Rapidamente: “Certo Agora, Errado Antes”, “Corra!”, “Depois Daquela Montanha” e “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”

Narrando duas versões de uma mesma história de amor, Certo Agora, Errado Antes fala sobre reparações com delicadeza e bom humor.

CERTO AGORA, ERRADO ANTES (Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da, 2015, de Sang-soo Hong): Com delicadeza e bom humor, Certo Agora, Errado Antes fala sobre reparação usando uma estrutura que não deixa de testar o espectador em tempos em que a instantaneidade, o ritmo e e agilidade são tão reivindicados: aqui, acompanhamos duas versões de uma mesma história de amor, onde a grande sacada é justamente o roteiro mostrar como tudo na vida pode ser diferente a partir de decisões aparentemente corriqueiras. As diferenças entre as duas versões contadas ultrapassam o plano dos acontecimentos da história para brincar inclusive com a composição dos personagens, que se tornam pessoas completamente distintas quando enfrentam variações das mesmas situações. Até mesmo o ritmo de Certo Agora, Errado Antes se transforma entre os dois relatos, comprovando o talento do diretor Sang-soo Hong ao lidar com a proposta que foi trabalhada de perto com os atores: como forma de laboratório, os protagonistas só filmaram a segunda versão depois de assistir a primeira finalizada, com o objetivo de refletir afundo toda a composição do que ainda estava por ser rodado. Evocando os amores passageiros, por vezes impossíveis, que já foram belamente registrados em filmes mais recentes como Encontros e Desencontros e a trilogia Antes…, de Richard Linklater, Certo Agora, Errado Antes não deixa de, ao final da projeção e de sua própria maneira, também se tornar parte desse time.

CORRA! (Get Out, 2017, de Jordan Peele): Versando sobre o racismo em sua forma mais perigosa (a velada, onde uma família de classe alta formada apenas por pessoas brancas diz não ter preconceito algum, mas curiosamente só contrata empregados negros para cuidar da casa), Corra! é uma experiência reveladora tanto em termos de sua solidez como filme de gênero quanto das discussões que traz à tona como um filme de terror que ancora seu medo não necessariamente na ameaça de mortos, serial killers ou criaturas indecifráveis, mas na forma amedrontada e paranoica com que o protagonista se vê obrigado a viver como um jovem garoto negro em uma sociedade que pode ser terrivelmente cruel com a sua cor. Tudo é tão crível que logo embarcamos na insegurança do personagem, que namora uma menina branca e que a acompanha em um fim de semana onde finalmente será apresentado aos pais da garota. Tudo vai aparentemente bem, até que logo fatos estranhos começam a acontecer, e é a partir daí que Corra! se torna um exercício de terror instigante: indo da hipnose a macabros procedimentos cirúrgicos, o filme, comandado por uma direção surpreendentemente segura do comediante Jordan Peele em seu primeiro longa-metragem, foi abraçado pela crítica, mas nem tanto pelo público que, arrisco dizer, acabou não embarcando no projeto por ficar apenas no corriqueiro processo de desvendar um mistério quando, na realidade, deveria se colocar em outra perspectiva para compreender que Corra! só utiliza os elementos de terror para canalizar algo que vai muito além do simples entretenimento.

DEPOIS DAQUELA MONTANHA (The Mountain Between Us, 2017, de Hany Abu-Assad): O diretor israelense Hany Abu-Assad já chegou a concorrer duas vezes ao Oscar de melhor filme estrangeiro: em 2005, com Paradise Now, e em 2014, com Omar. Entre um e outro,, rodou longas entre a Palestina e a Grécia, chegando agora aos Estados Unidos com Depois Daquela Montanha, adaptação do best seller homônimo escrito por Charles Martin em 2010. Se já é comum diretores estrangeiros estrearem em Hollywood sem muita sorte do ponto de vista criativo, imagine, então, quando eles são indicados a comandar adaptações de best sellers. É definitivamente o caso de Depois Daquela Montanha, espécie de filme-sobrevivência com toques de romance que não chega a causar maior comoção, seja na paixão ou na adrenalina. Não há problemas em seguir o passo a passo de um determinado tipo de história – e é exatamente o que acontece aqui -, mas quando falta senso de diversão ou força dramática, a indiferença toma conta. Parte dessa sensação vem, por exemplo, das interpretações apenas corretas e sem muitas faíscas de Kate Winslet e Idris Elba e da possibilidade de prever todo o desenrolar da  principal jornada emocional do filme, que também dificilmente nos faz acreditar que algo realmente radical pode acontecer aos protagonistas. Em suma, tudo é muito linear e empacotado para uma carreira junto ao grande público, contribuindo para as experiências cada vez menos enérgicas que o cinema comercial tem nos proporcionado.

HOMEM-ARANHA: DE VOLTA AO LAR (Spider-Man: Homecoming, 2017, de Jon Watts): A nova aventura do mais famoso herói aracnídeo pode não ser uma revolução ou sequer se equivaler aos dois primeiros filmes dirigidos por Sam Raimi, mas, ao contrário das versões estreladas por Andrew Garfield e Emma Stone, esse reboot pode ao menos encher o peito para dizer que tem personalidade própria. Dois fatores importantíssimos contribuem para esse mérito. Primeiro, claro, é o fato de Homem-Aranha: De Volta ao Lar se negar a contar pela milésima vez toda a origem do protagonista. Nessa nova versão, Peter Parker já é um herói bem ciente de seus poderes e de suas responsabilidades, o que resulta em uma bela economia de tempo para o filme e para o próprio espectador (o que não quer dizer que o filme deixe de comentar eventualmente o passado do protagonista). E segundo é incorporar sua essência sem qualquer medo, assumindo ser um filme basicamente jovem, cômico e repleto de referências. Dessa forma, por mais simples, passageiro e pouco criativo que seja na prática, Homem-Aranha: De Volta ao Lar prefere ser muito bem endereçado a um respectivo público ao invés de simplesmente tentar se camuflar em um universo de adaptações de quadrinhos que tentam ser algo maior do que realmente são. Além de tudo, o jovem Tom Holland, que já era uma revelação desde os tempos de O Impossível, cai como uma luva para o papel, compensando os vazios da aventura (não existe aqui sequer uma cena de ação mais marcante) e provando que é mesmo um dos novos nomes de Hollywood que devemos acompanhar de perto.

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