
Jane Campion nas filmagens de Ataque dos Cães. Longa lidera as indicações ao Oscar 2022 e faz de Campion a primeira cineasta a ser indicada duas vezes na categoria de melhor direção.
Enquanto os prêmios precursores, com exceção dos indicados ao BAFTA, tentam a todo custo prever o que acontecerá no Oscar, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood prova que tal previsão está cada vez mais complexa de ser feita. Basta olhar a lista deste ano para entender: há, nela, um conjunto de surpresas e indicações que só o Oscar terá registrado na temporada. Tamanha diferenciação é um claro reflexo do movimento que a Academia vem fazendo nos últimos anos para diversificar seus votantes, algo que não acontece com escala e estratégia semelhantes em premiações como o Globo de Ouro e o Screen Actors Guild Awards.
Com as mudanças gradativas surtindo efeito, o Oscar tem dado holofote maior para produções língua não-inglesa (Drive My Car, A Pior Pessoa do Mundo, Mães Paralelas), rejeitado vexames (Jared Leto em Casa Gucci) e provado que, independentemente de nome, histórico ou campanha, nunca há garantia completa de indicação (Aaron Sorkin fora de roteiro por Apresentando os Ricardos, Denis Villeneuve esnobado em direção por Duna). Aliás, quando uma celebridade do calibre de Lady Gaga faz campanha desde o lançamento de um filme, é indicada a todos os prêmios e sequer chega ao Oscar, realmente podemos dizer que já temos sinais de novos tempos.
Os vencedores do Oscar 2022 serão conhecidos no dia 27 de março. Confira abaixo comentários pontuais sobre a lista e, logo em seguida, a relação completa de indicados.
– Com Amor, Sublime Amor, Steven Spielberg se torna o primeiro cineasta a ter indicações ao Oscar de melhor direção por seis décadas consecutivas. Recorde mais do que apropriado para um realizador que, aos 75 anos de idade, consegue se reinventar com um grande musical;
– Outro feito histórico é a indicação tripla para Fuga. Reconhecimento merecido para essa ótima produção lembrada em melhor filme internacional, documentário e animação;
– King Richard: Criando Campeãs é o típico drama motivacional que a ala mais tradicional do Oscar costuma abraçar, mas o reconhecimento foi exacerbado até para esse padrão, já que são injustificadas as indicações nas categorias de melhor roteiro original e melhor montagem;
– Beyoncé e Billie Eilish concorrem em melhor canção original. O Oscar poderia ter abraçado ainda mais o pop com uma indicação para divertida canção de Ariana Grande em Não Olhe Para Cima;
– O Oscar está cada vez mais internacional, e não há notícia melhor do que essa. Afinal, quando poderíamos dizer, tempos atrás, que um filme japonês com três horas de duração e repleto de questões existenciais seria reconhecido em categorias como a de melhor filme, direção e roteiro adaptado? Em grande estilo, Drive My Car dá sequência ao caso de amor da Academia com o cinema oriental;
– É chocante a ausência de Aaron Sorkin por Apresentando os Ricardos na categoria de melhor roteiro original. Não pelo trabalho em si, que é um dos mais fracos de Sorkin, mas pela grife de seu nome, solenemente ignorada dessa vez;
– Quem também ficou de fora foi Jared Leto, nome misteriosamente indicado por praticamente todos os prêmios precursores por Casa Gucci. Pois o Oscar não caiu neste papo furado e ficou ao lado do Globo de Ouro;
– Nenhuma ausência, no entanto, foi mais inesperada do que a de Lady Gaga em melhor atriz. Assumidamente em campanha desde a estreia de Casa Gucci, Gaga foi a única intérprete a ser indicada a todas as premiações da temporada. Menos ao Oscar. A estatística tem precedentes: Tilda Swinton (Precisamos Falar Sobre o Kevin), Marion Cotillard (Ferrugem e Osso), Daniel Brühl (Rush) e mais alguns outros…
– Entre os coadjuvantes, surpresa total para a indicação de J.K. Simmons, que não se traduz em merecimento, uma vez que o ator tem pouco o que fazer em Apresentando os Ricardos. Outra mudança inesperada foi a exclusão de Caitriona Balfe (Belfast) para a entrada de Judi Dench pelo mesmo filme e a de Ruth Negga (Identidade) para a merecida inclusão de Jessie Buckley (A Filha Perdida);
– Não tenho apreço por Duna, mas não faz sentido Denis Villeneuve ter sido esnobado em melhor direção. Afinal, como um filme com várias indicações técnicas e lembrado em melhor filme, montagem e roteiro não emplaca seu diretor?
– Para além da liderança com 12 indicações, Ataque dos Cães consagra Jane Campion como a primeira cineasta a conseguir uma segunda indicação em melhor direção (a anterior veio em 1994 por O Piano). Ao que tudo indica até aquui, o seu favoritismo e o do filme é absoluto.
INDICADOS AO OSCAR 2022
MELHOR FILME
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
O Beco do Pesadelo
Belfast
Drive My Car
Duna
King Richard: Criando Campeãs
Licorice Pizza
Não Olhe Para Cima
No Ritmo do Coração
MELHOR DIREÇÃO
Jane Campion (Ataque dos Cães)
Kenneth Branagh (Belfast)
Paul Thomas Anderson (Licorice Pizza)
Ryûsuke Hamaguchi (Drive My Car)
Steven Spielberg (Amor, Sublime Amor)
MELHOR ATRIZ
Jessica Chastain (Os Olhos de Tammy Faye)
Kristen Stewart (Spencer)
Nicole Kidman (Apresentando os Ricardos)
Olivia Colman (A Filha Perdida)
Penélope Cruz (Mães Paralelas)
MELHOR ATOR
Andrew Garfield (Tick, Tick… BOOM!)
Benedict Cumberbatch (Ataque dos Cães)
Denzel Washington (A Tragédia de Macbeth)
Javier Bardem (Apresentando os Ricardos)
Will Smith (King Richard: Criando Campeãs)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Ariana DeBose (Amor, Sublime Amor)
Aunjanue Ellis (King Richard: Criando Campeãs)
Jessie Buckley (A Filha Perdida)
Judi Dench (Belfast)
Kirsten Dunst (Ataque dos Cães)
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Ciarán Hinds (Belfast)
Jesse Plemons (Ataque dos Cães)
J.K. Simmons (Apresentando os Ricardos)
Kodi Smit-McPhee (Ataque dos Cães)
Troy Kotsur (No Ritmo do Coração)
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Belfast
King Richard: Criando Campeãs
Licorice Pizza
Não Olhe Para Cima
A Pior Pessoa do Mundo
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Ataque dos Cães
A Filha Perdida
Drive My Car
Duna
No Ritmo do Coração
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Drive My Car (Japão)
A Felicidade das Pequenas Coisas (Butão)
Fuga (Dinamarca)
A Mão de Deus (Itália)
A Pior Pessoa do Mundo (Noruega)
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Ascension
Attica
Fuga
Summer of Soul (… ou Quando a Revolução Não Pode Ser Televisionada)
Writing with Fire
MELHOR ANIMAÇÃO
Encanto
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
Fuga
Luca
Raya e o Último Dragão
MELHOR FOTOGRAFIA
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
O Beco do Pesadelo
Duna
A Tragédia de Macbeth
MELHOR TRILHA SONORA
Ataque dos Cães
Duna
Encanto
Mães Paralelas
Não Olhe Para Cima
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
“Be Alive” (King Richard: Criando Campeãs)
“Dos Oruguitas” (Encanto)
“Down to Joy” (Belfast)
“No Time to Die” (Sem Tempo Para Morrer)
“Somehow You Do” (Four Good Days)
MELHOR EDIÇÃO
Ataque dos Cães
Duna
King Richard: Criando Campeãs
Não Olhe Para Cima
Tick, Tick… BOOM!
MELHOR FIGURINO
Amor, Sublime Amor
O Beco do Pesadelo
Cruella
Cyrano
Duna
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
O Beco do Pesadelo
Duna
A Tragédia de Macbeth
MELHOR SOM
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
Belfast
Duna
Sem Tempo Para Morrer
MELHORES EFEITOS VISUAIS
Duna
Free Guy: Assumindo o Controle
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
Sem Tempo Para Morrer
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis
MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADOS
Casa Gucci
Cruella
Duna
Os Olhos de Tammy Faye
Um Príncipe em Nova York 2
MELHOR CURTA-METRAGEM
Ala Kachuu – Take and Run
The Dress
The Long Goodbye
On My Mind
Please Hold
MELHOR CURTA-METRAGEM (ANIMAÇÃO)
Affairs of the Art
Bestia
Boxballet
Robin Robin
The Windshield Wiper
MELHOR CURTA-METRAGEM (DOCUMENTÁRIO)
Audible
Lead Me Home
The Queen of Basketball
Three Songs for Ben Azir
When We Were Bullies