We don’t leave Earth to be safe.
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Dante Harper e John Logan, baseado em história de Jack Paglen e Michael Green e nos personagens criados por Dan O’Bannon e Ronald Shusett
Elenco: Katherine Waterston, Michael Fassbender, Billy Crudup, Danny McBride, Demián Bichir, Jussie Smollett, Callie Hernandez, Carmen Ejogo, Amy Seimetz, Nathaniel Dean, Alexander England
Alien: Covenant, EUA, 2017, Ficção Científica, 122 minutos
Sinopse: 2104. Viajando pela galáxia, a nave colonizadora Covenant tem por objetivo chegar ao planeta Origae-6, bem distante da Terra. Um acidente cósmico antes de chegar ao seu destino faz com que Walter (Michael Fassbender), o androide a bordo da espaçonave, seja obrigado a despertar os 17 tripulantes da missão. Logo Oram (Billy Crudup) precisa assumir o posto de capitão, devido a um acidente ocorrido no momento em que todos são despertos. Em meio aos necessários consertos, eles descobrem que nas proximidades há um planeta desconhecido, que abrigaria as condições necessárias para abrigar vida humana. Oram e sua equipe decidem ir ao local para investigá-lo, considerando até mesmo a possibilidade de deixar de lado a viagem até Origae-6 e se estabelecer por lá. Só que, ao chegar, eles rapidamente descobrem que o planeta abriga seres mortais. (Adoro Cinema)
Há algo muito errado quando um diretor contribui para a destruição de um universo que ele próprio criou. Pois é definitivamente o que Ridley Scott faz em Alien: Covenant, o sexto filme envolvendo a franquia Alien, cujo primeiro capítulo chegou aos cinemas em 1979. Scott, que entregou a direção da franquia para James Cameron, David Fincher e Jean-Pierre Jeunet nas respectivas continuações (muitas delas irregulares), retomou o cargo em 2012 com Prometheus, propondo fazer um prequel da série. O projeto tem continuação agora com Alien: Covenant, supostamente responsável por complementar as discussões de Prometheus e ser uma ponte para o primeiro filme lançado na década de 1970. Lamentavelmente, Covenant é de uma arbitrariedade assustadora: além de não servir como obra de transição, tampouco se revela um passatempo que respeita os clássicos elementos que fizeram de Alien, o Oitavo Passageiro, um verdadeiro clássico. Vindo das mãos de um diretor estreante no universo, seria possível dar um desconto, mas, tratando-se de quem concebeu tudo de forma visionária há quase 40 anos, é realmente imperdoável.
Os problemas de Alien: Covenant começam já na concepção, onde o roteiro escrito pela dupla Dante Harper e John Logan é inexpressivo ao criar e desenvolver personagens. Partindo do pressuposto de que muitos deles passarão por poucas e boas ou até morrer em uma perigosa viagem interplanetária, é inadmissível que o texto não estabeleça qualquer laço entre eles e o espectador. Pior: não só os personagens transitam na história sem deixar impressão alguma, como também falham em apresentar qualquer traço de personalidade ou identidade – e é exatamente por isso que, quando revelada, a natureza homossexual de um dos tripulantes parece gratuita e oportunista. Considerando tempos em que Charlize Theron e Sandra Bullock marcam toda uma geração com personagens femininos bem explorados em filmes como Mad Max: Estrada da Fúria e Gravidade, Scott ainda sequer se dá ao trabalho de fazer jus às origens da franquia e nos convencer do poder feminino: mesmo esforçada, a protagonista vivida por Katherine Waterston (que era pura simpatia em Animais Fantásticos e Onde Habitam) não consegue segurar o filme, muito em função das oportunidades que nunca lhe são dadas por um roteiro fragilíssimo.
O desperdício da figura feminina nos leva a outro defeito de Covenant: a dispersão da história. Se Waterston não tem como brilhar no papel da tripulante Daniels, isso tem muito a ver com o fato dos acontecimentos serem excessivamente centrados na figura do androide David, vivido por Michael Fassbender. Por si só, o destaque do personagem já faz com que o roteiro se afaste da ideia de trabalhar a mitologia envolvendo todo o medo e o terror causado pelo monstrengo Alien, mas a situação piora porque as motivações de David (e principalmente dos conflitos que ele enfrentará posteriormente ao encontrar Walter, um semelhante de sua espécie) são desinteressantes e principalmente fracas demais para sustentar um filme da dimensão de Covenant. A limitação do texto se estende ao trabalho estético da obra: ambientada em um planeta que tem paisagens facilmente reconhecíveis (rios, árvores, montanhas), a ficção pouco instiga visualmente e colabora para a sensação de que o diretor Ridley Scott de fato dirigiu a obra no piloto-automático, reforçando a ideia de que sua carreira, apesar de repleta de filmes marcantes (Thelma & Louise! Blade Runner!), é também marcada por longas sem identidade.
Entre as decepções trazidas pelo retorno ao universo Alien, nenhuma, contudo, é maior do que a falta de clima em relação ao personagem-título. Ao cometer o mesmo erro de boa parcela de exemplares de terror, o filme mostra mais do que deveria, tornando Alien uma figura gráfica demais. O maior medo é aquele que a nossa própria mente cria, tese defendida e aplicada com grande talento pelo longa de 1979 e que aqui parece ser completamente ignorada. Encantado com o poder da tecnologia, Scott faz questão de mostrar Alien em suas mais diversas formas, além de capturá-lo em cada detalhe, cada passo, cada movimento. Com isso, vem uma artificialidade que castra qualquer possibilidade do espectador ter medo de um personagem que não parece natural até mesmo dentro de suas fronteiras. Em suma, Alien: Covenant falha na tentativa de ser qualquer tipo de filme. Por isso mesmo é de se agradecer que o canadense Dennis Villeneuve esteja no comando da sequência de Blade Runner no lugar de Ridley Scott. Afinal, seria difícil demais vê-lo sabotando, em um mesmo ano, dois universos fascinantes criados por ele próprio.
Uma pena que Ridley Scott tenha perdido a mão neste filme. As opiniões que tenho lido sobre “Alien: Covenant” têm sido suficientes para não me deixar com a mínima vontade de conferir o longa.
Kamila, e quanto mais o tempo passa, pior fica a impressão sobre esse filme. Sem falar que já nem lembro mais nada sobre ele!