Encontro com o passado

Produção de aproximadamente 50 minutos da BBC, The Song of Lunch traz os britânicos Alan Rickman e Emma Thompson como um casal que se encontra 15 anos depois de um romance fracassado. Hoje, ela (não existem nomes no enredo) está casada e tem filhos. Já ele apenas trabalha e, aparentemente, vive insatisfeito por não ter realizado alguns sonhos do passado. Assim, nesse jantar apresentado ao espectador em tempo real, acompanhamos as diferentes reações dos dois perante esse encontro que pode ser melancólico ou também será responsável por elucidar as razões dos dois não terem permanecido juntos.

Dirigido por Niall MacCormick, The Song of Lunch já começa dando o seguinte aviso: “Em 2009, o poema narrativo ‘The Song of Lunch’, de Christopher Reid, foi publicado. Este filme é uma realização dramática desse trabalho”. Ou seja, até para quem encontrou The Song of Lunch por um acaso já fica claro que as raízes dessa produção da BBC estão inteiramente na literatura. E se identificar com tal abordagem é decisiva na hora de apreciar a história protagonizada por Alan Rickman e Emma Thomspon – sendo que o primeiro recebe o foco da narrativa.

De início, preciso dizer que os atores britânicos devem ter um DNA muito especial. Nomes como Helen Mirren, Judi Dench e Maggie Smith poderiam ficar mudos frente às câmeras que ainda assim serem fantásticos. Só a presença de grandes profissionais como esses já é o suficiente para que, ao meu ver, um filme inspire certo respeito. E a dupla Rickman e Thompson não foge à regra. Ambos ótimos atores, eles encontram em The Song of Lunch a chance de fazer algo bem intelectual e ao estilo do mundo audiovisual inglês: muita sobriedade, elegância narrativa e controle de emoções. Rickman, no entanto, tem as melhores chances, uma vez que o jantar entre os dois personagens é contado todo através do seu ponto de vista.

O que se poderia esperar, então, desse poema adaptado para as telas estrelado por eles era uma história melancólica sobre um casal que se encontra mais de uma década depois de um relacionamento fracasso. Não é bem assim. Infelizmente, The Song of Lunch segue um caminho bem diferente. O roteiro está mais preocupado em mostrar como o personagem “dele” vivido por Rickman é um homem amargo, pessimista e solitário, alguém que não conseguiu seguir em frente depois do romance que não foi em frente. Por isso e por também tentar preservar ao máximo o caráter literário da obra original, o diretor  Niall MacCormick usou e abusou de narrações em off do protagonista, colocando-o a a analisar todo e qualquer movimento de todas as pessoas em cena – em especial, claro, da figura interpretada por Emma Thomspon.

Se, por um lado, essa abordagem literária confere ao trabalho um tom muito intelectual (sem ser pedante, vale ressaltar) e uma significativa riqueza de detalhes, por outro impede que The Song of Lunch consiga flertar com as emoções. As narrações de Rickman (sujeito com a voz ideal para isso) são mais sobre a visão ácida do personagem em relação ao que o cerca – vida, pessoas, atitudes – e menos sobre o que aquele encontro significa. Por isso, a experiência termina sendo mais racional do que emocional. E uma história como essa, bem como os magníficos atores que a protagonizam mereciam cenas mais emotivas e, consequentemente, mais marcantes. Mas não vamos reclamar muito: o racional de The Song of Lunch já é muito melhor do que várias tentativas bobas de emocionar que vemos por aí.

FILME: 8.0

4 comentários em “Encontro com o passado

  1. Achei apaixonante, tão diferente e tão sutil. E não teve clímax emocional porque não é muito o feitio dos frios britânicos. A direção foi o essencial, até quem vê se apaixona por Ela.

  2. Luís, os dois fazem parte do meu grupo de atores favoritos do cinema britânico!

    Kamila, a experiência vale, justamente, por ser diferente. E o Alan Rickman que merecia indicações a prêmios no lugar da Emma Thompson!

  3. Poxa, que formato narrativo interessante. Nunca tinha ouvido falar na adaptação de um poema. Fora que a dupla de atores central (Alan Rickman e Emma Thompson) é imbatível. Já anotei a dica!

  4. Olha, confesso que fiquei interessado, principalmente porque eu tenho simpatia pelos atores e julgo-os bem competentes.

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