Invocação do Mal 2

Does it feel like it’s coming from inside of you?

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Direção: James Wan

Roteiro: Carey Hayes, Chad Hayes, David Johnson e James Wan, baseado em história de Carey Hayes, Chad Hayes e James Wan

Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Madison Wolfe, Frances O’Connor, Franka Potente, Lauren Esposito, Benjamin Haigh, Patrick McAuley, Simon McBurney, Maria Doyle Kennedy, Simon Delaney

The Conjuring 2, EUA, 2016, Terror, 134 minutos

Sinopse: Sete anos após os eventos de Invocação do Mal (2013), Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson) desembarcam na Inglaterra para ajudar uma família atormentada por uma manifestação poltergeist na filha. A trama é baseada no caso Enfield Poltergeist, registrado no final da década de 1970. (Adoro Cinema)

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Quando estreou em 2013, Invocação do Mal fez merecido barulho entre os fãs (e leigos) de terror. Simples, mas extremamente eficaz ao utilizar competentemente as ferramentas básicas do gênero para causar medo (a porta que bate, o pássaro que derruba um copo, a janela que quebra), o longa, que faturou nove vezes mais do que o seu orçamento de 20 milhões de dólares ao redor do mundo, alcançava tal excelência pelo gabarito de seu diretor, o malaio James Wan, responsável por outro marco recente do terror: o primeiro Jogos Mortais. Entre o Invocação do Mal original e este segundo que chega agora aos cinemas cercado de expectativas e boas críticas, Wan engordou a poupança com o sucesso financeiro estrondoso de Velozes & Furiosos 7. Ele chegou a ser convocado para o oitavo, mas recusou a fortuna que, segundo ele, “mudaria uma vida” para voltar às origens e realizar Invocação do Mal 2. É bom ter James Wan de volta, por mais que, nessa sequência, ele mostre muito mais do que deveria.

O terror é sempre uma viagem muito pessoal porque cada um se amedronta com aquilo que mexe com imaginários particulares. Do lado de cá, sou adepto a tudo aquilo que está escondido e que nossa mente está disposta a criar. Dessa forma, ainda que o primeiro Invocação do Mal trate de um tema, digamos, expositivo (as famosas possessões por espíritos), Wan conseguia deixar boa parte do serviço para a nossa própria paranoia, camuflando aquilo que de fato está atormentando os personagens. Era isso que engrandecia a produção original e que, curiosamente, não é retomado à risca nessa continuação. Em Invocação do Mal 2, o diretor segue se esmerando em cenas perfeitamente climáticas e envolventes, enquanto, por outro lado, perde pontos ao tornar sua história muitos mais verbal, barulhenta e visual se comparada ao que realizou em 2013 e a tantos exemplares do gênero que acreditam que a elevação do tom é garantia de pavor da plateia. Um erro no mínimo amador para um profissional tão esperto.

O contexto de Invocação do Mal 2 é basicamente o mesmo do filme anterior (e, nessa comparação, podemos dizer que essa é uma obra de poucas inovações), trocando apenas o cenário: dessa vez, vamos para a Inglaterra dos anos 1970, onde somos apresentados ao famoso (e verídico) caso de possessão de Enfield Poltergeist. O clima britânico ajuda bastante, uma vez que, das locações ao sotaque dos novos atores, tudo parece mais real ao nos distanciarmos do cinema estadunidense que tanto explora o terror. Claro que Patrick Wilson e Vera Farmiga continuam em cena (aliás, ela, que se especializou em conviver com o suspense e o bizarro na série Bates Motel, é particularmente eficiente), mas a sequência se torna mais realista ao fazer essa troca de ares. Invocação do Mal 2 ainda potencializa seu tino para o suspense ao colocar na tela um design de produção minucioso que as moradias europeias com uma leitura profundamente soturna e as cores sempre gélidas e nada aconchegantes da fotografia assinada pelo experiente Don Burgess (Forrest Gump – O Contador de HistóriasNáufrago, o primeiro Homem-Aranha de Sam Raimi) que casam perfeitamente com todas as outras ferramentas devidamente alinhadas por James Wan.

A ruptura que acontece rumo à excelência total está em um detalhe aparentemente corriqueiro, mas decisivo para Invocação do Mal 2 – e ele é, como já citado nesse texto, o tom mais elevado empregado aqui. Logo na ótima sequência de abertura já é possível constatar que James Wan decidiu ser mais expositivo, e a sensação só é reforçada dali em diante: ao longo de suas extensas duas horas de duração, o filme não hesita ao materializar na tela medos que deveriam ser desenhados pela nossa imaginação, como a construção de figuras digitais para nos assombrar (algo que destruiu o péssimo Mama, por exemplo). Isso acaba se refletindo na própria estrutura, que, já um tanto repetitiva ao mostrar constantemente uma noite repleta de acontecimentos estranhos na casa da família, se dilui ao mostrar, por exemplo, um boneco gigante feito em computador arrastando uma criança com um guarda-chuva. Na raiz desse gênero tão pessoal, Invocação do Mal 2 faz uma escolha comercial assumidamente óbvia (afinal, o grande público prefere a grandiloquência à discrição) e que pode ser bastante decisiva para espectadores como eu, que se distanciam do terror justamente pela previsibilidade e falta de identificação. James Wan continua grande como artista do medo em muitos aspectos. No entanto, é de se pensar que, criativamente, continuações possam amortecer sua visão artística.

2 comentários em “Invocação do Mal 2

  1. Confesso que não assisti ao primeiro filme. Por isso mesmo, não devo conferir esse segundo… Mas, amigos que assistiram ao primeiro filme, elogiaram bastante a continuação!

    • Kamila, gosto muito do primeiro filme, mas a mudança de tom para um suspense mais gráfico foi crucial para eu não gostar tanto dessa continuação…

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