Melhores de 2021: categorias técnicas

Não faz muito tempo que me culpava por fazer cada vez mais tarde a minha lista de melhores do ano. Hoje, já começo a ter mais carinho por essa ideia, pois não há nada melhor do que tomar certa perspectiva, ter tempo para digerir as coisas e não agir no calor do momento quando se trata de escolhas, principalmente aquelas envolvendo qualquer forma de arte. Dito isso, com o devido hiato para fazer escolhas que agora me parecem devidamente calibradas, aqui vão os primeiros vencedores da lista de melhores de 2021!

maywestart

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Leos Carax, Ron Mael e Russell Mael
“So May We Start?” (Annette)

Cenas de abertura são importantes em musicais porque assinalam para o público o estilo que será seguido não apenas pelo filme, mas também pela própria parte musical. So May We Start? é muito feliz nessa premissa, revelando o quanto Annette se equilibrará entre a ambição e um tom mais descompromissado, além da mistura de ecleticidades proposta pelo diretor Leos Carax, bem ao estilo do que Ron e Russell Mael, os irmãos Sparks, exploram ao longo de sua carreira e aplicam na idealização deste musical. Para além do tom estabelecido, So May We Start? é um excelente ponto de partida para Annette porque é uma das melhores músicas do filme (meu coração se divide entre ela e We Love Each Other So Much) e porque funciona como uma espécie de abre-alas, começando até um tanto óbvia em um estúdio de música para logo ganhar as ruas com Adam Driver, Marion Cotillard e elenco. É de uma energia envolvente e de uma pegada bastante própria, característica ostentada por Annette como um todo.

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MELHOR TRILHA SONORA
Jonny Greenwood
(Ataque dos Cães)

Pouquíssimas carreiras de compositores para cinema têm tanta personalidade e consistência como a de Jonny Greenwood. O guitarrista de 50 anos da banda Radiohead se tornou parceiro inseparável do diretor Paul Thomas Anderson (as trilhas de Sangue Negro e Trama Fantasma são verdadeiras obras-primas) e também vem colaborando com outros cineastas de ponta. É o caso de seu trabalho para Ataque dos Cães, de Jane Campion, que lhe rendeu sua segunda indicação ao Oscar. Ao mesmo tempo identificável, mas nunca repetitiva, a sonoridade das trilhas de Greenwood são sempre singulares ao evocarem os mais diferentes sentimentos. No caso de Ataque dos Cães, ela tem papel central na criação de toda a tensão que paira sob os personagens. Como esperado, Greenwood não cai na simples homenagem às referências de western e cria um universo próprio para um filme que rompe várias formalidades.

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MELHOR FOTOGRAFIA
Joshua James Richards
(Nomadland)

Surpreende a sensibilidade com que Josua James Richards captura a mistura de individualidade e universalidade de Nomadland. Sua carreira é muito recente (o primeiro curta-metragem veio em 2011), prova de que talento de verdade se manifesta em qualquer momento. À parte ter em mente concepções importantes que nem todos diretores de fotografia têm (a de que ela nunca deve chamar atenção para si própria propositalmente) e experimentações que ele diz ter feito de forma deliberada para expandir seu repertório cinematográfico, o que Richard prova no filme de Chloé Zhao é que, acima de tudo, seu trabalho se move carregado de alma. Um exemplo disso é como as paisagens exploradas pelo filme não são apenas paisagens: elas estão ali para expressar as subjetividades de uma protagonista tão singular quanto Faye (Frances McDormand). O olhar é muito sensível, e o trabalho de Joshua é, sem dúvida, um dos pilares emocionais de Nomadland.

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MELHOR MONTAGEM
Yorgos Lamprinos
(Meu Pai)

Somente a habilidade em construir a notável atmosfera labiríntica de Meu Pai já deveria render todo tipo de elogios ao montador greco-francês Yorgos Lamprinos, mas seu trabalho também é louvável em outra questão muita importante: a de conseguir calibrar a imensa oscilação de emoções vivida pelo protagonista Anthony (Anthony Hopkins). Construir o quebra-cabeça com peças as faltantes da memória do personagem deve ter sido um desafio repleto de dificuldades. Afinal, como fazer o espectador conhecer um homem que já não se (re)conhece mais? Pois Lamprinos consegue, emergindo a plateia em uma estrutura elegante, surpreendente e que reflete seu assumido entendimento de que Meu Pai é, de certa forma, uma história de horror. Há ritmo e envolvimento em cada decisão tomada para absorver a perspectiva e as impressões de um personagem cuja empatia junto ao público é definida de maneira decisiva pela montagem.

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MELHOR SOM
Andy Nelson, Brian Chumney, Gary Rydstrom, Shawn Murphy e Tod A. Maitland

(Amor, Sublime Amor)

Mesmo que ostente mais de 100 títulos em um currículo marcado por filmes de todo tipo de gênero, Tod A. Maitland é categórico ao afirmar que nenhuma experiência de sua carreira em mixagem de som foi tão difícil quanto a de Amor, Sublime Amor. Junto a Andy Nelson, Brian Chumney, Gary Rydstrom e Shawn Murphy, ele estabeleceu uma dinâmica definitiva a ser seguida: tornar o set mais realista possível em termos de energia. Nesse sentido, o time de som de Amor, Sublime Amor microfonou todos os bailarinos e cantores do filme, com o objetivo de capturar o máximo possível das sonoridades reais de movimentos, sapateados, acrobacias e tudo o que tornou o musical de Spielberg uma das melhores surpresas de 2021. O resultado é um espetáculo para os ouvidos: do primeiro ao último minuto, Amor, Sublime Amor é impactante nos sentidos e um trabalho à altura da trilha de Leonard Bernstein. 

CRUELLA

MELHOR FIGURINO
Jenny Beavan
(Cruella)

Tente encontrar uma figurinista como Jenny Beavan. Possivelmente, a busca será das mais longas. Os seus três Oscar falam por si só: Uma Janela Para o AmorMad Max: Estrada da Fúria e, agora em 2022, Cruella. Dos filmes de época aos mundos pós-apocalípticos, Beavan é uma figurinista cheia de criatividade, e é isso o que acaba tornando Cruella minimamente divertido. Talvez seja meio óbvio afirmar que, em um filme sobre moda, os figurinos fossem destaque, mas Beavan sai do lugar comum para criar peças tão vistosas quanto cheia de ideias. É interessante como ela mostra a sua própria versatilidade ao contrastar as peças usadas por Emma Stone e Emma Thomson, que interpretam personagens de intenções e vocações bastante opostas. São quase 50 as trocas de figurino realizadas apenas por Stone durante o filme, credenciando de vez, também em termos quantitativos, a importância das vestimentas de Cruella para a história contada.

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MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Cathy Featherstone e Peter Francis
(Meu Pai)

Segmento que, na totalidade das premiações, acaba resumido a reconstituições de épocas e imponências de blockbusters, o design de produção costuma ser muito mais surpreendente e narrativo em filmes como Meu ´Pai. No filme dirigido por Florian Zeller, a dupla Cathy Featherston e Peter Francis é minimalista de um jeito que pode até passar de forma despercebida pelo público, mas que, é peça fundamental na construção das inúmeras emoções desta poderosa jornada interior estrelada por Anthony Hopkins. Mergulhando na mente de um homem que tenta se agarrar a certezas e memórias que estão se desintegrando, Cathy e Peter acompanham o labirinto proposto pelo diretor ao criar ambientes cujas composições variam de forma gradativa. Cores, móveis e quadros mudam sutilmente de tempos em tempos, contribuindo para a grande desorientação do protagonista e da própria plateia — algo que, no caso de Meu Pai é, sem dúvida, o maior elogio possível.

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MELHORES EFEITOS VISUAIS
Brian Connor, Gerd Nefzer, Paul Lambert e Tristan Myles
(Duna)

Brinco que blockbusters hollywoodianos não fazem mais do que obrigação quando entregam bons efeitos visuais. Com orçamentos milionários no caixa, é preciso certo esforço para chegar a algo ruim. É por isso que, diante da imensa profusão de filmes de super heróis no mercado cinematográfico, os filmes que se interessam são aqueles que se utilizam dos efeitos para criar uma atmosfera de imersão e não apenas um espetáculo vistoso. Duna segue a tradição do diretor canadense Denis Villeneuve de tentar ser o mais realista possível em luzes, contrastes e cenários criados ou adaptados virtualmente especialmente para o filme. Muito do que o quarteto Brian Connor, Gerd Nefzer, Paul Lambert e Tristan Myles fez para este projeto foi abarcar as sensações e as texturas de uma vida no deserto, interferindo o mínimo possível em elementos como luminosidade e animação. O não à artificialidade é o que faz de Duna uma experiência grandiosa do ponto de vista de efeitos.

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MELHOR MAQUIAGEM & PENTEADOS
Julia Vernon, Nadia Stacey e Naomi Donne
(Cruella)

Partindo de inúmeras referências que pudessem reproduzir o estilo de uma jovem na Londres dos anos 1970, Julia Vernon, Nadia Stacey e Naomi Donne conceberam Cruella como um filme divido em dois momentos diferentes. O primeiro envolvia uma garota que ainda não se (re)conhecia e que, ao entrar na indústria da moda, passa a buscar sua própria identidade, permitindo permitiu que maquiagem e penteados se alternassem com frequência, representando a busca da personagem por seu estilo. Já o segundo é quando Cruella (Emma Stone) finalmente se torna Cruella, fase em que a caracterização expressa não só a identidade pop de uma personagem marcante como também a maneira da protagonista mascarar quem sua verdadeira identidade e se apresentar ao mundo como uma pessoa inteiramente nova. São fronteiras bem desenhadas, mas, ao mesmo tempo, bastante interligadas pelo trabalho de Vernon, Stacey e Donne.

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