Adeus, Mike Nichols!

“Foi uma alegria e uma inspiração conhecer Mike Nichols, um diretor que chorava sorrindo, um amigo com quem não consigo imaginar viver sem neste mundo e um homem simplesmente insubstituível”. – Meryl Streep
Normalmente não costumo escrever sobre a partida de figuras do cinema. Sinto obviamente a despedida de todos, mas alguns me tocam mais e despertam em mim a vontade de exteriorizar algo. Foi o caso de Philip Seymour Hoffman, ano passado, que me abalou profundamente. E agora me comovo com o adeus de Mike Nichols, que, parando para pensar, era um dos meus diretores favoritos. Com raízes no teatro, conquistou o EGOT, realizou obras marcantes no passado e também recentemente e provou que a humanidade é o que existe de mais incrível em um personagem de qualquer arte.
Nichols indicou 17 interpretações ao Oscar. Ele próprio ganhou uma vez como melhor diretor pelo clássico A Primeira Noite de Um Homem. Durante muitos anos, marcou gerações – e também a minha formação cinéfila. Orquestrou um elenco excepcional em Quem Tem Medo de Virginia Woolf? logo em seu primeiro longa. Mostrou as alegrias e as dores dos relacionamentos amorosos no intenso Closer. Fez história na TV com a adaptação épica de Angels in America. Construiu um dos relatos mais dolorosos sobre o câncer com Uma Lição de Vida. E tantas outras coisas.
Antes de falecer hoje, aos 83 anos anos, por causas ainda não divulgadas, Mike Nichols se preparava para fazer mais um filme com a sua grande amiga, parente distante e mais fiel colaboradora: Meryl Streep. Eles se reuniram quatro vezes: Silkwood, Lembranças de Hollywood, A Difícil Arte de Amar e Angels in America. O próximo encontro dos dois seria com Master Class, para a HBO, onde Meryl interpretaria Maria Callas. Tinha tudo para ser um clássico contemporâneo dos filmes produzidos para TV. Volta, Mike Nichols! Você vai fazer muita falta.
Uma nova fase
Cresci lendo críticas de cinema que estabeleciam uma nota para cada filme. Dos nostálgicos tempos em que me divertia com a extinta revista SET até épocas mais recentes em que passei a descobrir sites como o Cinema em Cena e o Omelete, sempre estive cercado pelas cotações – sejam elas por estrelas ou números. Minha formação cinéfila sempre foi assim, repleta de avaliações quantitativas para filmes. Desde quando comecei a rabiscar meus primeiros comentários, lá estavam as notas. Sempre. E eu sempre gostei de estabelecê-las. Acho um termômetro curioso e interessante.
Mais recentemente, no entanto, descobri que tenho cada vez mais problemas com elas. Dois casos particulares me levaram a decidir que chegou a hora de eu eliminar as cotações do Cinema e Argumento: Philomena e Ela, dois filmes cujas notas me pareciam incoerentes com o que eu estava escrevendo. Em ambos os casos, conforme elaborava o texto, percebi que a nota deveria ser diferente. Mas ambos tinham suas cotações bem claras para mim, mesmo com a minha escrita acusando o contrário. Confuso, não?
Já faz um certo tempo que tenho sido assombrado por essas minhas incoerências entre os elogios a um filme e a nota atribuída a ele. Tenho a sensação de que, às vezes, teço só elogios para um longa, mas a nota fica no mero 8.0, por exemplo. Desisti de parar de sofrer com isso. É difícil terminar com velhos hábitos e deixar de dar notas certamente será um desafio para mim – bem como também será um risco, pois sei que vários leitores gostam de se guiar primeiro pelas notas. Mas chegou a hora de mudar.
Não julgo quem quantifica a qualidade de um filme e continuarei por aí utilizando esse termômetro (alô, Filmow!), mas, aqui no blog, essa fase terminou. Acredito que o que eu escrevo – sem notas – é muito mais capaz de realmente mostrar como um filme me envolveu do que as recorrentes faltas de diálogo entre o texto e a avaliação. Espero contar com vocês nessa nova jornada.
Adeus, gênios!

Na minha (curta) vida de cinéfilo, nunca tive uma tarde como a deste domingo. De profunda tristeza e… admiração. Perder dois gênios em um mesmo dia é triste. E de maneiras tão súbitas e surreais… Pior ainda. Principalmente quando eles construíram carreiras com tanta integridade e imaginação. Philip Seymour Hoffman, o melhor ator em atividade, e Eduardo Coutinho, o maior cineasta brasileiro vivo até então, ainda tinham muito o que oferecer.
Isso porque faziam de tudo um pouco – e eram excepcionais em cada uma de suas escolhas. Hoffman, recentemente responsável por me deixar boquiaberto em O Mestre, e Coutinho, que fisgou o meu coração com total sinceridade em seu último trabalho, As Canções, farão falta. Não porque tinham currículos fantásticos. Mas também porque ainda teriam muito para adicionar a eles.
O cinema está mais triste e menos especial. Pela internet, encontrei vários amigos e conhecidos citando um trecho do filme Sinédoque, Nova York, estrelado por Hoffman, e que, casualmente, tem muito a ver com o dia de hoje. Deixo tal trecho como uma reflexão/homenagem para essa triste tarde…
“Tudo é mais complicado do que você pensa. Você vê apenas um décimo do que é verdade. Há um milhão de pequenos textos anexados a cada escolha que você faz. Você pode destruir sua vida cada vez que fizer uma escolha. Mas talvez você não saberá isso por 20 anos e você, talvez, nunca, jamais localize a fonte. E você tem apenas uma chance para jogar isto fora. Basta tentar e descobrir seu próprio divórcio. E eles dizem que não existe destino, mas existe. Destino é o que você cria. E, mesmo que o mundo continue por eras e eras, você está aqui apenas por uma fração de uma fração de segundo. A maior parte do seu tempo é gasto sendo morto ou ainda não nascido. Mas, enquanto está vivo, você espera, em vão e desperdiçando anos, por um telefonema, uma carta ou um olhar de alguém ou alguma coisa para fazer tudo certo. E isso nunca vem. Ou parece vir, mas não vem realmente. Então você passa seu tempo em vago arrependimento… Ou com a vaga esperança de que alguma coisa boa virá adiante. Algo para fazer você se sentir conectado. Algo para fazer você se sentir inteiro. Algo para fazer você se sentir amado. E a verdade é que eu sinto tanta raiva! E a verdade é que eu sinto tanta porra de tristeza! E a verdade é: eu tenho me sentido tão magoado por tanto tempo… E por muito tempo eu venho fingindo que estou bem, apenas para seguir adiante, apenas para… Eu não sei por quê. Talvez porque ninguém queira ouvir sobre meu sofrimento, já que eles têm os seus próprios. Foda-se todo mundo.”
20 razões para amar o BAFTA

Antes de O Discurso do Rei, Colin Fith já havia sido consagrado no BAFTA por seu desempenho em Direito de Amar
Toda premiação tem erros e injustiças. Sem exceções, e com o BAFTA, que revelará seus vencedores no próximo dia 16, não é diferente. Revirando o baú do prêmio, é possível encontrar algumas preciosidades que só ele proporcionou. Óbvio que muitas por bairrismo, mas coincidentemente merecedoras. Foi aí que me dei conta que o BAFTA é a minha premiação favorita. Gosto, inclusive, da cerimônia, sempre muito enxuta e sóbria, sem enrolações. Abaixo, elenquei 20 indicações/vitórias que justificam essa minha admiração pelo prêmio. E depois me digam se tem como não amar o BAFTA!
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– Philip Glass foi consagrado por sua trilha sonora para As Horas (o injusto vencedor do Oscar, Frida, não foi nem indicado);
– Sean Penn teve dupla indicação em 2004 com Sobre Meninos e Lobos e 21 Gramas. Nada mais lógico, impossível lembrar dele naquele ano sem mencionar os dois trabalhos;
– Uma Thurman foi indicada a melhor atriz por Kill Bill – Volume 1;
– O BAFTA não precisou esperar até O Discurso do Rei: Colin Firth venceu seu primeiro prêmio de melhor ator já pelo belíssimo Direito de Amar;
– Daniel Rezende ganhou melhor montagem por Cidade de Deus;
– Ralph Fiennes concorreu como melhor ator por O Jardineiro Fiel e deixou ainda mais impossível escolher o melhor ator no ano em que Philip Seymour Hoffman venceu por Capote;
– O mestre Roger Deakins foi indicado 11 vezes ao Oscar de fotografia e nunca venceu. No BAFTA, já são três prêmios: O Homem Que Não Estava Lá, Onde os Fracos Não Têm Vez e Bravura Indômita;
– O compositor Thomas Newman, outro injustiçado com 12 indicações ao Oscar sem uma vitória sequer, foi consagrado duas vezes pelo BAFTA com Beleza Americana e 007 – Operação Skyfall;
– Mais um injustiçado do Oscar que já tem BAFTA é o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, vencedor do prêmio por Filhos da Esperança;
– Moulin Rouge? Não, naquele ano, Nicole Kidman concorreu como melhor atriz por Os Outros;
– Por mais que eu ame As Confissões de Schmidt, dispensaria Kathy Bates como indicada de atriz coadjuvante para colocar Toni Collette, por Um Grande Garoto. Exatamente como o BAFTA fez;
– Jim Carrey concorreu por Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Sua companheira de filme, Kate Winslet, concorria duplamente: pelo mesmo filme e por Em Busca da Terra do Nunca;
– Mas ela não teve chances. Quem merecidamente venceu foi Imelda Staunton, por O Segredo de Vera Drake, dona do desempenho mais intenso daquele ano;
– Harry Potter ganhou vários prêmios técnicos e até homenagem especial por sua contribuição ao cinema;
– Paul Dano concorreu como ator coadjuvante por Sangue Negro;
– Anne-Marie Duff e Kristin Scott Thomas, ótimas em O Garoto de Liverpool, foram indicadas a coadjuvantes;
– Central do Brasil superou A Vida é Bela e ganhou o BAFTA de melhor filme estrangeiro;
– O Show de Truman levou os prêmios de melhor direção e roteiro original;
– Minhas Mães e Meu Pai não é só de Annette Bening. No BAFTA, Julianne Moore também concorreu;
– Sandra Bullock sequer foi indicada por Um Sonho Possível, com Carey Mulligan ganhando por Educação.
Os piores filmes de 2013
A ordem para 2013 foi a mesma de 2012: tentar evitar qualquer filme que, para o meu gosto pessoal, parecesse uma bomba. Sofri menos no cinema durante o ano que passou, mas isso não quer dizer que me isentei de péssimas experiências. A lista que segue abaixo (dez filmes, em ordem alfabética) não tem, por exemplo, Até Que a Sorte nos Separe 2 ou Crô – O Filme (só um verdadeiro milagre para eu conferir e aprovar esses títulos, por exemplo) e sim produções que me decepcionaram profundamente e que poderiam ter sido muito, muito melhores – seja pela equipe envolvida ou pela proposta. No final do post, queremos a opinião de vocês na nossa enquete! Vamos, então, ao lado ruim de 2013…

Não é em função de A Pele Que Habito ter sido sensacional que OS AMANTES PASSAGEIROS decepciona. Independente de comparações, essa é uma comédia muito sem graça. Não sei o que Pedro Almodóvar quis com um longa excessivamente afetado e com pouco a dizer. É um desperdício de elenco e, principalmente, de uma ótima ideia. Não bastasse o constante histrionismo, Os Amantes Passageiros ainda descamba, em certo ponto, para um apelo sexual super desnecessário. Difícil acreditar que esse é um filme de um cineasta tão cuidadoso. Certamente, um dos piores longas do espanhol.

Tenho muita vontade de abraçar Susan Sarandon, Robert De Niro e Diane Keaton. Não só porque eles são ótimos atores mas porque, nos últimos anos, quase não tiveram papeis a sua altura. Só que isso não é desculpa para eles aceitarem vergonhas como O CASAMENTO DO ANO. De início, parece uma comédia bobinha e descompromissada, mas logo o filme de Justin Zackham aposta em vômitos, sexo, nudez e agressões físicas para fazer graça. Humor pobre, ausência de coerência narrativa e um elenco simplesmente perdido no meio da bagunça. Que lástima!

No cinema, Joseph Gordon-Levitt deixou de ser o jovem queridinho e simpático de filmes como (500) Dias Com Ela para virar um pegador com tanquinho que só se envolve com mulheres do tipo Scarlett Johansson. Não colou. Muito menos seu esse seu debut como diretor e roteirista de longas chamado COMO NÃO PERDER ESSA MULHER. O pior é que o filme não chega nem a ofender (e olha que seria muito fácil, já que é sobre um jovem viciado em pornografia), mas simplesmente o resultado não tem graça. A história vazia e sem qualquer inventividade tenta ser contemporânea e dialogar com certo público, mas o longa é frequentemente batido e muito limitado em seus conceitos (o protagonista é categórico: todos os homens se masturbam diariamente vendo pornografia).

Dirigido por José Wilker, GIOVANNI IMPROTTA foi o pontapé inicial para essa série de filmes protagonizados por personagens de novela da Globo que tem tudo para tomar conta dos cinemas nos próximos anos. Não vi Crô – O Filme – e nem pretendo -, já que Giovanni Improtta foi o suficiente para acabar com qualquer (mínima) esperança que eu tinha. Ora, o personagem vivido por Wilker em Senhora do Destino era divertido e um dos mais icônicos da carreira recente do ator, mas a versão cinematográfica não tem um fiapo de história. Uma experiência monótona, vazia e desnecessária.

Um dos blockbusters mais promissores do ano, O HOMEM DE AÇO também foi um dos mais decepcionantes. O trailer era impecável, vários fatores contribuíram para dar certo (Amy Adams! Hans Zimmer!) e tudo acusava que o herói finalmente teria um filme à altura. Nada disso. O diretor Zack Snyder trouxe o que existe de pior nos blockbusters contemporâneos: ou seja, efeitos visuais em demasia, interpretações caricatas (alô, Michael Shannon!) e muito, muito barulho… Desde Transformers não saía de uma sessão com tanta dor de cabeça.

Meu maior susto em relação a esse MAMA foi ver tantas pessoas elogiando e dizendo que saíram amedrontadas do cinema. Para ser bem sincero, eu ri bastante durante o filme. Não sei o que viram nesse terror super previsível que ainda comete o terrível erro de dar um rosto ao mistério: no caso, o tal bicho Mama do título, que parece um personagem saído de um jogo de videogame. Além de não saber que é sempre melhor insinuar o medo do que de fato explicitá-lo, o longa tem personagens caricatos e uma Jessica Chastain que não sabe o que fazer de tão deslocada que está.

Teria sido bem mais proveitoso se o diretor Lee Daniels tivesse feito um documentário sobre a trajetória dos negros no século XX do que esse O MORDOMO DA CASA BRANCA. Isso porque o novo longa do diretor começa contando a história de Cecil (Forest Whitaker) para depois se focar quase que exclusivamente na luta dos negros por um lugar digno na sociedade estadunidense. Mas a dramaturgia transborda obviedades e o desperdício de elenco chega a ser absurdo. Nem mesmo Whitaker e Oprah Winfey (que sabe-se lá porque já foi dada como favorita ao Oscar) apresentam algo de especial nesse longa bastante sonolento.

Se em O Mordomo da Casa Branca Lee Daniels pecou pelo excesso de didatismo e pela falta de inventividades, em OBSESSÃO ele se perdeu justamente ao soltar na tela todas as suas loucuras. Mais preocupado em contemplar o corpo descamisado de Zac Efron e em explorar seus fetiches, o diretor conta milhares de histórias e não consegue se aprofundar em nenhuma. Impossível explicar sobre o que é Obsessão de forma objetiva. De válido mesmo só o deslumbre de Nicole Kidman, que é o ponto alto de um longa disléxico, perdido e prejudicado pelos cacoetes de seu realizador.

Não quero acreditar que o humor de Kate Winslet, Naomi Watts e Hugh Jackman seja tão pavoroso assim para eles terem aprovado o roteiro de PARA MAIORES. Alguém chantageou cada um deles, só pode. Coletânea de curtas de extremo mau gosto, o filme traz um elenco repleto de estrelas em situações sexuais constrangedoras. Só o primeiro curta em que o personagem de Jackman tem testículos no pescoço já dá vontade de se contorcer na poltrona de tanta vergonha. Aguentar a sucessão de bobagens e piadas descabidas é para os fortes.

Em um ano tão forte para o cinema nacional, é uma pena que a biografia de um dos maiores ícones da musica de nosso país tenha sido tão superficial. Pois é, SOMOS TÃO JOVENS desaponta por ser incrivelmente raso e amador. A ideia de contar a vida de Renato Russo antes da fama foge do convencional, mas o filme é cheio de maneirismos e clichês, com personagens que beiram o irritante. Todos os conflitos de Somos Tão Jovens desaparecem rapidamente (o descaso com a homossexualidade de Renato é gritante) e as referências musicais e culturais surgem gratuitamente como mera panfletagem. O músico merecia mais.