessoas que ele encontra no caminho viram o garoto ou dão alguma dica de como encontrá-lo. Por sinal, Pedro (Brás Moreau Antunes), o filho, não saiu de casa em um carro ou em um ônibus: ele resolveu andar a cavalo – facilitando, assim, a busca de Theo. E a boa notícia é que, mesmo com esses detalhes que poderiam minar a boa vontade de qualquer um, A Busca nunca chega perto de perder a plateia. Principalmente porque o primeiro filme de Luciano Moura orquestra com segurança os mais importantes elementos de um road movie e também as dramaticidades secundárias que permeiam a história.
Das (re)descobertas paternas ao casamento decadente, o roteiro escrito por Moura, em parceria com Eliza Soares, aplica a devida sutileza no clássico processo de transformação necessário a um road movie: o protagonista que chega ao final da estrada não é o mesmo que nela entrou. E nós, em A Busca, conseguimos sentir e aceitar isso. Muito em função, claro, de Wagner Moura, que, formando uma ótima dupla com Mariana Lima, entrega mais um excelente desempenho e se reafirma como o melhor ator brasileiro em atividade. É por acertar em praticamente todos os pontos básicos da dramaticidade que A Busca se distancia do selo Globo Filmes que carrega. Ou seja, por mais que volta e meia a produção coloque personagens que não têm muito a dizer (a galera do festival de música Mimoso serve basicamente como alívio cômico), tudo consegue funcionar de um jeito ou de outro.
Sobre a busca do título, é importante ressaltar que ela nunca perde o ritmo, sempre instigando com reflexões e pequenas doses de angústia, já que até mesmo a cena inicial, um batido flashforward, tem seu valor. E é exatamente por ter seus acertos – com a proposta de transformação do protagonista bem mastigada e com situações dramáticas eficientes – que o desfecho não parece à altura do que vimos durante aproximadamente 100 minutos de filme. Em contramão, sua brevidade o livra da possibilidade de testar a paciência do espectador, que poderia muito bem achar as soluções fáceis, previsíveis e até mesmo sentimentalóides caso as cenas finais se prolongassem mais do que deveriam – o que não acontece, sendo assim mais um atestado de controle do roteiro e da direção.
Desde que entrou em cartaz aqui no Brasil, A Busca não vem recebendo a devida atenção – seja em termos de bilheteria ou de crítica. Está certo que o trabalho de Luciano Moura não é grandioso em nenhum aspecto, mas a forma como ele estrutura bem essa história, que poderia ser facilmente superficial, merecia um pouco mais de reconhecimento. É um filme que cumpre bem o que promete e que parece ser resultado da vontade genuína dos roteiristas de contar uma história. Em tempos que beneficiados pela Globo Filmes saem pela internet falando besteiras para cineastas como Kléber Mendonça Filho, todos deveriam conferir A Busca com certa boa vontade. Afinal, ainda que lhe falte um brilhantismo extra para se tornar indispensável, consegue ser um bom momento desta marca que – em sua maior parte – só faz barulho com continuações e comédias irrelevantes.
FILME: 8.0
Kamila, exatamente! Também gostei muito do filme em função desses pequenos detalhes sobre influência paterna…
O que eu mais gostei nesse filme foi do fato que a trama principal parece que retrata a busca de um pai pelo paradeiro de seu filho. Porém, a trama é mais profunda que isso e trata mesmo da relação entre pai e filho. Do fato do ato de ser pai ser determinante pelo filho que você foi, pelo pai que você teve. É um longa sobre autodescobertas e sobre o reencontro dessas pessoas todas consigo mesmas.