Na TV… Political Animals

Popular promotor estadunidense, Peter Florrick (Chris Noth) tem sua vida colocada de pernas pro ar quando os casos que mantinha com prostitutas vêm à tona. A esposa, Alicia (Julianna Margulies), fica devastada, mas permanece ao lado do marido – seja pelos filhos ou pelas aparências de uma difícil vida política. Só que Alicia não fica imóvel: a princípio, resolve retomar a carreira de advogada depois de anos para ajudar a família, conseguindo, assim, redescobrir-se em diversos aspectos. Essa é a trama de The Good Wife, seriado do canal CBS que também ganhou vários simpatizantes no Brasil. E mais ou menos assim também é Political Animals, minissérie sobre Elaine Barrish (Sigourney Weaver), esposa de um presidente que desiste de aceitar as traições do marido presidente e resolve entrar profissionalmente no universo político.
Resumo da ópera: para quem é ligado em TV, Political Animals não traz nada de novo em termos de originalidade. Impossível não lembrar de outros programas – o que, nos episódios iniciais, traz uma forte desconfiança e falta de fé. Isso porque a minissérie estrelada por Sigourney Weaver tem todas as características de uma dramaturgia de TV aberta: a política é extremamente simplificada, os dramas familiares já são conhecidos, a trilha sonora é constante para acentuar o drama e os diálogos explicativos são essenciais quando a história dá sinais de qualquer complexidade. Também pudera, o criador de Political Animals é Greg Berlanti, produtor executivo de todos os episódios da série Brothers & Sisters, envolvente novelão de dramas familiares com subtramas políticas que tinha basicamente essas mesmas características.
Se, em suas três primeiras temporadas, Brothers & Sisters era clichê de alta qualidade (sucumbindo ao enjoativo nos anos posteriores), podemos dizer que Political Animals tem essa mesma dose de previsibilidade envolvente ao longo de seus seis episódios. Começa quase mal, não ajustando muito bem seus estereótipos: da protagonista que transborda justiça à jornalista que faz questão de trazer todos os idealismos utópicos de uma carreira nessa profissão, a minissérie custa a se desenvencilhar do forçado – e, nisso, encaixam-se as próprias atuações de Sigourney Weaver no papel principal e de Ellen Burstyn, como a mãe beberrona e desbocada. Outro problema é que é meio difícil acreditar que uma personagem tão inteligente como a protagonista tenha se casado com um homem tão canastrão e canalha (o que se acentua no péssimo desempenho de Ciarán Hinds) e perdido um importante cargo político para um profissional tão apático.
Political Animals é, assim, um programa para se assistir desarmado. Não dá para aproveitá-lo esperando algo inteligente, um olhar complexo sobre a política ou uma discussão reveladora sobre o mundo jornalístico. Com esse olhar, a minissérie – que concorre em importantes categorias do Emmy 2013 (minissérie, atriz, atriz coadjuvante e elenco) -, tem vários atrativos que se estendem não só ao bom desempenho de Sigourney Weaver mas à própria forma convencional com que o enredo se desenvolve. Entrando no clima, dá para curtir, pois a série logo pega ritmo e acostuma o espectador com suas previsibilidades e fragilidades. E, de vez em quando, é bom assistir algo mais leve e despretensioso… Principalmente quando a TV está tão carente de uma opção como essa.
Inicialmente planejada como uma minissérie, Political Animals, durante seu desenvolvimento, quase se tornou uma série de verdade, com planos para uma possível segunda temporada. Potencial para isso o programa tinha (desde que desse continuidade aos clichês com a mesma naturalidade), mas a audiência não correspondeu mesmo com críticas generosas e importantes nomes no elenco (além de Weaver e Burstyn, um episódio ainda conta com a presença de Vanessa Redgrave). A USA Network resolveu cancelar o programa de vez, e essa indecisão infelizmente se reflete no próprio resultado: o último episódio termina e parece que Political Animals não tem uma unidade. Não que todas as histórias fiquem incompletas, mas sabemos que a jornada da protagonista Elaine Barrish não terminou ali.
[7.5] 1X01 – Pilot [7.5] 1X02 – Second Time Around [8.0] 1X03 – The Woman Problem [8.0] 1X04 – Lost Boys [8.0] 1X05 – 16 Hours [8.0] 1X06 – Resignation Day
Os indicados ao Emmy 2013

Seria 2013 o ano de “Breaking Bad”? Na foto, Anna Gunn e Bryan Cranston, ambos indicados ao prêmio.
Os indicados ao Emmy 2013 foram revelados hoje, e a lista completa pode ser conferida aqui. Abaixo, breves comentários sobre a seleção:
– Glenn Close lembrada ano passado pela quarta temporada pavorosa de Damages e esquecida pela última, que é simplesmente um dos melhores momentos da carreira da atriz;
– Só lindas indicadas em melhor atriz de minissérie/telefilme: Laura Linney, Helen Mirren, Sigourney Weaver, Jessica Lange e Elisabeth Moss. Linney, pela emocionante The Big C: Hereafter, é a melhor, disparada, mas Moss deve ser a vencedora como recompensa por perder eternamente por Mad Men;
– Vera Farmiga conseguiu uma merecida indicação a melhor atriz em drama por Bates Motel. Era o mínimo para uma categoria com sete indicadas (e que não tem Julianna Margulies!). Só que é um trabalho de dupla e Freddie Highmore também merecia uma lembrança (especialmente porque Hugh Bonneville nada faz em Downton Abbey);
– Falando em atores de drama, que criem vergonha na cara e não premiem Damian Lewis pelo segundo ano consecutivo. É a pior escalação para um protagonista de série em anos. Devolvam o reinado de Bryan Cranston;
– Maggie Smith dispensa comentários, mas já recebeu tudo o que merecia por Downton Abbey. É o ano de Anna Gunn, que tem momentos épicos na quinta temporada de Breaking Bad;
– Foi uma imensa alegria ver Laura Dern indicada como atriz em comédia pela segunda (e última) temporada de Enlightened, já que tinha sido esquecida no ano passado. Lena Dunham sai na frente por Girls, mas seria ainda mais empolgante ver a consagração de Dern, o retorno de Tina Fey como premiada ou finalmente um reconhecimento para Amy Poehler;
– Em atriz coadjuvante de comédia, duas ressuscitaram: Jane Lynch (?) e Jane Krakowski (!). Quero acreditar que Julie Bowen não ganhará pela terceira vez por Modern Family e que Krawkoswki finalmente será premiada por 30 Rock;
– Falando em Modern Family, já passou da hora de superarem esse seriado. Assim como Jim Parsons por The Big Bang Theory;
– É bem óbvio que Michael Douglas será o ator premiado na categoria de minissérie/telefilme. É um trabalho de dupla com Matt Damon, mas seu papel tem mais apelo. Só não vale premiar Al Pacino, que se repete em Phil Spector, um filme completamente mofado;
– Sarah Paulson, por American Horror Story: Asylum, é a estranha em coadjuvante de minissérie/telefilme. Compete só com veteranas e consagradas: Alfre Woodard, Ellen Burstyn, Charlotte Rampling e Imelda Staunton;
– Já entre os coadjuvantes desse mesmo segmento, Peter Mullan deve levar a melhor por Top of the Lake. Na realidade, seria mais justo colocá-lo como protagonista, mas a excelência de seu trabalho é inegável – especialmente porque é um dos melhores destaques da sonolenta minissérie;
– E, por fim, uma curiosidade: segundo ano consecutivo em que nenhum programa de TV aberta concorre na categoria de melhor série dramática.
Na TV… a primeira temporada de Bates Motel

A ideia de fazer uma série como Bates Motel era no mínimo perigosa. Prelúdios e continuações raramente dão certo, especialmente quando são extensões de produções consagradas. O que dizer, então, desse programa do canal A&E criado por Anthony Cipriano que resolve contar a adolescência de Norman Bates, o protagonista do clássico Psicose? A boa notícia, no entanto, é que Bates Motel, pelo menos em seu primeiro ano – cujo último episódio foi exibido no último dia 20 – consegue se desvincular das lembranças do filme de Alfred Hitchcock para criar um novo universo. E o resultado foi satisfatório o suficiente para que a série já se firme desde agora entre as boas surpresas da TV em 2013.
Focando na relação entre o jovem Norman (Freddie Highmore) e sua mãe, Norma (Vera Farmiga), Bates Motel tem, na interação entre os dois personagens, o seu grande forte. O suspense está ali para atrair o grande público, mas o programa, na realidade, alcança seus melhores momentos quando os dois estão juntos em cena. A afetuosa mas também conturbada relação de mãe e filho move Bates Motel, que apresenta sutilmente alguns conflitos familiares que exigem o máximo cuidado, seja para não cair no lugar-comum ou para não descambar para o inverossímil, como a perigosa dependência emocional dos dois e a maneira como Norma está longe de ser a mais elogiável das mães.
Ao longo dos dez episódios da primeira temporada, essa proposta, claro, é frequentemente diluída para que o suspense entre em cena – afinal, Bates Motel não poderia ser um estudo exclusivamente psicológico dos protagonistas, visto que precisa segurar a audiência para se manter vivo em uma canal relativamente desconhecido como o A&E. Mas, apesar de alguns episódios bem mornos e repetitivos, a tensão da história consegue ser trabalhada satisfatoriamente pelos roteiristas, que sempre procuram colocar as consequências do suspense como mais uma problemática para o relacionamento dos protagonistas. Por isso, dilemas que parecem diferenciados mas que logo são resolvidos rapidamente não chegam a afetar o conjunto da série.
Contribuindo diretamente para esse ótimo retrato familiar, Freddie Highmore e Vera Famiga não estão menos que inspirados nos papeis de Norman e Norma, respectivamente. Muito mais do que construir uma excelente química, a dupla também alcança notáveis resultados individualmente. Highmore, que emocionou plateias mundo afora com Em Busca da Terra do Nunca, hoje já tem 21 anos e está impecável no papel de menino desajustado que parece preso entre as ingenuidades de um jovem e a dificuldades da vida adulta. Já Farmiga, cotada para figurar nas próximas premiações, tem uma bela chance para colocar seu talento à mostra. E sempre aproveita.
Com uma segunda temporada confirmada para 2014, Bates Motel alcançou relativo sucesso de público e aqui no Brasil já tem exibição garantida pelo canal Universal, a partir de 4 de julho. O resultado final tem suas fragilidades (alguns episódios nada acrescentam, os conflitos volta e meia se repetem e outras subtramas estão ali apenas para cumprir tabela), mas, dadas as expectativas – sejam elas positivas ou negativas -, a série consegue terminar a primeira temporada com saldo positivo. Se não for pela história, que pelo menos a espiada seja seja por Freddie Highmore e Vera Farmiga.
PRIMEIRA TEMPORADA: [7.5] 1.01 – First You Dream, then You Die [8.0] 1.02 – Nice Town You Picked, Norma… [8.0] 1.03 – What’s Wrong With Norman [8.0] 1.04 – Trust Me [7.5] 1.05 – Ocean View [8.0] 1.06 – The Truth [8.0] 1.07 – The Man in Number 9 [7.5] 1.08 – A Boy and His Dog [7.5] 1.09 – Underwater [8.0] 1.10 – Midnight
Na TV… a despedida de The Big C

“Quarto número oito? O senhor de fraldas? Um dia, esse será você. Isso se você tiver a sorte de viver tudo isso. Todos nós? Os que estão morrendo? Você será um de nós. E nós costumávamos ser você. É o ciclo da vida, Simba! Eu vou morrer e você estará sujando suas calças. E também desejando ter alguém que se importe o suficiente para limpar a sua sujeira”. Esse trecho – em uma tradução literal – transmite toda a honestidade de The Big C: Hereafter, última parte da jornada de Cathy Jamison (Laura Linney), uma professora de história que, lá na primeira temporada exibida em 2010, descobriu ter câncer – o que mudou radicalmente sua forma de ver o mundo. E, após alguns deslizes e bobeiras (a terceira temporada nada acrescentou), o programa criado por Darlene Hunt chega ao fim, resgatando o que sempre existiu de melhor na série e adicionando uma bem-vinda sinceridade que tira The Big C do lugar comum das tramas envolvendo personagens que lutam contra o câncer.
Se fizermos um retrospecto dos personagens que tiveram a doença na TV, é fácil encontrar soluções fáceis para todas as situações. O esquema é sempre o mesmo: eles descobrem a enfermidade e sofrem episódios a fio, mas logo os tumores diminuem e tudo volta à normalidade. Mas o câncer em The Big C não é uma subtrama. É a engrenagem. Por isso mesmo, era inevitável, nessa temporada final, que os roteiristas batessem de frente com esse difícil assunto. Seria desonesto com o espectador, mesmo que a série seja uma dramédia. Contada em um formato inteiramente novo (quatro episódios de uma hora), o quarto ano colocou as risadas em segundo plano para trazer um olhar muito pé no chão da luta de Cathy Jamison contra o câncer. O resultado? Poucas vezes – no cinema ou na TV – acompanhamos um retrato tão digno da condição em questão. Os roteiristas de The Big C: Hereafter abandonam concessões e merecem parabéns pela atitude, já que o texto nos lembra de algo raro nos dias de hoje em termos de TV: simplesmente mostrar a vida como ela é já se torna meio caminho andado para o sucesso.
Falar sobre o que acontece nessa temporada final é entregar suas surpresas, mas vale dizer que é bom preparar os lenços: todos os episódios possuem pelo menos um momento de partir o coração. Há quem possa estranhar o clima mais denso e as sempre presentes discussões sobre a morte e suas ramificações, mas rejeitar essa veracidade é perder tudo o que a temporada tem de melhor. Todos saem ganhando nessa reprodução da vida real. Só que, claro, quem reina absoluta é Laura Linney. Vencedora do Globo de Ouro pelo primeiro ano, ela tem, aqui, aquele que é possivelmente o melhor desempenho de sua carreira. Com os olhos marejados durante praticamente todo o tempo, Linney abandona vaidades e se entrega às fragilidades físicas e emocionais de sua Cathy Jamison. É impossível ficar indiferente à situação da protagonista, que ganha contornos extremamente humanos e adoráveis na mão da atriz. Linney torna a personagem um membro de nossa família e vê-la sofrer é extremamente doloroso. Nós torcemos por ela e queremos sua paz. Independente do lugar onde ela esteja. Um verdadeiro show de atuação.
É duro ver The Big C partir. Hoje, o programa já não conta com os mesmos fãs que tinha em seu início – muitos se desconectaram da série na segunda e terceira temporada – mas fica a dica: vale a pena retornar ao programa apenas para acompanhar essa bela reta final. Não apenas foi um fim simbólico e satisfatório para Cathy, como também fechou com a devida sutileza todos os outros ciclos: até mesmo personagens insuportáveis como Adam (Gabriel Basso), por exemplo, tiveram redenção. Pontas não ficam soltas em The Big C: Hereafter, cuja honestidade perante o câncer e mais especificamente a vida firma o desfecho da jornada da protagonista como um dos pontos altos da TV em 2013. Foi um ciclo que terminou no momento certo e a mensagem que fica é: nesse jogo chamado vida, podemos ser ricos ou pobres, bem sucedidos ou fracassados, famosos ou desconhecidos… Mas, no apagar das luzes, somos todos iguais. Não há circunstância que mude isso. The Big C vai fazer falta.
QUARTA TEMPORADA: [8.5] 4.01 – Quality of Life [8.0] 4.02 – You Can’t Take it With You [8.5] 4.03 – Quality of Death [8.5] 4.04 – The Finale