Nature has cunning ways of finding our weakest spot.
Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: James Ivory, baseado no livro homônimo de André Aciman
Elenco: Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo, Antonio Rimoldi, André Aciman, Peter Spears
Call Me By Your Name, Itália/França/Brasil/Estados Unidos, 2017, Drama, 132 minutos
Sinopse: O sensível e único filho da família americana com ascendência italiana e francesa Perlman, Elio (Timothée Chalamet), está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda quando Oliver (Armie Hammer), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai, chega. (Adoro Cinema)
Entre os diretores de língua não-inglesa que começam a fazer carreira internacionalmente, o italiano Luca Guadagnino desponta como um dos mais bem sucedidos e instigantes de se acompanhar. Se olharmos para trás, hoje percebemos que sua trajetória ascendente se desenhou de forma muito sutil, o que faz com que sua atual celebração com o drama Me Chame Pelo Seu Nome não pareça sorte repentina: com uma carreira que acumula vários curtas e documentários, Guadagnino já viajava o mundo em 2009, quando colocou Tilda Swinton para falar italiano em Um Sonho de Amor, ou até mesmo três anos atrás, ao unir forças novamente com Tilda no subestimado Um Mergulho no Passado, refilmagem de A Piscina que contava ainda com outros nomes de repercussão internacional (Ralph Fiennes, Matthias Schoenaerts e até Dakota Johnson em um momento bacana).
Mesmo munido de uma filmografia encorpada, o cineasta só foi abraçado com igual entusiasmo por prêmios, público e crítica com esse Me Chame Pelo Seu Nome, que chega aos cinemas brasileiros no próximo dia 18. E o que mais me toca entre os méritos que justificam o reconhecimento mais amplo é a forma como o filme trata o universo da sexualidade sem fazer dela uma questão. Aqui, são ensolaradas as vivências de cada descoberta do corpo, do amor, do sexo, da juventude e inclusive do doloroso processo de se tornar adulto. Tal perspectiva não deixa de ser uma herança — ou ao menos uma feliz coincidência — do drama Carol, que, dirigido por Todd Haynes em 2015, celebrava o nascimento do amor entre duas mulheres colocando o romance muito antes do drama, escolha que trazia uma perspectiva otimista e esperançosa para uma parcela do público retratada sempre de forma cômica ou trágica no cinema.
A lógica se repete em Me Chame Pelo Seu Nome, que, a partir do roteiro escrito por James Ivory com base no romance homônimo de André Aciman, em momento algum administra o desabrochar homossexual como o principal componente da tristeza de um personagem — aliás, se Elio (Timothée Chalamet, uma revelação) sofre, são por questões inerentes a qualquer ser humano em determinado momento da vida. Prova de que o longa é sabiamente desprovido de firulas acerca das problemáticas da homossexualidade é a doçura com que emerge uma conversa entre pai e filho, onde, em uma daquelas cenas de poucos minutos que atravessam milhares de universos, o próprio progenitor se confronta sobre o que é necessário para cada um ser feliz, autêntico ou ao menos em paz com os próprios rumos da vida.
É sutil ainda o desenho que Me Chame Pelo Seu Nome faz das primeiras experimentações sexuais de Elio, que, sim, se apaixona por Oliver (Armie Hammer), um homem mais velho, mas também se aventura em um relacionamento com uma menina que, não, não é a clássica situação em que um menino gay faz uma garota de boba enquanto tenta se descobrir. Elio tem afeto, desejo e interesse pelos dois. Tratando rupturas como processos naturais da vida, Me Chame Pelo Seu Nome captura a fase jovem da nossa existência com o espírito que ela merece, uma vez que o filme é vivo e veranil.
Todas essas qualidades me levam a não culpar tanto a construção de certa forma imperfeita do roteiro de James Ivory, que, durante basicamente toda a primeira metade, na ânsia de trabalhar a trabalhar a atração entre os dois rapazes com minúcias discretas, pouco envolve o espectador, fazendo com que ele só sinta a paixão de seus personagens quando eles de fato passam a consumir uma história de amor. Falta ali a mesma alquimia que existe depois, quando Elio e Oliver vivem um um romance e quando o filme nos mostra, em sua reta final, que certas coisas têm, de fato, a habilidade de descobrir os nossos pontos mais fracos — e que o que nos resta é, de alguma forma, tentar transformar isso em sabedoria.
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O filme é lindo, sobretudo a conversa entre pai e filho. Emocionante
Ana Lúcia, esse é o momento mais lindo do filme!
Infelizmente, ainda não assisti a “Me Chame Pelo Seu Nome”, mas as expectativas em relação ao filme são as melhores. Imagino que seja uma obra sensível e bonita.
Kamila, e ela é mesmo! Gosto especialmente do terço final do filme, que é tocante!