You only have to forgive once. To resent, you have to do it all day, every day.
Direção: Derek Cianfrance
Roteiro: Derek Ciafrance, baseado no livro homônimo de M.L. Stedman
Elenco: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz, Florence Clery, Jack Thompson, Thomas Unger, Jane Menelaus, Garry McDonald, Anthony Hayes, Benedict Hardie, Emily Barclay, Bryan Brown
The Light Between Oceans, Reino Unido/Nova Zelândia/EUA, Drama, 133 minutos
Sinopse: Austrália, após a Primeira Guerra Mundial. Tom Sherbourne (Michael Fassbender) é um veterano da guerra contratado para trabalhar em um farol, que orienta os navios exatamente na divisão entre os oceanos Pacífico e Índico. Trata-se de uma vida solitária, já que não há outras casas na ilha. Ao chegar Tom é apresentado a Isabel Graysmark (Alicia Vikander), com quem logo se casa. O jovem casal rapidamente tenta engravidar, mas Isabel enfrenta problemas e perde dois bebês – o que, inevitavelmente, provoca traumas. Até que, um dia, surge na ilha em que vivem um barco à deriva, contendo o corpo de um homem e um bebê. Tom deseja avisar as autoridades do ocorrido, mas é convencido por Isabel para que enterrem o falecido e passem a cuidar da criança como se fosse sua filha, já que ninguém sabia que ela tinha tido um aborto. Mesmo reticente, Tom concorda com a proposta. (Adoro Cinema)
Afeito a dirigir histórias de autoria própria, o diretor e roteirista Derek Cianfrance resolveu fazer algo diferente e trabalhar pela primeira vez com a adaptação de um material já existente. Ele, que recebeu reconhecimento internacional com o forte Namorados Para Sempre e o subestimado O Lugar Onde Tudo Termina, não poderia, por outro lado, ter escolhido um caminho mais atípico para sua nova experiência. Desconheço o conteúdo literário do romance A Luz Entre Oceanos, lançado por M.L. Steadman em 2012, mas, considerando o que Cianfrance coloca na tela, fica evidente que o material é um desvio de percurso na carreira de um profissional que vinha construindo uma carreira formada por obras criativas e até mesmo subversivas.
Antes das discussões envolvendo sua qualidade, A Luz Entre Oceanos ganha manchetes por ser a obra que juntou o casal Alicia Vikander e Michael Fassbender na vida real, e não deixa de estar evidente, ao longo da projeção, que o casal realmente tem uma boa química, mas o que causa estranhamento mesmo é o tom altamente novelesco e melodramático do filme. Não há problema algum em abordar uma história sob esse viés quando existe emoção, originalidade ou simplesmente uma força maior do que a média para encenar situações convencionais. O que acontece é que A Luz Entre Oceanos se revela previsível do início ao fim com um material frágil demais para sustentar um longa que excede 130 minutos. Afinal, tudo o que é desenvolvido está, sem tirar nem por, na sinopse. Não há qualquer desdobramento mais complexo ou leituras reveladoras, frustrando quem espera, a cada cena, por uma reviravolta diferente das que podemos prever a anos luz de distância. Reviravolta essa que, infelizmente, nunca chega.
Por mais que a forma clássica e novelesca não seja uma grande aptidão de Cianfrance, A Luz Entre Oceanos consegue criar boas expectativas em seu primeiro terço. Muito se deve à construção do romance entre os protagonistas Tom Sherbourne (Fassbender) e Isabel Graysmark (Vikander), duas pessoas solitárias em suas particularidades e que possuem em comum a tragédia: enquanto ele ainda enfrenta os fantasmas da Primeira Guerra Mundial, ela é a única filha que sobreviveu entre as fatalidades envolvendo os irmãos. Cianfrance sabe construir esse romance que acalanta duas vidas marcadas pela dor, aí sim se utilizando da melhor maneira possível das ferramentas melodramáticas para envolver o espectador, indo do clássico beijo no alto de uma montanha à delicadeza de um cotidiano repleto de carinho mesmo nos afazeres mais corriqueiros. O elenco também ajuda, pois Fassbender acerta na composição de um homem cujo semblante reprimido já conota uma história de dores, ao passo que Vikander é muito feliz na criação de uma personagem que floresce para o amor e depois muda conforme as alegrias e dificuldades dele.
Da elaboração desse romance em diante, A Luz Entre Oceanos só se enfraquece ao desperdiçar boas possibilidades, como trabalhar a desconstrução do romance do casal a partir de um cotidiano isolado em uma ilha ou de tornar mais complexas mudanças de personalidade que, ao invés de ampliarem o que conhecemos de dados personagens, apenas os tornam aborrecidos. Um exemplo disso é o próprio Tom de Fassbender, cujas crises de consciência acerca de uma importante escolha feita com a esposa nunca soam sofisticadas como mereciam. Tudo coopera para que o filme seja uma bonita novela das seis: Vikander e Fassbender são lindos, a fotografia exalta as belas locações, a reconstituição de época é digna e até a trilha de Alexandre Desplat colabora para as lágrimas que muitos devem deixar cair no desfecho. Porém, lembrando de toda emoção franca e madura de Namorados Para Sempre e dos três atos surpreendentes de O Lugar Onde Tudo Termina, falta mesmo algum tipo de vigor para A Luz Entre Oceanos. Aliás, o que falta mesmo é Derek Cianfrance. Espero reencontrá-lo em breve.