Morally you’re supposed to overcome your impulses, but there are times you don’t want to overcome them.
Direção: Roman Polanski
Elenco: Jodie Foster, Kate Winslet, Chistoph Waltz, John C. Reilly
França/Alemanha/Espanha/Polônia, 2011, Comédia/Drama, 75 minutos
Sinopse: Nova York. O casal Nancy (Kate Winslet) e Alan (Christoph Waltz) vai até a casa de Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly) para discutir uma briga entre os filhos. Eles tentam resolver o assunto dentro das normas da educação e civilidade, mas, aos poucos, cada um perde o controle diante da situação. (Adoro Cinema)
Cinema é cinema. Teatro é teatro. Deus da Carnificina, de Roman Polanski, não consegue diferenciar essas duas artes. Se John Patrick Shanley amargou duras críticas por sua direção teatral no maravilhoso Dúvida, Polanski, então, merece ser condenado por suas escolhas. Deus da Carnificina, apesar do elenco cheio de estrelas, é um filme que não deveria existir, já que carece de características cinematográficas. O principal erro do curtíssimo resultado (são apenas 75 minutos de duração) é não se livrar de qualquer resquício teatral: o enredo é contado em tempo real, o roteiro é totalmente baseado em diálogos e, o pior de tudo, a história é encenada em um único ambiente – o que pode, facilmente, tornar a experiência muito claustrofóbica e limitada. E é exatamente tal abordagem teatral que Deus da Carnificina se torna um filme decepcionante.
A interessante proposta deveria ter sido abordada de outra maneira para o cinema, e não nesse formato que deixa a impressão de que tudo foi filmado em uma tarde, onde os atores simplesmente decoraram o texto e gravaram tudo em um único encontro. O elenco, por sinal, ultrapassa o limite do overacting, deixando bem claro que todos os atores estariam muito mais à vontade nos palcos, onde seria possível perceber a recepção do público – o que é essencial para a comédia desse texto que necessita de maior dinamismo entre autor e público. Só que até mesmo as discussões e os questionamentos propostos por Deus da Carnificina não parecem tão claros nessa versão cinematográfica, perdendo-se em diálogos dispersos que constantemente desviam a atenção do espectador da principal discussão. E a situação se torna particularmente incômoda no final, onde o filme parece exagerar em todos os aspectos.
Fica evidente a tentativa do talentoso quarteto de atores em apresentar algum tipo de química. E, em certos momentos, surge algum tipo de luz – principalmente quando o ácido humor envolvendo o personagem de Christoph Waltz entra em ação. Só que até mesmo o ator precisa rivalizar com uma piada repetitiva e desnecessária. Os erros dos intérpretes, entretanto, são culpa do próprio Roman Polanski, que não conseguiu orientá-los direito: Winslet, Foster, Waltz e Reilly estão perdidos nesse filme que, no final das contas, é literalmente uma peça de teatro filmada. Assim, conversas e situações levadas ao limite parecem implausíveis, pois todas aquelas desculpas esfarrapadas para manter os personagens discutindo por tanto tempo nunca aconteceriam na vida real. Enfim, é uma oportunidade perdida, um texto mal conduzido e, infelizmente, um elenco desperdiçado. Era de se esperar tudo de Polanski, menos Deus da Carnificina.
FILME: 5.0
Eu gostei. Achei as atuações de John C. Reilly (pra mim, uma grata surpresa) e Christoph Waltz muito boas. O fato de o filme ocorrer em uma única tarde não tira o mérito dele.
Luís, acho que “Deus da Carnificina” nem se compara com os filmes que você citou…
Kamila, achei o filme péssimo. E o texto não me fisgou!
Rafael, acho que o povo pegou leve demais com esse filme só porque é do Polanski. Estranho que “Dúvida”, que tem muito mais cara de cinema, foi extremamente criticado pela direção teatral…
Júlio, a diferença é que “Deus da Carnificina” não sabe usar o teatro a seu favor. Pelo menos eu senti isso…
Alex, acho que somos os únicos a desaprovar esse filme!
Mais do que a confusão de linguagem, o que mais incomoda em “Carnage” é certa forçação de barra da narrativa em usar todos os meios para o quarteto estar preso naquele cenário. Realmente, as possibilidades de uma lavação de roupa como essa se concretizar do lado de cá da tela são quase nulas. Polanski é um cineasta extraordinário, mas aqui ficou devendo.
Não acho o filme extremamente teatral – aliás, se fosse assim, obras primas como 12 Homens e Uma Sentença também seriam. O ambiente claustrofóbico é proposital, só atenua a sensação de desconforto proposta pelo filme. Acho o roteiro ácido e as atuações afinadíssimas. E, mesmo se fosse um teatro filmado (o que não é), não acho exatamente um problema (Bergman fez isso em “A Flauta Mágica” e todos amam!).
Oh Mateus, até você tá querendo ver o Polanski de trás das grades de novo? Olha, não vejo problema nenhum na adaptação que ele fez porque, mesmo que tenha muito de teatral ali, acho que ele consegue impor um narrativa cinematográfica, passeando com a câmera pelos espaços do apartamento, sempre variando ângulos e enquadramentos. E se o texto é teatral, feito para ser encenado num espaço só, o filme não deve esconder isso e sim, fazer disso uma força narrativa. Acho que nem sempre isso se sustenta (me incomoda, por exemplo, as desculpas utilizadas pelos personagens para que o casal visitante permaneça na casa discutindo). Mas fora isso, gosto do filme e, sobretudo, do tom cômico que acentua bem a hipocrisia dos personagens.
E por todo o desmerecimento que você deu ao filme, imaginei que a nota seria zero. hehe
Discordo de muitas partes do seu texto, especialmente no que eu diria que você considerou o aspecto descuidado e desleixado do filme (a sensação de que ele foi gravado numa tarde só). “Deus da Carnificina” é, sim, um filme essencialmente teatral, mas isso não prejudica a trama. Acho o roteiro ácido, as atuações excelentes e, principalmente, a forma como os pais vão saindo de um comportamento contido, cheio de dedos, para um totalmente mimado, onde eles se comportam piores do que as crianças cujos conflitos querem remediar. Um filme que eu gostei bastante.
Discordo absolutamente de suas opiniões acerca dessa obra. Acho que o hibridismo da obra a torna mais interessante. Obras focadas em diálogos são deveras interessantes, não é à toa que grandes feitos cinematográficos são assim: “Uma Rua Chamada Pecado” (1951) e “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” (1965) são bons exemplos. Também acho que o resultado seria melhor nos palcos, mas de modo algum penso que essa se trata de uma obra “decepcionante”, longe disso!