Na coleção… Notas Sobre um Escândalo

Logo em sua abertura, Notas Sobre um Escândalo já mostra toda a sua objetividade ao apresentar aquele que é o mote de seu enredo: a solidão. “Todos confiam seus segredos a alguém. Mas a quem eu confio os meus?”, pergunta a protagonista Barbara Covett (Judi Dench), uma solitária professora de ensino médio e que não consegue estabelecer uma relação íntima nem mesmo com a própria irmã. Logo, o filme nos apresenta a outra personagem que, ao contrário de Barbara, não aparenta ser solitária – mas que, justamente, por ser tão cercada de pessoas, sente-se deslocada e sem autenticidade. É a também professora Sheba Hart (Cate Blanchett), casada com um homem muito mais velho (Bill Nighy) e mãe de dois adolescentes – sendo um deles portador de síndrome de Down. O encontro das duas personagens é, no mínimo, vibrante – ou melhor, responsável por evidenciar os extremos a que cada uma chega para não se entregar à solidão.

A infidelidade de Sheba e a homossexualidade enrustida de Barbara – que, posteriormente, tornam-se respectivas obsessões na vida das duas – aparecem de forma bastante morna no romance original escrito por Zoë Heller. Já no longa de Richard Eyre, tais assuntos ganham contornos mais tensos e explosivos. O suspense de Notas Sobre um Escândalo muito se deve ao ótimo trabalho de adaptação feito por Patrick Marber, sujeito que parece ser expert em textos ácidos e cortantes (ele já tinha alcançado notável resultado com Closer – Perto Demais). E o mais interessante é que a direção também ajuda nesse clima “Supercine” do longa: aqui, diferente do que estamos acostumados a ver no cinema britânico, temos uma história narrada de forma muito mais sensitiva e menos racional, com uma trilha bastante presente de Philip Glass (e, por isso mesmo, injustamente criticada), cenas mais “apelativas” dramaticamente e tensão delineada por acontecimentos, não só por sentimentos.

Só que tais decisões também trazem ônus: Notas Sobre um Escândalo, em certos momentos, parece corrido (a amizade entre as duas personagens acontece rápido demais), um pouco over (a cena de Sheba com os fotógrafos) e com soluções meio comerciais (a cena final de to be continued… me desagrada demais). No entanto, tudo pode passar sem maiores problemas em função do ótimo trabalho da dupla Judi Dench e Cate Blanchett. A primeira está em seu momento mais extraordinário no cinema – inclusive, deveria ter vencido o Oscar no lugar da Helen Mirren, uma vez que a estatueta por Shakespeare Apaixonado nada diz sobre seu talento. Judi transmite uma intensidade surpreendente, tornando a personagem muito crível, o que poderia dar errado nas mãos de uma atriz menos talentosa. Já Blanchett, subestimada, sai-se muito bem de cara limpa ao mostrar as vulnerabilidades de sua personagem. Com elas, Notas Sobre um Escândalo alcança um outro patamar. O filme em si já é ótimo, mas elas fazem toda a diferença.

FILME: 8.5

8 comentários em “Na coleção… Notas Sobre um Escândalo

  1. Rafael, ano LINDO para as atrizes! Todas merecedoras (menos a Kate). A minha favorita era Judi Dench!

    Stella, espetáculo mesmo!

    Júlio, assista, vale a pena!

    Hugo, Cate Blanchett é muito subestimada por esse filme…

    Kamila, gosto muitíssimo do filme também!

    Luís Galvão, não acho o melhor momento da Cate, mas, sem dúvida, ela está ótima!

    Alex, o livro é bem morno. Prefiro muito mais o filme!

  2. Admito que gosto tanto da conclusão quanto da sequência dos fotógrafos (fico arrepiado com o desempenho da Cate Blanchett neste instante). Por outro lado, você aponta um defeito em “Notas Sobre um Escândalo” que, acredito, comprometeu muito o filme: a velocidade com que tudo é mostrado. Embora aprecie a ousadia como encena o relacionamento da personagem de Cate Blanchett com o aluno menor de idade, acredito que faltou sutileza na condução de Richard Eyre. Mas é um bom filme, não há dúvidas quanto a isso.

    Tenho o livro na minha prateleira e pretendo iniciar a leitura ainda este ano. Concluída, certamente irei rever o filme.

  3. Pra mim, não é somente Cate Blanchett e Judi Dench que fazem a diferença. Eu acho “Notas sobre um Escândalo” um trabalho notável de direção e de roteiro também. Tudo se encaixa perfeitamente, tudo está no mesmo tom. Nada destoa. É um grande filme, sem dúvida!

  4. A dupla de atrizes dá um show neste drama sobre desejos, sentimentos e frustrações.

    Até mais

  5. Eis um filme que não assisti, mas já o vi em várias locadoras e sempre tive curiosidade – sobretudo pelo título e as duas atrizes principais. Mas agora que você disse que Judi Dench está melhor que nunca, aguçou ainda mais minha curiosidade! Adoro a atriz e, até então, meu trabalho favorito dela é Íris!

  6. Concordo, Matheus, se tivesse que apontar uma atuação que mostrasse o potencial de Judi Dench, escolheria sua Barbara Covett. Um espetáculo!

  7. O último grande ano de atuações femininas, dificílimo apontar a melhor atriz daquele Oscar, mas eu também acho Judi Dench superior até mesmo a Mirren, uma das maiores atuações da década.

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